Governo afasta director de organismo que mede desflorestação na Amazónia

Bolsonaro tinha dito que os dados revelados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que mostravam um ritmo acelerado de desflorestação, são “mentirosos”.

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Área desflorestada da Amazónia no Mato Grosso para ser usada para plantação de soja Paulo Whitaker / Reuters

O director do organismo responsável por monitorizar a desflorestação na Amazónia, Ricardo Galvão, revelou que vai ser exonerado pelo Governo, depois de o Presidente, Jair Bolsonaro, ter posto em causa o trabalho do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais​.

À saída de uma reunião em Brasília, Galvão anunciou que vai ser afastado da chefia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “As minhas declarações sobre o Presidente geraram constrangimento, então eu serei exonerado”, disse Galvão aos jornalistas, citado pelo site G1. O responsável esteve reunido com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

A demissão de Galvão não surge como uma surpresa, especialmente depois de ter rejeitado publicamente as críticas de Bolsonaro aos dados apresentados pelo instituto.

A medição mais recente, realizada através de imagens de satélite que comparam a mancha de floresta entre dois períodos distintos, mostra que no último ano a Amazónia perdeu quase seis mil quilómetros de área florestal, o que representa uma subida de 40% do ritmo de desflorestação.

Em reacção à publicação do estudo, Bolsonaro disse que os dados eram “mentirosos” e acusou o presidente do instituto de estar “ao serviço de uma ONG (organização não-governamental)”.

Galvão veio a público defender o trabalho do INPE, recordando que estas medições são feitas há três décadas e representam “a maior série histórica de dados de desflorestação de florestas tropicais respeitada mundialmente”. O dirigente comparou o comportamento de Bolsonaro ao de alguém que está num “botequim” (uma tasca). “Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um Presidente da República fazer”, disse Galvão na semana passada.

O Governo de Bolsonaro fez do apoio à produção agrícola e à exploração mineral na Amazónia uma prioridade, mas não esconde o desconforto com a publicação dos dados de desflorestação. Numa conferência de imprensa esta quinta-feira, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general reformado Augusto Heleno, aconselhou prudência na revelação de informações deste género porque “prejudicam o comércio e nos colocam como os grandes destruidores do meio ambiente da humanidade”.

Segundo a imprensa brasileira, o Ministério do Ambiente está a ponderar contratar um novo serviço para fazer a monitoração da desflorestação na Amazónia.

Existem actualmente dois sistemas que fornecem indicações sobre a progressão da desflorestação na Amazónia – considerada um indicador a nível mundial para a degradação ambiental. Em causa está a Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que faz uma comparação mensal entre manchas de floresta, e que tem a principal função de servir como um alerta para taxas elevadas de desflorestação. O outro sistema é o Programa de Monitoramento da Floresta Amazónica Brasileira por Satélite (Prodes), que produz uma comparação anual e tem maior resolução.

O Governo brasileiro sugere que apenas se tirem conclusões sobre o nível de desflorestação a partir deste último.

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