PPE e países de Visegrado montam rebelião contra Timmermans na Comissão
Decisões tem de ser tomadas até à abertura do novo Parlamento Europeu, mas no arranque da cimeira extraordinária para decidir cargos de topo das instituições europeias, voltaram as dúvidas.
As negociações entre os líderes europeus reunidos numa cimeira extraordinária este domingo em Bruxelas para fechar o processo a nomeação dos cargos dirigentes das instituições europeias arrancaram com um braço-de-ferro entre o Leste e o Oeste, com os países do chamado grupo de Visegrado a oporem-se frontalmente à escolha do socialista holandês, Frans Timmermans, para a presidência da Comissão Europeia — uma solução de compromisso que teria o beneplácito da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do Presidente de França, Emmanuel Macron, para manter vivo o sistema de eleição de um dos cabeças de lista que se apresentaram nas eleições europeias.
À entrada, os primeiros-ministros da Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia repetiram todos mais ou menos a mesma ideia: o nome de Timmermans não serve. “Receio que esta pessoa não seja ideal para unir a Europa. No passado sentimos que ele não teve uma actuação muito positiva para com a nossa região”, afirmou o primeiro-ministro checo, Andrej Babis.
“Creio que não surpreende ninguém que países como a Polónia ou a Hungria, que tiveram um conflito directo com a Comissão sobre o respeito pelo Estado de Direito e a independência do poder judicial, tenham maiores dificuldades em apoiar quem, como vice-presidente da Comissão, liderou esse processo e abriu os procedimentos por violação do artigo 7.º do tratado. Isso é normal”, desvalorizou o primeiro-ministro, António Costa, que à entrada para a reunião extraordinária do Conselho Europeu apontou para um “consenso cada vez mais alargado” em torno do cabeça-de-lista proposto pelos socialistas. “Timmermans é a personalidade que reúne melhores condições para ser presidente da Comissão. Creio que há hoje boas condições para que isso aconteça, mas vamos ver”, acrescentou.
Apesar do optimismo de António Costa, e da aparente resignação de Angela Merkel, a pretensão de Timmermans e dos socialistas europeus de recuperar a liderança do executivo comunitário depois de 25 anos de presidentes do centro-direita encontrava ainda forte resistência — precisamente dos chefes de Estado e governo da família do Partido Popular Europeu, que estavam tudo menos convencidos com o acordo de princípio que a chanceler alemã e o Presidente francês desenharam com os negociadores socialistas e liberais em Osaca, à margem da cimeira do G20.
Merkel terá ficado surpreendida ao ser confrontada com um coro de críticas na reunião da sua família política que precedeu a cimeira de líderes. “O PPE não subscreveu o pacote que foi negociado em Osaca, e a vasta maioria dos primeiros-ministros do PPE não acredita que se deva desistir da presidência da Comissão tão facilmente, sem tentar resistir”, resumiu o líder irlandês, Leo Varadkar. Os democratas-cristãos, que continuam a deter a maior bancada no Parlamento Europeu, com 182 lugares, têm oito votos no Conselho (e 25% da população europeia nos seus países).
A posição do seu próprio partido deixava a chanceler com um novo dilema para resolver. Depois de ter defendido veementemente a selecção de um dos Spitzenkandidaten para a presidência da Comissão, só teria duas alternativas: ou alinhava pela tese original de Macron, e avançava com um nome alternativo aos cabeças de lista, arrasando com o sistema, ou forçava a mão do PPE para aceitar a solução Timmermans. “Tal como as coisas estão, as discussões vão ser muito difíceis”, admitiu Merkel, que mais uma vez repetiu que “o mais importante é evitar um conflito interinstitucional entre o Conselho Europeu e o Parlamento”. “Vai ser uma longa noite”, estimou.
Mas a objecção dos líderes conservadores ao compromisso de Osaca — que distribuía a presidência da Comissão aos socialistas, dava a presidência do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu ao PPE e o cargo de alto representante para a Politica Externa e Segurança aos liberais — não chegava para ressuscitar a candidatura do alemão Manfred Weber. À chegada, o maior adversário do processo dos Spitzenkandidaten, Emmanuel Macron, falava numa corrida a três pela presidência da Comissão, entre o socialista Frans Timmermans; Margrethe Vestager, a cabeça de lista dos liberais, e o diplomata francês e negociador da UE para o “Brexit”, Michel Barnier.
Continuavam, assim, todos os cenários em cima da mesa no arranque dos trabalhos — que foram atrasados mais de duas horas, para novas consultas e encontros bilaterais entre os líderes. Enquanto os negociadores socialistas (António Costa e Pedro Sanchéz) e liberais (Mark Rutte e Charles Michel) falavam, Merkel e Macron estiveram fechados com os quatro líderes de Visegrado. E a adiar a entrada para o jantar, os membros do PPE pediram para reunir com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, antes de começarem as discussões a 28.