Jazz em Agosto: música em ebulição para transformar o mundo
A 36.ª edição tem mote definido: “Música para que tudo não fique na mesma”. Será uma edição sob o signo da resistência e da revolução (estética, cultural, social). Nicole Mitchell e os Heroes Are Gang Leaders, dois dos destaques, falam ao Ípsilon. “O pensamento hierárquico é a fonte de todo o mal”, diz-nos ela. “Porque não criar uma arte que possa acabar com a luta?”, questionam os segundos
Billie Holiday a cantar “Southern trees bear a strange fruit/ Blood on the leaves and blood at the root” em 1939, quando a violência racista continuava a reclamar vítimas no seu país, quando, do outro lado do Atlântico, se punha em marcha a máquina de guerra que engoliria o mundo inteiro. Ornette Coleman, 20 anos depois, a anunciar a revolução estética: The Shape of Jazz to Come. Nina Simone a exclamar Mississipi goddamn em 1964, voz unida à dos milhões que se juntariam ao movimento pelos direitos civis, corpo com corpo na rua, perante as armas da polícia e os esgares de ódio dos que insultavam nos passeios. O alemão Peter Brötzmann a reunir à sua volta sete co-conspiradores europeus para, com Machine Gun, em 1971, adicionar um novo dialecto ao free jazz, feito de matéria incandescente e incontida fúria criativa.
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