Mortes de condutores de motociclos diminuem. É o regresso a uma “certa ‘normalidade’”
Em 2017 o número de vítimas mortais em acidentes de moto foi o mais elevado desde 2011. Agora, voltou a diminuir, mas será fruto de uma oscilação normal dos números, não de medidas específicas.
Depois de, entre 2016 e 2017, o total de vítimas mortais em acidentes com motociclos ter mais do que duplicado (de 43 para 93), em 2018 voltou a descer. Segundo a contabilização da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) no ano passado morreram 74 pessoas na sequência deste tipo de sinistro. É uma redução de 20%.
Estes dados dizem respeito às vítimas que morrem até 24 horas após o acidente.
No início do ano passado, face ao aumento do número de mortes em acidentes com motociclos — relevado nas estatísticas da ANSR relativas a 2017 —, o ministro da Administração Interna declarou que seria necessário “repensar" a dispensa de formação para os condutores com carta de ligeiros que querem conduzir motas até 125cm3, bem como tornar obrigatórias as inspecções periódicas para as motas com mais de 250cm3. A primeira medida ainda não avançou e a segunda está dependente da publicação de uma portaria, “que aprove a respectiva calendarização”, lê-se no site do Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT).
O PÚBLICO questionou o Ministério da Administração Interna sobre o ponto de situação da aplicação destas medidas, mas não obteve resposta.
“Nem campanhas, nem alterações de formação. Não tenho conhecimento de medidas que tenham sido especificamente lançadas para este target. Acho que isto é fruto das oscilações. Não de medidas concretas”, diz o director-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) Alain Areal.
O responsável lembra que os números têm oscilado ao longo dos anos. E lança uma possibilidade: “As oscilações podem estar relacionadas com a utilização de motociclos e o número de quilómetros percorridos.” As condições atmosféricas também devem ser tidas em conta, uma vez que “há muitos [motociclistas] que só utilizam quando está bom tempo”.
Para João Queiróz, presidente da Associação Estrada Mais Segura, os números de 2018 são "o retorno a uma certa ‘normalidade’, que tinha sido brutalmente interrompida [em 2017]” — em média, entre 2010 e 2018, morreram 77 pessoas em acidentes com motociclos.
Mesmo assim, uma vez que Portugal tem um “índice de utilização de motociclos reduzido, esta pode vir a ser uma questão ainda mais relevante com o passar dos anos”, lembra o responsável da PRP.
Mais acidentes
Os dados da ANSR mostram ainda que os motociclos (com mais de 50cm3 de cilindrada) são o tipo de veículo mais envolvido em acidentes por cada 1000 do mesmo tipo em circulação: são 27. O número de veículos deste tipo envolvidos em acidentes passou de 5758, em 2017, para 6011, em 2018.
As colisões (3705) são o tipo de acidente em que os motociclos mais estão envolvidos, seguem-se os despistes (2134) e os atropelamentos (172).
Quanto à idade do veículo, mais de um terço dos motociclos envolvidos em acidentes tinha menos de quatro anos em 2018. O número é superior ao de outras categorias. Nos veículos ligeiros só 16% dos acidentados têm menos de quatro anos; nos veículos pesados só 17% está nesta faixa etária; e nos ciclomotores esta proporção fica-se pelos 15%.