César e o fim da “geringonça”: acordos “são com todos” os que não ponham a “partidarite” em primeiro

O presidente do PS e líder parlamentar diz que o que interessa é o “conteúdo” das leis e não o partido que as aprova.

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O presidente do PS visitou esta segunda-feira a empresa Visabeira, em Viseu LUSA/NUNO ANDRÉ FERREIRA

Há uma inversão nestes meses finais de legislatura no que ao posicionamento do PS diz respeito. Carlos César já não ataca a direita nem elogia a esquerda. Leva ao extremo a ideia de partido charneira e diz que acordos em leis essenciais, como a lei de bases da saúde, são para ser feitos tendo em conta o “conteúdo” das leis, com “todos os partidos” que não coloquem os interesses “pré-eleitorais” e a “partidarite” como prioritários.

Os socialistas jogam no vale-tudo nesta fase final de legislatura e sabem que para conseguirem aprovar algumas leis que desagradam aos outrora parceiros de Governo, terão de não ostracizar o PSD – com quem têm falado para ver se conseguem passar a lei de bases da saúde. “Leis como estas só não serão aprovadas se os partidos colocarem a ‘partidarite’ e os seus interesses próprios e pré-eleitorais à frente do interesse nacional e da organização do sistema de saúde que privilegie as pessoas”, avisou Carlos César num jantar com autarcas em Viseu, a propósito das jornadas parlamentares do PS.

E caso a mensagem não estivesse clara, o socialista repetiu que agora o que interessa é o “conteúdo” das políticas e não com quem se aprova. “Na maioria das matérias, tivemos o gosto de termos o acordo dos partidos à nossa esquerda”, disse num tempo verbal passado. Agora é altura de deixar cair os apoios do passado em nome do “conteúdo” e, para isso, serve falar “com todos os partidos que concorrerem para o interesse nacional”.

Para mostrar que o PS já deixou de ter pudores em não se sentir obrigado a entender-se à esquerda, referiu que ainda há pouco tempo o PS chegou “a acordo com outro partido sobre a questão relativa ao sistema cadastral”.

Estas jornadas do PS em Viseu têm sido dominadas pelo tema da saúde. De manhã, César apontou baterias ao BE e ao jantar decidiu suavizar os ataques, ignorar a existência desses problemas e pressionar os partidos, lembrando que nenhum tem motivos para se colocar de fora de uma solução. “Na Lei de Bases da Saúde foram aprovadas 25 propostas do PCP, 12 do Bloco de Esquerda, 11 do PSD e 4 do CDS, mostrando que na lei em que estamos a trabalhar, todos tivemos preocupações em que fosse durável, abrangente e reflectindo uma nova orientação de política de saúde para o nosso país”.

E essa “nova orientação” resume-se, ao “primado do SNS na prestação dos cuidados. O da importância primeira e essencial para intervenção do Estado na prestação de cuidado”, mas também que “essa prestação não seja prejudicada pela incapacidade do Estado” e que por isso “venha a ser feita de forma supletiva com o sector privado”.

É aqui que se insere a divergência, sobretudo com o Bloco de Esquerda e que parece ser uma questão insanável.

Estas jornadas parlamentares, que se realizam esta segunda e terça-feira em Viseu, são as últimas da legislatura e Carlos César decidiu transformar o seu discurso no jantar desta segunda-feira como um balanço do trabalho que o partido fez no Parlamento. Para o líder parlamentar, o “Governo não teve de se relacionar com seis partidos, mas com sete”. “Assumimos sempre a nossa autonomia no quadro parlamentar e com isso contribuímos para a melhoria da acção governativa”, defendeu.

Apesar de ainda estarem pendentes alguns dossiers complicados, César já olha para o futuro a seguir, as eleições legislativas, e depois de pedir um “aplauso vibrante” a António Costa – que não foi assim tão vibrante, talvez pelo primeiro-ministro só chegar na terça-feira – pediu que as próximas eleições legislativas seja “uma manifestação por parte dos portugueses nessa base de confiança” e que sejam um “sufrágio sobre a confiança”. “E a confiança é hoje representada pelo PS”, acredita.

No fim do discurso, uma espécie de caderno de encargos para os autarcas e para a próxima legislatura: aprofundar a descentralização para a transformar numa maior... regionalização?

 A palavra nunca foi dita por César, mas esteve sempre latente, quando defendeu que à semelhança do que foi feito com as regiões autónomas, dando-lhes maior autonomia, deveria ser feito nos municípios. Até porque Portugal deixou de ter problemas de “desagregação do Estado” quando deu mais poderes às regiões autónomas, defendeu. Agora, houve um “início firme e determinado de um caminho que fizemos e que deve levar a uma maior administração das regiões pelas próprias regiões... dos municípios pelos municípios”, acrescentou.

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