Acervo do Museu Colecção Berardo inventariado após arresto
O museu instalado no Centro Cultural de Belém recebeu esta quarta-feira a visita de uma equipa que esteve a identificar as obras ali depositadas. Assessor do empresário mantém que este ainda não foi notificado.
As obras expostas no Museu Berardo, instalado no Centro Cultural de Belém, estiveram esta quarta-feira a ser inventariadas na sequência do arresto judicial da colecção, solicitado pelos três bancos credores do empresário madeirense: a Caixa Geral de Depósitos, O BCP e o Novo Banco.
À medida que a equipa que realizava este trabalho, munida de um computador, de uma máquina fotográfica e de dossiers em papel, ia percorrendo as várias salas onde está exposto o importante acervo de arte contemporânea reunida por Joe Berardo, estas divisões iam sendo vedadas aos visitantes e à imprensa, medida que só terá sido accionada quando os responsáveis do museu se aperceberam da presença de jornalistas.
Contactado pelo PÚBLICO, o assessor de imprensa do empresário José Berardo escusou-se a confirmar a existência de diligências relacionadas com o arresto da colecção no Museu Berardo. “Oficialmente, não fomos notificados de qualquer arresto, nem das casas [na Lapa e na Avenida Infante Santo], nem do palácio na Madeira [Monte Palace, Funchal], nem das obras de arte”, disse o colaborador de Joe Berardo ao início da tarde desta quarta-feira. “Não vamos comentar nada porque, até agora, só fomos ‘notificados’ pela comunicação social.”
Para já, o que este assessor do empresário pode dizer é que, se e quando a notificação chegar, “o comendador vai com certeza exercer os seus direitos”. Questionado sobre se esse exercício passará por uma providência cautelar para suspender a decisão do tribunal, a mesma fonte acrescentou apenas: “Usaremos os instrumentos que estiverem ao nosso alcance. Não posso dizer mais do que isto porque, formalmente, desconhecemos qualquer arresto e, naturalmente, os seus termos.”
O PÚBLICO procurou ainda falar com o director-geral e a directora artística do Museu Berardo, Pedro Bernardes e Rita Lougares, respectivamente, mas todos os esclarecimentos foram remetidos para o assessor de imprensa já citado. E no CCB também ninguém se quis pronunciar sobre as diligências em curso.
Como o PÚBLICO avançou na segunda-feira, o arresto da colecção Berardo resultou de uma iniciativa dos bancos credores, que decidiram depositar nas mãos do Estado a salvaguarda destas obras de arte, que são propriedade da Associação Colecção Berardo e que estão desde 2006 no CCB, através de protocolo assinado entre esta associação, Joe Berardo e a então ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, entretanto renovado por mais seis anos.
O arresto agora decretado enquadra-se no processo judicial interposto contra Joe Berardo pelos três bancos credores, aos quais o empresário deve, no total, quase mil milhões de euros, e visa assegurar a integridade da colecção enquanto se aguarda uma decisão dos tribunais.
Esta decisão vem na sequência da penhora dos títulos da Associação Colecção Berardo, decretada no início de Julho, mas que não abrangeu o património artístico de que a associação é proprietária.
A solução agora encontrada, que prevê que o Estado continue a suportar os custos da manutenção da colecção, nomeadamente os seguros, foi objecto de negociações entre os bancos e o Governo, que mobilizou para a resolução deste problema, segundo o PÚBLICO apurou, o ministro das Finanças, Mário Centeno, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, o ministro-adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e a ministra da Justiça, Francisca van Dunem.
O arresto das obras de arte do empresário José Berardo não põe em causa a existência do Museu Colecção Berardo, garantiu já à Lusa Graça Fonseca, que optou por não comentar as diligências em curso no CCB. “Para que a decisão do tribunal seja verdadeiramente eficaz, há um conjunto de iniciativas que o tribunal tem de fazer. (...) Nesta fase qualquer palavra a mais pode estragar tudo”, disse a ministra à margem de um almoço/debate sobre cultura e economia, em Lisboa.
Segundo o seu gabinete, Graça Fonseca vai pronunciar-se “em breve” sobre todo este processo, que implica alterações na relação do Estado com aquele que será o mais importante e o mais abrangente núcleo de arte do século XX em Portugal. A colecção, que hoje tem mais de mil obras, foi avaliada em 2006, quando reunia 862 peças (pintura, escultura, instalação, fotografia), em 316 milhões de euros.