A ida à Lua não foi um embuste. Quatro teorias da conspiração, quatro explicações

Do tremular da bandeira à ideia de que foi tudo gravado num estúdio, o PÚBLICO desmonta quatro dos argumentos usados por quem não acredita que o homem foi à Lua.

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O astronauta norte-americano Buzz Aldrin ao lado da bandeira norte-americana Reuters/NASA NASA

No dia 20 de Julho de 1969, o homem chegou a Lua pela primeira vez e fez-se história – ainda que muitos não acreditem que tal tenha verdadeiramente acontecido. A missão espacial Apolo 11 só levou três pessoas à Lua – Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins –, mas envolveu mais de 400 mil pessoas em todo o planeamento do complexo e dispendioso projecto. Estava-se em plena corrida espacial contra a União Soviética, que foi a primeira nação a chegar à superfície lunar em 1959, com a sua missão não tripulada Luna 2. E só foi precisa uma pessoa, de seu nome Bill Kaysing, para começar a espalhar o boato de que tudo tinha sido mentira.

O norte-americano Bill Kaysing era um antigo oficial da Marinha e chegou a trabalhar durante sete anos (entre 1956 e 1963) na empresa que ajudou a fabricar os motores do foguetão Saturno V, usado nas missões Apolo. Juntando ao baralho um certo sentimento de desconfiança em relação ao governo norte-americano, Kaysing jogou essa sua experiência como trunfo, alegando ter tido acesso a informação interna secreta – e manteve a sua posição até morrer, em 2005. A sua mensagem era clara e deu título ao livro que escreveu em 1976: Nunca Fomos à Lua: A Fraude de 30 mil milhões de dólares da América. Muitas das teorias da conspiração que ainda perduram hoje tiveram origem nas ideias de Kaysing.

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A marca de uma bota da missão Apolo 11 na superfície lunar NASA

As teorias são muitas, e a maior parte delas tem um contra-argumento científico – com vídeos e explicações de cientistas como complemento. A chegada à Lua teve também o reconhecimento por parte de nações como a Rússia, o Japão e a China, assim como imagens recolhidas pela sonda da NASA que orbita a Lua (Lunar Reconnaissance Orbiter) que mostram as marcas que os astronautas deixaram na superfície do nosso satélite natural – que lá permanecem inalteradas devido à ausência de atmosfera. E ainda 382 quilos de rochas lunares como prova, recolhidas ao longo das seis missões tripuladas à Lua.

“A verdade é que a Internet tornou possível que as pessoas digam aquilo que elas bem entenderem a um número muito maior de gente do que antes”, diz ao jornal britânico The Guardian o antigo historiador da NASA, Roger Launius. “E a verdade é que os norte-americanos adoram teorias da conspiração. Sempre que algo grandioso acontece, alguém tem sempre uma contra-explicação.”

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Apolo 16 NASA

As discussões podem ser bem acesas – ao ponto de, em 2002, o astronauta Buzz Aldrin mandar um murro a outro conspirador, Bart Sibrel, que nega que os humanos tenham chegado à superfície lunar. Do lado negro das teorias da conspiração, está a ideia de que tudo foi um logro: que a NASA só enviou os astronautas para a órbita terrestre, que foi tudo simulado num estúdio de cinema, que o ser humano nunca chegou verdadeiramente à Lua. Quais têm sido os argumentos de parte a parte?

O tremular da bandeira

Um dos argumentos de quem não acredita que o homem tenha chegado à Lua é o aparente tremular da bandeira dos Estados Unidos que foi deixada no solo lunar: as teorias da conspiração notam que as dobras da bandeira que se vêem em fotografias não deveriam existir, tendo em conta que não existe vento na Lua.

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O astronauta John Young da missão Apollo 16 NASA

Mas o argumento é facilmente rebatido com os vídeos do mesmo momento, em que se vê que a bandeira está hirta e que o ondular surge da tentativa de espetar a bandeira. Esta bandeira norte-americana foi feita de propósito para a viagem até à Lua e tem uma espécie de estrutura em arame por dentro, na zona superior. Isto permite-lhe ficar “em pé”, esticada, e com a ilusão de ondulação, tal como uma bandeira ficaria em Terra.

O escuro do céu

Outro dos problemas apontados por quem não acredita que o homem foi à Lua é a falta de estrelas no céu negro, pelo menos daquilo que se vê nas fotografias que foram tiradas na superfície lunar. O que talvez não seja assim tão estranho para quem já tenha tirado fotografias de noite e o céu surja escuro por trás. Por que não se vêem, afinal, estrelas no céu escuro? Está tudo relacionado com os níveis de exposição das câmaras fotográficas e com a luz do Sol, que incidia e reflectia na superfície lunar.

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“Todas as exposições dos astronautas na Lua são exposições à luz do dia”, explica Rick Fienberg – que pertence à Sociedade Americana de Astronomia e participou até em debates televisivos contra Bill Kaysing. “A superfície estava muito iluminada pelo sol. E os astronautas tinham vestidos fatos espaciais brancos radiantes, que são altamente reflectores”, explica, dizendo que seria difícil que o valor de exposição das câmaras dos astronautas conseguisse captar bem os astronautas e a superfície – altamente iluminada – e, ao mesmo tempo, as estrelas no céu. Não é que elas não estivessem lá – mas a sua luz era comparativamente ténue, ao ponto de não aparecer nas fotos.

A irregularidade das sombras

As teorias da conspiração falam também na estranheza de algumas sombras nas fotografias divulgadas: há objectos que estão na sombra, mas acabam por estar iluminados – o que, segundo as teorias da conspiração, não deveria acontecer porque o Sol é a única fonte de iluminação. É o caso de uma bandeira à sombra que aparenta estar iluminada ou da fotografia de um astronauta, que está à sombra do módulo lunar, mas que tem o fato branco bem iluminado. Há até um episódio de Mythbusters que recria este cenário para ver se seria possível o astronauta ficar visível unicamente com a luz do Sol. Ou seria então, como defende a conspiração, por causa da iluminação dos estúdios de Hollywood, onde a ida à Lua poderia ter sido fingida? Na verdade, está relacionado com a luz solar que incide superfície reflectora da Lua, tal como é visível na recriação dos Mythbusters.

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Buzz Aldrin na Lua com o fato iluminado mesmo estando à sombra NASA

O efeito Kubrick

Um ano antes da chegada à Lua, o realizador norte-americano Stanley Kubrick lançava o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço – que criava uma imagem realista daquilo que era o espaço sideral e que levou muitas pessoas (ainda hoje) a teorizar que fora Kubrick o responsável por filmar uma suposta ida à Lua. Afinal, já tinha a técnica e a experiência de recriar uma viagem ao espaço. “Até poderiam ter pedido a Stanley Kubrick que fingisse uma ida à Lua. Mas ele era tão perfeccionista que teria insistido em filmar no local”, brinca o realizador Howard Berry, num artigo da Quartz.

No artigo, Berry explica também todas as questões técnicas que inviabilizariam uma imitação tão perfeita do ambiente lunar – e, sobretudo, da complexidade associada à microgravidade, que impossibilitaria que o efeito fosse reconstituído com a utilização de slow motion. Uma ínfima parte da “culpa” desta ideia de que a ida à Lua não passou de uma encenação cinematográfica pode também ser atribuída ao filme de 1971 do agente secreto James Bond: 007 – Os Diamantes São Eternos, em que a personagem de Sean Connery entra, durante uma fuga, num cenário idêntico à Lua, com astronautas vestidos a rigor.

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Cena do filme 007 – Os Diamanes São Eternos DR
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