Dez anos depois da morte, Michael Jackson sobrevive aos escândalos
Esta terça-feira passam dez anos sobre a morte de uma das celebridades pop mais veneradas do planeta, com uma vida de feitos artísticos e números astronómicos que parecem não se ressentir das acusações e polémicas.
Eram 14h26 da tarde em Los Angeles, noite em Portugal, quando se soube em todo o mundo. A 25 de Junho de 2009 morria Michael Jackson. Faz esta terça-feira dez anos. Aos 50 anos desaparecia inesperadamente uma das maiores celebridades de sempre da música e cultura popular, quando se preparava para regressar aos palcos com uma série de concertos intitulados This Is It – mais tarde, nome do documentário onde o veríamos a cantar e a dançar nos ensaios com dignidade e vitalidade intactas.
Depois de anos de reclusão, após o mediático julgamento por abuso sexual de um rapaz de 13 anos (do qual sairia absolvido de todas as acusações em 2005) preparava o seu retorno à actividade, com 50 espectáculos previamente esgotados na 02 Arena de Londres. Mas acabaria vitimado por doses letais de propofol e benzodiazepina. Durante meses não se falou de outra coisa. Todos os dias eram produzidas notícias acerca dele, com a sua vida, comportamento e obra escrutinados ao milímetro. Um furor mediático global que passados todos estes anos não se desvaneceram.
Nunca parou de ser notícia. Quando todos os ângulos já parecem ter sido evidenciados, todas as evocações e homenagens realizadas, há sempre mais qualquer coisa para adicionar. Em 2011, o médico particular que o acompanhava, Conrad Murray, foi julgado e condenado a quatro anos de prisão por homicídio involuntário. E ainda esta segunda-feira foram reveladas fotografias do dia da morte, que terão sido captadas por elementos da polícia, segundo os produtores de um novo documentário – Killing Michael Jackson – que as divulgaram. Nelas vemos bonecas, remédios espalhados no quarto ou post-its com mensagens obscuras.
Mas foi em Março deste ano que se voltou a acender o semáforo da polémica à sua volta, através de um outro documentário, Leaving Neverland, contendo o relato credível de dois homens adultos que alegadamente terão sido abusados sexualmente, em crianças, por Jackson. As ondas de choque ainda não se desvaneceram e a sua música foi banida de algumas rádios, em países como o Canadá ou a Nova Zelândia, mas parecem casos pontuais. Ao contrário do que sucedeu noutros escândalos recentes – de Bill Cosby a Harvey Weistein ou R. Kelly – não lhe foram retiradas honrarias, nem os museus que possuem artefactos seus os recolheram ou a sua música deixou a publicidade ou os espectáculos.
Thriller, ainda o mais vendido da história
Ao contrário dos outros casos enunciados, já não está cá para se defender e isso, junto da opinião pública, parece ter alguma relevância, dizem os analistas que professam que aqueles que o consideravam anteriormente culpado e inocente, não alteraram os seus pareceres. O merchandising à sua volta continua a vender (dizem os especialistas que apenas Marilyn Monroe se lhe compara). Os direitos autorais rendem. O seu património cresceu consideravelmente após a venda de direitos de músicas que havia adquirido. Em 2010 a Sony assinou com os herdeiros o maior acordo discográfico de sempre em cerca de 200 milhões de euros. O espectáculo Michael Jackson: ONE do Cirque du Soleil, em cartaz em Las Vegas desde 2013, tem datas confirmadas até Dezembro de 2019 e o musical da Broadway, Don’t Stop’ Till you get Enough, está confirmado para 2020. É neste momento o 85.º artista mais ouvido do mundo no Spotify, à frente dos Beatles, Prince ou Madonna. E o álbum Thriller, de 1982, continua a ser o registo mais vendido da história.
Do ponto de vista comercial, os impactos negativos, para já, parecem quase nulos. Segundo dados da Forbes, a família já terá arrecadado 2,4 mil milhões de dólares desde a morte do cantor. Ou seja, mais do que acumulou ao longo da vida – segundo as estimativas, na ordem dos 2 mil milhões. Outro dado relevante: entre 2010 e 2018, só não liderou a lista anual de celebridades mortas que mais receitas geraram no ano de 2012.
Depois da morte continua singular. Em vida, desde novo, começou a revelar faculdades especiais para cantar e dançar. O pai, Joe Jackson, percebeu-o e incentivou-o, mas fê-lo de uma forma quase militar, privando-o de uma infância vulgar. Depois vieram os Jackson 5 com os irmãos, a carreira a solo, o sucesso espectacular, as idiossincrasias. Aos 50 anos, há dez anos, quando se preparava para um regresso dramático, ninguém sabia do que ainda seria capaz artisticamente. Desse ponto de vista o mistério perdurará. Fica a frieza dos números e a adoração de milhões de pessoas em todo o mundo, que esta terça-feira recordarão onde estavam quando souberam que Michael Joseph Jackson morrera.