Cristina Sampaio desenha opinião

Admiradora de Hergé e do seu traço sintético, que descobriu através do Tintim, Cristina Sampaio tornou mais clara a linha preta da tinta-da-china. Sem medos, desenha a direito com linhas tortas. É assim que denuncia abusos de poder, contradições humanas, injustiças, crueldades. E faz-nos sorrir, enquanto nos abala a consciência.

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Festa da Ilustração de Setúbal 2019. É Preciso Fazer Um Desenho? Cristina Sampaio

No cartaz da Festa da Ilustração de Setúbal 2019, vê-se uma figura toda torcida e enrolada em volta de um lápis azul. “O ilustrador está em permanente luta com o lápis”, explica Cristina Sampaio, convidada principal desta edição. “É uma luta livre”, disse divertida na apresentação da festa. Nada de censura.

A ilustradora e cartoonista que na infância vendia os seus desenhos lá em casa por 25 tostões tem duas exposições na cidade de Setúbal que podem ser visitadas até 27 de Julho: Linha Clara (Casa da Cultura) e Desafios (Casa da Avenida).

Cristina Sampaio justifica assim a primeira: “Chamei-lhe Linha Clara por homenagem à minha maior influência desde a infância, que é o trabalho do Hergé, com o Tintim, mas também pelas ilustrações magníficas que tem fora da banda desenhada.” E descreve: “Esta exposição aproxima-se mais do cartoon. São desenhos de imprensa e de opinião, não são ilustrações de textos. Foram publicados em jornais.”

A cartoonista dá-nos a conhecer a sua atitude: “Mesmo quando acompanho textos, dou sempre primazia à minha opinião. Faço uma reflexão sobre o assunto que está a ser tratado.” Nessa linha, recordou na última sessão Muito Cá de Casa, moderada por Jorge Silva e José Teófilo Duarte, organizadores da festa, as vicissitudes do seu trabalho recente: “No Expresso estava condicionada a um tema ou a um texto que me enviavam para a secção de opinião. Mas a minha opinião nem sempre coincidia com a do autor. Houve uma ou outra vez em que tive alguns dissabores por causa disso.”

Fanática da linha
Desde Janeiro que faz “comentário político”, semanalmente, ao domingo, no caderno P2 do PÚBLICO, na rubrica a que chamou “Desalinho”. “Os títulos do que faço andam sempre à volta da linha, sou uma fanática da linha”, diz. E resume a sua imagem de marca: “Um traço linear preenchido por uma cor plana.” Uma forma de representação que foi “construindo no PÚBLICO”, onde trabalhou durante dez anos, até 1999, como ilustradora e coordenadora da secção de infografia. “Foi aí que sedimentei o trabalho de ilustradora de imprensa”, recorda.

Sobre a exposição Desafios, fala em “ilustração pura”, resultado de 29 anos de colaboração também com o PÚBLICO e com os matemáticos José Paulo Viana e Eduardo Veloso, que semanalmente propunham exercícios de cálculo. “Uma brincadeira… da minha parte a acompanhar a seriedade da Matemática apresentada de uma forma lúdica”, explica, concluindo que, “depois de milhares de imagens, há um corpo de trabalho a que se pode chamar ‘ilustração’”.

Estas características múltiplas e originais do trabalho de Cristina Sampaio levaram a que fosse a convidada principal nesta edição de É Preciso Fazer Um Desenho?, como disse ao PÚBLICO um dos directores de projecto, José Teófilo Duarte: “Pensámos na Cristina pela qualidade do seu trabalho e por estar ligada à imprensa nacional e internacional. Por outro lado, a série Desafios também nos interessava pela ligação que podíamos fazer com as escolas e com ensino. Além disso, está num momento de pujança e de afirmação em comentário político e opinião.”

Outra ligação aproveitada pela festa foi a amizade da ilustradora com Tignous (cartoonista assassinado em Paris na redacção do Charlie Hebdo, há quatro anos) e que facilitou a vinda dos seus trabalhos para o Museu do Trabalho Michel Giacometti, assim como a presença em Setúbal da sua mulher Chloé Verlhac, numa apresentação emocionada e pioneira fora de França.

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Cartoons animados

Na Casa da Cultura, é também ainda possível assistir às curtas animações do Spam Cartoon, uma parceria com João Paulo Cotrim, André Carrilho e João Fazenda que actualmente passa na RTP3 e que Cristina Sampaio explica ser uma forma de “acrescentar valor ao cartoon escrito, através das possibilidades que a Internet dá no uso de movimento e de som”.

As exposições podem ser visitadas na companhia da autora nos próximos sábados 13, 20 e 27 de Julho, às 19 horas. No dia 20, na Casa da Avenida, haverá também uma actividade à volta dos desafios matemáticos com José Paulo Viana.

Segundo Cristina Sampaio, “as pessoas estão a perder o sentido de humor”, e lembrou, entre um sorriso e um encolher de ombros, como foi alvo de recriminação por parte de feministas a propósito da ilustração que aqui se reproduz com a imagem de Xi Jinping e da República Portuguesa. Pô-la na Gaveta da Semana, a 5 de Dezembro de 2018, e chamou-lhe “O Imperador e a Meretriz”. Vale muito mais do que 25 tostões.

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