Representantes de Guaidó e Maduro vão reunir-se em Barbados
Chavistas e opositores vão reunir-se esta semana na ilha caribenha para um diálogo mediado pela Noruega. Posições sobre formas de resolução da crise venezuelana continuam muito distantes.
Dois meses depois da última — e pouco produtiva — reunião, representantes de Nicolás Maduro e de Juan Guaidó aceitaram voltar a sentar-se à mesa, para discutir soluções para desbloquear a crise política venezuelana. Confirmado pelo presidente da Assembleia Nacional, no domingo, através do Twitter, o encontro terá lugar na ilha caribenha de Barbados, com a Noruega novamente no papel de mediador, e deverá realizar-se ainda esta semana.
“Desde a Presidência da República Bolivariana da Venezuela que nos dirigimos ao país e à comunidade internacional, para anunciar que, no âmbito da mediação do Governo do Reino da Noruega para pôr fim à tragédia de que padecem todos os venezuelanos, assistiremos a uma reunião com representantes do regime usurpador para estabelecer uma negociação de saída da ditadura”, lê-se no comunicado partilhado nas redes sociais por Guaidó, que em Janeiro se autoproclamou presidente interino do país e que conta, nessa pretensão, com o reconhecimento de mais de 50 países — incluindo Portugal, Estados Unidos e Brasil.
O comunicado justifica a participação da oposição no encontro com o facto de “não haver tempo ilimitado” para responder a uma “situação que piora a cada dia”, mas não avança com a data do evento. Foi o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Noruega que esclareceu que o mesmo decorrerá esta semana.
“As partes vão reunir-se esta semana em Barbados para avançarem na busca por uma solução acordada e constitucional para o país”, anunciou o Governo norueguês no domingo à noite.
Disputada por dois presidentes há seis meses e palco de uma crise social e económica profunda há bastante mais tempo do que isso — quatro milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014 —, a Venezuela encontra-se paralisada politicamente e sem soluções à vista.
Barbados receberá a segunda ronda de negociações entre chavistas e opositores, mas nada garante que esta venha a ter um desfecho diferente da primeira, realizada em Oslo, capital norueguesa, que teve um carácter mais exploratório. Bem pelo contrário.
As posições das partes estão mais extremadas do que nunca e agravaram-se ainda mais com a morte recente de um militar, Rafael Acosta Arévalo, nas prisões do Estado, acusado de conspirar contra o Governo e alegadamente vítima de tortura e maus tratos pelos guardas prisionais.
Guaidó e os seus apoiantes querem o afastamento de Maduro e a realização de eleições presidenciais. O Presidente e o oficialismo só estão, no entanto, dispostos a convocar uma votação para a Assembleia Nacional — actualmente controlada pela oposição, mas esvaziada de poderes em 2017, com a criação, pelo chavismo, de uma Assembleia Constituinte, fiel ao Partido Socialista Unido da Venezuela e ao Governo.
A própria linguagem utilizada pela oposição ao Presidente Maduro, no seu comunicado, dá conta dessa divergência de fundo. “Reiteramos a continuação do rumo que definimos para pôr fim ao sofrimento dos venezuelanos: fim da usurpação, governo de transição e eleições livres, com observadores internacionais”, refere o documento.
A equipa de Guaidó recordou ainda as conclusões do mais recente relatório das Nações Unidas sobre o estado dos direitos humanos na Venezuela para “destacar o sentido de urgência” que se vive na Venezuela.
Segundo o documento divulgado na quinta-feira pela alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, morreram mais de 6800 venezuelanos em operações de “resistência às autoridades” nos últimos 18 meses, muitos deles vítimas de execuções extrajudiciais, esquadrões de morte e repressão violenta por parte das forças de segurança do regime.
O Governo de Maduro negou as conclusões do relatório, acusou a ex-Presidente do Chile de ter uma “visão selectiva e abertamente parcial” sobre a Venezuela, e sublinhou que “as medidas adoptadas para a progressão dos direitos humanos” no país foram “escondidas e minimizadas”.