Em vez de ir “à bola” com Costa, Centeno regressou à aldeia da meninice
Na igreja de Giões, no concelho de Alcoutim, em homenagem ao ministro das Finanças, iluminaram a Nossa Senhora da Assunção.
Mário Centeno cumpriu a promessa. O ministro das Finanças regressou à aldeia de Giões, Alcoutim, para matar saudades de outros tempos. Aqui aprendeu a beber a água das fontes e a apanhar amêndoas com o avô. “É sempre importante ir aos sítios”, disse, ao entrar na sede da junta de freguesia. Carminha e Constança, “primas” do ministro, recordaram a família Centeno: “Boas pessoas, gente simples.” O presidente da junta, José Afonso, aproveita a deixa: “O bisavô do senhor ministro, José Centeno Passos, foi presidente da Câmara de Alcoutim.”
O ministro, acompanhado da mulher e dos filhos, chegou ao final da tarde deste domingo, despido das vestes formais. O benfiquista confesso não foi ao Algarve ver o Benfica-Sporting da final da Supertaça. “Vamos ficar por aqui, a ver à distância”, disse. O jogo decorreu no Estádio Algarve, onde esteve António Costa. Centeno optou por ficar na feira de Giões, a jantar gaspacho com sardinhas assadas. A animar a festa esteve o grupo de cantares alentejanos de Serpa, sublinhando o toque de ruralidade que se respira neste lugar do Nordeste algarvio, com o Guadiana ali tão perto.
No percurso pelas ruas da aldeia, em jeito de visita de estudo, José Afonso fez de guia e lembrou pessoas e lugares. “Esta era a casa do seu avô”, disse. A igreja, pintada de novo, está ao fundo. O autarca sugere uma visita. Cármen (Carminha, como é conhecida) apressa-se a entrar para acender as luzes. “Tirei uma fotografia com o meu primo ministro”, confidenciou, depois de ter ido ligar um holofote para iluminar, de forma destacada, a Nossa Senhora da Assunção.
Em declarações ao PÚBLICO, Centeno recorda a meninice: “Lembro-me de ir buscar água [à fonte], não havia água canalizada – mas tive uma experiência rica junto das pessoas.” A prima Ana Constança pergunta-lhe pelo irmão. Centeno responde que “estão todos bem”, incluindo as suas duas irmãs mais novas. Em ambiente familiar, o presidente da junta aproveita para dizer que tem um projecto de habitação para atrair jovens ao interior. “Pois, terreno aqui não falta”, diz o ministro, sublinhando o despovoamento destas zonas do interior, mas sem se comprometer com financiamentos.
O médico da terra, Óscar Oliveira, reformado, comenta: “As visitas dos ministros deveriam ser todas assim, informais, sem gravata.” Quando ali chegou, em 1981, recordou, veio “pelo programa de Apoio Médico à Periferia”. O presidente da Câmara de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, socialista, remata: “É o que temos falta!” António Horta Miguel, de 76 anos, aproxima-se do ministro, para lhe confidenciar: “Comprei a casa que era do seu avô.” As duas primas de Centeno fazem questão que entre nas suas habitações e que se deixe fotografar em ambiente familiar. O governante não se faz rogado e apresenta a mulher e os filhos.
O director nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), José Moreira, também de Giões, apresenta o seu tio José Gonçalves, que foi presidente da junta de freguesia pela CDU. “Tenho uma cerca que foi do seu avô”, diz o ex-autarca. As lembranças vão surgindo, uma a uma, como se fossem figos maduros.
“É a primeira vez que venho aqui em visita oficial, mas já estive em Alcoutim, no Festival do Contrabando”, declarou ao PÚBLICO, reconhecendo que a iniciativa teve o seu quê de original. “Não deixa de ser interessante, para um ministro das Finanças”, observou. Por fim, questionado pelo PÚBLICO sobre se a corrida à liderança do FMI estaria ultrapassada, repetiu: “Estamos interessados em cumprir o mandato, como sempre disse.”