Fundador da Wikipédia está a organizar um boicote de 48 horas às redes sociais

Larry Sanger quer que as pessoas deixem de usar o Facebook e o YouTube entre 4 e 5 de Julho, com o objectivo de os forçar a dar mais privacidade aos utilizadores.

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O objectivo é impedir que as redes sociais sejam controladas por uma mão cheia de gigantes tecnológicos Reuters

Larry Sanger, o menos conhecido dos fundadores da Wikipédia, está a tentar organizar uma greve de 48 horas às redes sociais. O plano é convencer as pessoas a evitar plataformas como o Instagram, o Facebook e o YouTube, a partir do dia 4 de Julho, quinta-feira. A única excepção é para publicar comentários sobre o boicote (por exemplo, com a hashtag #SocialMediaStrike), de modo a recrutar mais participantes.

Sanger acredita que se as pessoas participarem, pelo menos, num dia, pode-se pressionar as grandes empresas – que o fundador da Wikipédia apelida de “impérios digitais” – como o Facebook (dono do Instagram e WhatsApp) e o Google (dono do YouTube e do Gmail), a dar mais privacidade e controlo aos utilizadores.

O co-fundador da Wikipédia acredita que, com os anos, as grandes tecnológicas deixaram de respeitar direitos digitais básicos – por exemplo, não interferir com a liberdade de expressão e privacidade dos utilizadores. “Vamos flectir colectivamente os nossos músculos e exigir que as organizações gigantes e manipuladoras nos devolvam o controlo aos nossos dados, privacidade, e experiência online”, apelou Sanger, numa publicação no seu site. 

Os utilizadores interessados são também convidados a assinar uma “Declaração dos Direitos Digitais” da autoria de Sanger. “[As grandes plataformas] têm bloqueado injustamente contas, publicações e formas de financiamento com base em argumentos políticos ou religiosos, preferindo a lealdade de alguns utilizadores sobre outros”, critica Sanger na sua Declaração dos Direitos Digitais. “E têm, por vezes, sido demasiado rápidos a cooperar com governos despóticos que tanto controlam como vigiam os seus cidadãos.”

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Larry Sanger é um dos co-fundadores da Wikipédia Larry Sanger

 Apesar de ter ajudado Jimmy Wales a criar a famosa enciclopédia online em 2001 (tendo, inclusive, escolhido o nome – uma amálgama de enciclopédia e parte da palavra havaiana “wiki”, que significa rápido), Sanger abandonou o projecto em 2002. Uma das preocupações era a possibilidade da plataforma ajudar na proliferação de conteúdo falso. Em 2014, fundou a Everipedia, uma rival da Wikipédia.

Para o fundador da Wikipédia o problema com os “impérios digitais” actuais – como o Google e o Facebook – é que estas empresas fazem escolhas com base no lucro, seja “influenciar eleições globalmente”, “adoptar algoritmos que valorizam conteúdo que é mais controverso”, e privilegiar “discussões irracionais com base nas emoções”.

Os exemplos abundam: em Novembro, por exemplo, o Twitter admitiu ter de apagar milhares de contas que promoviam abstenção nas eleições dos EUA. Em Março, tanto o Facebook como o YouTube e o Twitter admitiram ter dificuldades em impedir a circulação das imagens do ataque a duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia. E desde Abril de 2018 que o Facebook tem estado envolto em polémica por não ter impedido que a consultora Cambridge Analytica usasse dados de milhões de utilizadores da rede social, sem o seu consentimento, para elaborar um programa informático destinado a influenciar eleições em vários países.

O PÚBLICO tentou contactar a Internet Association – um grupo de lobby que representa plataformas online como o Google, YouTube e Facebook –, mas não recebeu uma resposta até à hora de publicação deste artigo.

Redes sociais descentralizadas

A solução para o paradigma actual, explica Sanger, passa por criar redes sociais descentralizadas. Isto inclui um sistema em que as regras são iguais para todas as redes sociais, os utilizadores têm total controlo dos seus dados, e uma publicação feita no Facebook pode aparecer noutra rede social (por exemplo, no Twitter, que não pertence ao Facebook).

A última ideia é apoiada pelo presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey. “Se queremos servir o discurso público (o nosso objectivo) temos de ser nos expandir para lá daquilo que está no Twitter”, escreveu Dorsey, numa publicação do Twitter em que respondia a Larry Sanger.

Para Sanger, porém, a prioridade é garantir que o controlo das redes sociais não está apenas numa mão cheia de gigantes tecnológicos. “Se as redes sociais forem centralizadas, isto quer dizer que há uma concentração do poder – o poder duplo de decidir o que é publicado e censurado – nas mãos de poucos. Não há forma de garantir que este poder é exercido de forma responsável”, explicou Sanger, num artigo de opinião que escreveu para a revista Wired em Março.

Para já, são poucos os utilizadores que se juntaram à causa. Às 17h00 de segunda-feira, hora de Lisboa, pouco mais de 250 pessoas tinham aderido ao movimento, de acordo com um questionário (com 457 respostas) publicado por Sanger no Twitter.

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