Quadro atribuído a Caravaggio vendido antes de leilão em Toulouse

Judite e Holofernes, pintura descoberta num sótão em 2014, foi comprada por um coleccionador não identificado, e vai sair de França.

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Esta versão de Judite e Holofernes foi encontrada em Toulouse em 2014 Charles Platiau/ REUTERS

A pintura Judite e Holofernes, que em 2014 foi encontrada no sótão de uma casa em Toulouse, e que a partir daí esteve no centro de uma renhida polémica sobre se se trata ou não de um original do italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610), foi vendido esta terça-feira naquela cidade francesa, dois dias antes de chegar à praça num anunciado leilão da casa Marc Labarbe.

Judite e Holofernes foi vendido a um coleccionador não identificado, e o acordo de confidencialidade que assinou com o leiloeiro de Toulouse também impediu a divulgação do preço da transacção, explicou Marc Labarbe, em comunicado. No entanto, quando o leilão foi agendado para o dia 27 de Junho, apontava-se para que a venda pudesse atingir os 150 milhões de euros.

“Recebemos uma oferta que era impossível não comunicar aos proprietários da pintura. O facto de ela ter partido de um coleccionador ligado a um grande museu convenceu os vendedores a aceitá-la”, disse à AFP Eric Turquin, um respeitado especialista francês em pintura antiga e o primeiro a identificar e a sustentar a autenticidade da assinatura de Caravaggio.

No comunicado em que anuncia a venda, o leiloeiro Marc Labarbe avança também que Judite e Holofernes, que terá sido pintado entre 1606 e 1607, irá ser exposto num grande museu, mas fora do território francês.

O Estado francês, recorde-se, começou por classificar esta versão de Judite e Holofernes, logo em 2014, como “tesouro nacional”, acto que impedia a saída da obra do país e lhe dava a preferência numa eventual venda. Mas o prazo de validade desta classificação caducou no final de 2018 sem que o Estado tenha decidido avançar para a compra, o que permitiu à família proprietária pedir um certificado a autorizar a exportação da obra.

O facto de a polémica sobre a autenticidade da atribuição de Judite e Holofernes a Caravaggio – tratar-se-á de uma segunda versão por ele pintada sobre a cena bíblica em que uma viúva judia chamada Judite decapita o general assírio Holofernes, encontrando-se a primeira, realizada entre 1598 e 1599, no Palácio Barberini, em Roma – se manter viva terá pesado, escreve o jornal Le Monde, na decisão do Estado francês de não avançar para a aquisição. De resto, o Museu do Louvre, onde o quadro também foi mostrado, não chegou a tomar posição sobre a eventual autoria de Caravaggio.

Eric Turquin foi, desde o início, o mais acérrimo defensor da autenticidade deste Caravaggio, enquanto vários outros especialistas, nomeadamente italianos, o atribuem ao artista flamengo Louis Finson (1580-1617), um reputado caravageschi, nome atribuído aos discípulos que trabalharam com ele ou seguiram a escola do grande mestre italiano do chiaroscuro.

“Não só se trata de um Caravaggio, como de todos os Caravaggios hoje conhecidos este é um dos melhores quadros que ele jamais pintou”, atestou Eric Turquin à AFP, lembrando também que a pintura, que foi restaurada no início deste ano, se encontrava num “estado de conservação extraordinário”, muito melhor do que os que vira recentemente em Nápoles, certamente referindo-se à exposição Caravaggio Nápoles, que se encontra patente, até 14 de Julho, no Museu de Capodimonte.

Outro argumento que Turquin invoca em favor da atribuição ao mestre italiano é o facto de a análise da obra e de o trabalho de restauro ter mostrado que o artista fez várias alterações de relevo no momento da criação – “os copiadores não corrigem as pinturas deste modo; eles copiam”, realça o especialista francês, que chegou mesmo a afirmar, em defesa da sua tese, que “estenderia o pescoço para [lhe] cortarem a cabeça, como a Holofernes”.

Também Marc Labarbe – que foi a primeira pessoa contactada pelo proprietário do quadro quando o descobriu no seu sótão – insiste na certeza de que este Judite e Holofernes é um Caravaggio. “Não tenho nenhuma dúvida, porque estudei-a durante cinco anos. Posso falar tanto como aqueles que não o viram e emitem a sua opinião. Quando apresentámos o quadro em Itália, sabíamos que íamos iniciar uma disputa entre escolas, porque os especialistas odeiam-se uns aos outros”, comentou o leiloeiro na altura em que a pintura foi apresentada em Paris no decorrer da tournée que fez por outras cidades, como Londres e Nova Iorque, antes de, a partir do dia 17 de Junho, ser exposto no Hôtel des Ventes Saint-Aubin para o leilão que entretanto acabaria por não se realizar na leiloeira de Toulouse.

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