Fapas contra intervenção urbanística nos antigos estaleiros de São Jacinto

A associação ambientalista diz que o que está em causa “é a paisagem”, que deve ser preservada “a todo o custo”.

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Fotomontagem do projecto que o promotor diz não ser a versão final
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A zona actualmente só tem ruínas ADRIANO MIRANDA

O Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (Fapas) considera que as intenções vindas a público de fazer um complexo habitacional e turístico nos terrenos dos antigos estaleiros de S. Jacinto (Aveiro), numa zona contígua à Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, é “um gravíssimo atentado a esta área protegida, quer pelo impacto visual da volumetria proposta, quer pelo aumento de carga sobre o território, nomeadamente circulação rodoviária e náutica e de pessoas numa área já congestionada durante o Verão”. Quem o diz é Nuno Oliveira, da direcção do Fapas, que sublinhou ao PÚBLICO que “o que está em causa é a paisagem, um valor a preservar a todo o custo”.

A proposta de investimento é, contudo, defendida pelo presidente da freguesia de S. Jacinto, António Aguiar, que afirmou ao PÚBLICO que, naquele local, só existem “pequenas unidades de alojamento local e alguns restaurantes que, apesar de serem óptimos, não são suficientes para dar resposta a mais turistas”. O responsável do Fapas  contrapõe que “hoje o turismo é uma boa aposta de desenvolvimento local” mas este deve “ser sustentável”.

No seu site, a empresa do Porto Metalúrgica123 já apresenta uma imagem virtual com alguns edifícios e uma pequena marina, algo que o Fapas desaprova, nomeadamente “pelo seu exagero” e pelo facto de os terrenos dos antigos estaleiros poderem ser antes “utilizados na instalação de um parque verde e numa área de equipamentos para a freguesia, que a Pólis Litoral Ria de Aveiro poderia desenvolver”. No entanto, responsáveis da empresa disseram ao PÚBLICO que as imagens que divulgou não correspondem ao projecto final, cuja volumetria é menor.

Apesar de acreditar que o projecto tal como foi publicitado dificilmente seria aprovado pelas autoridades administrativas, Nuno Oliveira reitera que não se deve fomentar o turismo “agredindo a paisagem”. O membro da direcção do Fapas elencou ainda outros factores que devem ser tidos em conta perante o desejo de transformar o terreno de 50 mil metros quadrados num complexo habitacional e turístico: “A progressiva erosão da costa, a previsível subida das águas do mar (e da ria) e a construção sobre uma língua arenosa formada há cerca de dez séculos e cuja futura evolução geomorfológica se desconhece”.

O Fapas diz não ser contra o desenvolvimento e a construção de equipamento habitacionais, comerciais e recreativos, “desde que feitos no local apropriado e com a integração adequada no território”, não sendo o caso do projecto divulgado através da fotomontagem da empresa metalúrgica, “que é uma monstruosidade que afecta gravemente a paisagem da Ria de Aveiro, uma das paisagens mais valiosas de Portugal”.

Fazendo um paralelismo com o que aconteceu no prédio Coutinho, em Viana do Castelo, Nuno Oliveira pensa que o complexo habitacional e turístico acabaria por ser “demolido às custas do erário público”. Assim, o Fapas defende que o que se deveria fazer por esta altura seria “promover o turismo ecológico e recuperar e valorizar a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto”.

“Para além do enorme valor paisagístico, económico e de recreio de ar livre, a Ria de Aveiro encerra um conjunto de habitats preciosos para a conservação da biodiversidade e, por isso, em 1975 foi classificada como parque natural, em 1999 como ZPE (Zona de Protecção Especial) e, em 2014, foi incluída na lista de Sítios da Rede Natura 2000”, argumenta o Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens, apelando às entidades com jurisdição sobre este território para “rejeitarem este projecto e desenvolverem uma alternativa que acautele o interesse legítimo dos proprietários dos terrenos”, bem como “o interesse público”.

Texto editado por Ana Fernandes

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