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Lisboa e Viana do Castelo ligadas por Intercidades a partir de Julho

Viagem entre as duas cidades será feita em menos de quatro horas e meia. CP aguarda apenas que a IP dê a electrificação por concluída.

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Rui Gaudencio

A partir de meados de Julho, quando for inaugurada a primeira fase da electrificação da Linha do Minho, a CP vai inaugurar uma ligação directa em serviço Intercidades entre Lisboa e Viana do Castelo. Segundo fonte oficial da empresa, esta ligação será assegurada pela extensão de comboios Intercidades já existentes que fazem o percurso Lisboa-Porto, mas que passam a chegar e a partir de Viana em vez de Campanhã. 

No troço Porto-Viana, estes comboios vão efectuar paragem nas localidades de Trofa, Famalicão, Nine, Barcelos e Barroselas. Mas as boas notícias acabam aqui. Entre o Tejo e o Lima só haverá um comboio directo em cada sentido, estando a oferta programada para se sair de Viana de manhã e chegar a Lisboa ao meio-dia. O regresso é feito pelo Intercidades que sai de Santa Apolónia às 17h30 e chega ao Porto às 20h46, seguindo depois para Viana do Castelo.

O tempo de percurso ganho é pouco significativo: apenas sete minutos por comparação com a situação actual em que se faz transbordo em Campanhã. Hoje, os tempos de viagem oscilam entre as 4 horas e 32 minutos e as 4 horas e 52 minutos. A vantagem será só ao nível do conforto, porque será possível embarcar num comboio em Santa Apolónia ou no Oriente e sair no centro de Viana do Castelo.

A CP salienta ainda a melhoria da eficiência energética pois, a passagem de comboios a diesel para eléctricos permite uma redução de 70% no consumo de energia. “Há a considerar um impacto positivo na emissão de gases com efeito de estufa”, diz a empresa.

Se no longo curso o investimento em curso na via férrea — na ordem dos 16 milhões de euros —​ apenas vai permitir levar um Intercidades a Viana do Castelo, no serviço regional a CP ainda não sabe o que vai fazer. Questionada pelo PÚBLICO, a transportadora pública deu uma resposta redonda: “Serão implementadas algumas alterações às ofertas de serviço regional e urbano, decorrentes da necessidade de compatibilizar horários e ligações dos serviços desta linha, e também da gestão do parque de material circulante da CP.”

Alvo de várias notícias, pelas implicações negativas no serviço da empresa em vários pontos do país, o parque de material é, precisamente, o grande problema da CP, que deverá continuar com as mesmas automotoras a diesel a circular numa linha electrificada porque não possui comboios eléctricos suficientes. Actualmente, e com excepção de um pequeno troço até Nine onde circulam comboios eléctricos, o serviço na Linha do Minho é assegurado pela CP com automotoras a diesel (alugadas à Renfe) que circulam entre o Porto e Valença. Trata-se de material envelhecido, sujeito a avarias e que provoca um elevado índice de imobilizações em oficina.

Para colmatar a falta de material, a empresa recorre frequentemente à composição do comboio turístico Miradouro ou a comboios com carruagens Intercidades para assegurar o serviço e evitar supressões.

Catenária até Valença

A electrificação até Viana é só a primeira fase de um projecto global que custa mais de 80 milhões de euros e que pretende levar a catenária (cabo de alta tensão que fornece energia eléctrica aos comboios) até Valença, na fronteira com a Galiza, mas não resolve os problemas da CP (nem dos seus clientes), que continuará a debater-se com falta de material circulante.

Questionada pelo PÚBLICO sobre se tinha sido realizado algum estudo de procura para antecipar o impacto da electrificação e do uso de material eléctrico no percurso Nine-Viana do Castelo, a CP respondeu que não o fez. É que, apesar das melhorias na infra-estrutura, estas de pouco servirão sem haver melhorias também no parque de material circulante.

A electrificação deste troço até Viana deveria — de acordo com o Ferrovia 2020 — estar concluído em Março de 2018, mas só em Junho deste ano a Infra-Estruturas de Portugal deu os trabalhos por concluídos. Agora estão a realizar-se testes e só em meados de Julho a empresa espera poder obter a certificação que permitirá abrir este troço à circulação de comboios eléctricos. 

Há um mês, a Infra-Estruturas de Portugal explicava esta derrapagem nos prazos pela “especial complexidade” da obra que obrigou a “rendimentos de execução mais baixos do que o inicialmente previsto”. A empresa estatal admitia até vir a aplicar sanções ao empreiteiro, um consórcio liderado pela Mota-Engil e Somafel, pelos atrasos no projecto. 

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