Filipe Gaivão pedalou 120km todos os dias, “uma loucura” e sinal de alerta para a esclerose múltipla
Ciclista explicou como conheceu vários doentes de esclerose múltipla, em tratamento em várias unidades hospitalares e associações.
Entre Bruxelas e Lisboa, Filipe Gouveia percorreu 120 quilómetros por dia, perto de oito horas a pedalar para apoiar doentes com esclerose múltipla, mas o ciclista considerou que “valeu a pena em todos os aspectos”.
Filipe Gouveia saiu de Bruxelas, capital da Bélgica, no dia 10 de Julho. Ao início da tarde deste domingo, cerca de 2.400 quilómetros e 19 dias depois, chegou a Lisboa, mais precisamente à sede da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), que lhe lançou o desafio.
O ciclista era esperado, à porta da SPEM, por algumas pessoas que lhe deram os parabéns e o consideraram mesmo “um verdadeiro herói”. Para assinalar o feito, foi presenteado com uma roda de bicicleta adornada com fotografias.
Em declarações à agência Lusa, o ciclista indicou que percorreu “todos os dias cerca de 120 quilómetros, uma média um bocadinho alta, mas que valeu a pena” e permitiu “demonstrar que é possível”.
“Foi uma volta à França, foi uma coisa assim do género, uma loucura, mas que valeu a pena. Valeu a pena porque chegar aqui e ter uma recepção aqui em Lisboa, com tantas pessoas que estão tão felizes por eu ter feito isto, se fosse preciso, voltava até lá outra vez”, admitiu.
Apesar do esforço, Filipe Gouveia referiu que “a principal força” foi buscá-la a todos os doentes que conheceu ao longo do caminho. “Às vezes tinham mais dificuldade em estar a ver-me no seu dia-a-dia, do que eu a pedalar aqueles quilómetros todos”, afirmou.
Por isso, desistir não era uma hipótese que colocasse em cima da mesa.
“Isso é uma coisa que nunca me pode passar pela cabeça”, vincou, apontando que se isso acontece “nem sequer começava” esta jornada. “Nem que partisse um braço e tivesse que pôr um gesso, eu teria de continuar”, porque “para a frente é que era o caminho”, reforçou.
Desta viagem, Filipe Gouveia guardará peripécias, como aquela vez em que uma pessoa saltou de uma varanda e lhe caiu “literalmente em cima”. A meteorologia e a bicicleta, com uma bandeira que anunciava a causa e o desafio, também deram uma ajuda.
“Eu nem um furo tive, nada, a bicicleta portou-se maravilhosamente. Tive muita sorte também com o tempo, com a temperatura, com o vento”, adiantou, lembrando que só teve “dois dias maus”. Por isso, considerou, “felizmente” não se pode queixar porque “valeu a pena em todos os aspectos”.
Questionado sobre a maior dificuldade que enfrentou, o ciclista elegeu a solidão até mais do que as dores que, apesar de se fazerem sentir, não o levaram a parar. “Estive 14 dias sozinho, depois já tive alguma companhia, mas nos primeiros 14 dias a solidão pesa muito”, pois “estar sozinho na estrada durante oito horas em média é muito difícil, custa muito, o tempo não passa e esse é o principal problema”, assinalou.
Apesar das diversidades, esta jornada cumpriu o seu propósito e permitiu a Filipa trocar “muita experiência não só em França, como em Espanha e aqui em Portugal com doentes, com associações, com organizações que mostraram que há muito que se pode fazer ainda e muito que deve ser feito ao nível do tratamento, mas também do dia-a-dia destes doentes nas empresas, nos seus locais de trabalho, para que possam ter uma vida um pouco melhor”.
“Já fui passando [a mensagem], mas obviamente teremos mais conversas para mostrar algumas coisas que foram feitas e, acima de tudo também, aquilo que foi feito em Bruxelas, no Parlamento Europeu, entre a plataforma europeia da esclerose múltipla e os nossos deputados, que estiveram presentes no primeiro dia e que espero que continuem a trabalhar no bom sentido para que esta doença seja melhor tratada do que é hoje em dia”, acrescentou.
Filipe Gouveia, que pedala por causas sociais desde 2012, assinalou que a esclerose múltipla - patologia crónica e auto-imune, que afecta mais 8.000 pessoas em Portugal - “é uma doença silenciosa, muitas vezes não se vê, e os doentes acabam por não ser compreendidos porque, aparentemente, muitas vezes têm um aspecto perfeitamente normal”.