Ataque à Academia: advogada pede libertação de Fernando Mendes

Foram ouvidos quatro arguidos que negaram a existência de um grupo organizado de mensagens. A advogada do ex-líder da Juve Leo pediu a libertação imediata do seu cliente alegando que este sofre de uma doença oncológica.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

Os arguidos Hugo Ribeiro, Celso Cordeiro, Sérgio Santos e Elton Camará foram esta terça-feira interrogados no início da fase de instrução sobre a invasão à academia do Sporting, em Alcochete.

Após uma interrupção da sessão, devido a um engano dos serviços prisionais, que transportaram os detidos para o Montijo e não para Lisboa, a fase de instrução iniciou-se seis horas depois do previsto, com o juiz Carlos Delca a rejeitar novo pedido de escusa, o quarto desde o início do processo.

Os pedidos de escusa alegavam, entre outras coisas, que os arguidos não teriam praticado nenhum dos actos que lhes são imputados, não se fizeram acompanhar por armas, não entraram no balneário e não presenciaram nenhuma agressão.

Entre os arguidos ouvidos, destacaram-se os depoimentos de Sérgio Santos e de Elton Camará.

Sérgio Santos confirmou ter estado na Academia, mas defendeu-se justificando ter sido “o penúltimo a entrar” e que, quando o fez, “já os outros tinham feito as asneiras todas”. Explicou ainda ter “caído de páraquedas” na Academia e negou ter estado escondido debaixo de uma árvore, explicando que até esteve à conversa com Jorge Jesus e William Carvalho.

Já Elton Camará, que se identificou como amigo de infância de William Carvalho, disse que o futebolista lhe pediu ajuda, assim como Jorge Jesus, admitiu pertencer a um grupo de “whatsapp” denominado “Chefes do Núcleo”, sendo ele o responsável pelo núcleo de Marvila, e confessou que outros arguidos também faziam parte desse mesmo grupo, embora tenha negado que tenha havido quaisquer mensagens com planos de invadir o centro de treinos da equipa lisboeta.

Pelo meio dos depoimentos, que tiveram a duração total de uma hora, o advogado de Bruno de Carvalho, Miguel Fonseca, anunciou que irá participar disciplinarmente do juiz Carlos Delca, por ter permitido à procuradora do Ministério Público, Cândida Vilar, fazer perguntas e ter impedido os advogados de exercer o contraditório.

O antigo líder da claque Juventude Leonina, Fernando Mendes, diagnosticado com uma doença oncológica, poderá ser libertado já na quarta-feira, informou a advogada, Sandra Martins, à comunicação social, após ter feito um requerimento para pedir a libertação imediata do arguido.

O debate instrutório terá lugar a 10 de Julho, às 10h00, no Tribunal de Instrução Criminal, em Lisboa. Para esta quarta-feira, entre as 10h00 e as 14h00, estão marcados, respectivamente, os interrogatórios a Eduardo Nicodemus e ao antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho.

Em prisão preventiva mantêm-se 36 dos 44 arguidos no processo, incluindo o líder da claque Juventude Leonina (Juve Leo), Nuno Vieira Mendes, conhecido como “Mustafá”, que viu em 6 de Junho o Supremo Tribunal de Justiça negar-lhe uma providência de “habeas corpus” (pedido de libertação imediata) e o ex-oficial de ligação aos adeptos Bruno Jacinto.

Em Janeiro deste ano, o TIC do Barreiro declarou a especial complexidade do processo da invasão à Academia do Sporting, pedida pelo MP, o que, consequentemente, dilatou o prazo de prisão preventiva dos arguidos que se encontram presos.

Esta decisão teve como consequência directa o alargamento do prazo (até 21 de Setembro) para que o TIC do Barreiro profira a decisão instrutória (se o processo segue para julgamento), sem que 23 dos arguidos sejam colocados em liberdade.

Os primeiros 23 detidos pela invasão à Academia e consequentes agressões a futebolistas, técnicos e outros elementos da equipa “leonina” ficaram todos sujeitos à medida de coação de prisão preventiva em 21 de Maio do ano passado.

Aos arguidos que participaram directamente no ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, em 15 de Maio de 2018, o MP imputa-lhes na acusação a co-autoria de crimes de terrorismo, de 40 crimes de ameaça agravada, de 38 crimes de sequestro, de dois crimes de dano com violência, de um crime de detenção de arma proibida agravado e de um de introdução em lugar vedado ao público.

O antigo presidente do clube Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 de ofensa à integridade física qualificada, de 38 de sequestro, de um crime de detenção de arma proibida e de crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. Mustafá está também acusado de um crime de tráfico de droga.