Conservadores da Nova Democracia conseguem maioria absoluta na Grécia
O partido de centro-direita liderado por Kyriakos Mitsotakis obteve mais de 150 deputados, quando estão contados mais de 90% dos votos. O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, já admitiu a derrota.
O líder da oposição grega, Kyriakos Mitsotakis, venceu as eleições com uma margem que lhe permitirá governar sem recurso a coligação: segundo os cálculos feitos com base nos resultados oficiais com mais de 90% dos votos contados, terá 158 deputados num parlamento de 300.
Poderá ser a mais expressiva vitória de um partido na Grécia desde que o PASOK (Partido Socialista) conseguiu 170 deputados, em 1993.
O derrotado foi o primeiro a discursar. Alexis Tsipras prometeu “continuar a lutar pelo Estado social” depois de deixar o cargo de primeiro-ministro. Tsipras foi eleito pela primeira vez em 2015.
Mitsotakis falou de seguida: “Não vou pedir um período de graça, porque não temos tempo para isso”, declarou. Consultor de bancos e da McKinsey, o líder da Nova Democracia quer modernizar a administração, diminuir a burocracia, e descer os impostos.
Segundo os resultados preliminares, a Nova Democracia venceu com 39,8% dos votos, e deixou o Syriza, o partido do Governo, em segundo lugar, com 31,6%.
A grande questão na campanha não era se Mitsotakis ia vencer, mas sim com que margem.
Muitos gregos estavam decepcionados com o Governo do Syriza, primeiro por não ter conseguido cumprir a promessa de acabar com a austeridade, depois por ter assinado um acordo sobre o nome da Macedónia, e ainda por ter sucumbido aos pecados típicos do poder na Grécia, desde ligações duvidosas a empresários até tentativas de controlar os media.
Mitsotakis prometeu “virar a página” no país, mas a Grécia, apesar de ter saído do memorando com a troika, continua sujeita a uma série de restrições orçamentais.
Ao Syriza, segue-se o KINAL, uma espécie de renovação dos socialistas do PASOK (8,3%) e o Partido Comunista KKE (5,3%). Parecem ter entrado no Parlamento, mesmo no limiar, o partido ultranacionalista Solução Grega (3,7%) e o partido MeRA25, do antigo ministro das Finanças Yanis Varoufakis (3,4%). O partido neonazi Aurora Dourada ficou de fora, com 2,9%, e os seus ex-deputados, implicados em processos judiciais, perdem a imunidade.
Erdogan é o primeiro a ligar
O primeiro líder a telefonar a Mitsotakis foi o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. A relação entre a Grécia e a Turquia tem sido tensa, com escaramuças no mar, violações de espaço aéreo e um episódio caricato em que caças turcos seguiram o helicóptero em que estava Tsipras. O segundo telefonema, segundo o círculo de Mitsotakis, veio de Tsipras.
As questões sobre o que acontecerá ao Syriza e ao seu líder, Alexis Tsipras, estão de momento sem resposta, mas é neste momento claro que Tsipras continua a dominar o partido, e se for confirmado o resultado de mais de 30%, este não será tão mau como esperado. A revolta interna no partido aconteceu depois de Tsipras assinar o memorando com a troika em 2015, com a saída da facção mais radical – que entretanto desapareceu da paisagem política (com a excepção de Yanis Varoufakis – mas este não era membro do Syriza antes de ser ministro).
Tsipras parece estar a jogar em duas frentes: o New York Times diz que nos últimos anos tem aperfeiçoado o seu inglês a pensar num cargo internacional (o enfant terrible acabou por ser o único político grego que conseguiu um acordo com o seu vizinho, o que era importante para a União Europeia e para a NATO); mas também tem lançado convites a “forças progressivas”, possivelmente com a ideia de levar o partido ainda mais para o centro e voltar a disputar a liderança do Governo na Grécia.
O ministro das Finanças, Euclides Tsakalotos, prometeu, na noite da derrota: “Vamos voltar mais sábios, com conhecimentos que não tínhamos entre 2012 e 2015. Todos os que nos apoiaram deviam estar orgulhosos”, declarou, segundo o site Press Project, que fez a cobertura da noite eleitoral em inglês.
O Syriza tinha tido uma transformação extraordinária: um partido que em 2009 era de esquerda radical e tinha 4,6% dos votos nas eleições, para um partido que em 2015 chegou ao Governo. A razão foram os penalizadores cortes acordados com os credores internacionais, e a defesa, pelo Syriza, de uma solução que não fosse mais austeridade.
Outro acontecimento extraordinário foi o fim do PASOK, que desapareceu depois de dominar durante décadas a política grega em alternância com a Nova Democracia. Muitos dos seus políticos estão agora no partido KINAL, que ficou em terceiro nestes eleições.