Boris apareceu no debate onde ninguém convenceu
Cinco candidatos à sucessão de May no Partido Conservador e no Governo britânico debateram na BBC e não conseguiram dar respostas cabais às perguntas dos espectadores. Horas antes, Boris Johnson voltou a vencer mais uma votação.
Os cinco candidatos à liderança do Partido Conservador britânico e à sucessão de Theresa May no Governo encontraram-se esta terça-feira nos estúdios da BBC para aquele que foi o primeiro debate — e previsivelmente o último — a contar com Boris Johnson, que horas antes foi novamente o mais votado junto dos deputados tories.
Durante uma hora, os candidatos responderam a perguntas de cidadãos de todo o território britânico sobre o “Brexit” (e sobretudo sobre a data de saída do Reino Unido da União Europeia), política fiscal, alterações climáticas, serviços sociais e islamofobia.
Questionados sobre como cada candidato planeia que a Câmara dos Comuns aprove o “Brexit” até 31 de Outubro (data final acordada pelos 27 chefes de Estado e governo da UE), Boris Johnson foi o primeiro a responder, esperando concretizar a saída até ao final desse mês. “Caso não saiamos até essa data, começaremos a pagar um preço demasiado alto. Os políticos precisam de agir com maturidade e sobriedade e admitir os seus erros”, referiu.
Já Jeremy Hunt admite sair sem acordo se este não for aprovado até essa data, mas privilegia a negociação de um novo prazo caso sinta que o acordo possa estar próximo a 31 de Outubro. Michael Gove, que referiu que já lutava pelo “Brexit” antes dos restantes candidatos, concordou com Hunt sobre a possibilidade de adiar a data de saída.
Sajid Javid, por sua vez, que referiu ser importante reconquistar a confiança dos eleitores, coloca de lado qualquer cenário de extensão do prazo.
Preparação para no-deal é atitude “responsável"
Ao longo do debate, os candidatos foram confrontados com as consequências reais do impasse no “Brexit”. “O meu marido trabalha na área imobiliária. Sem acordo, pode perder o emprego. Porque é que vocês estão sequer a contemplar a hipótese de uma saída sem acordo?”, inquiriu uma espectadora.
Na resposta, Michael Gove responde que o Reino Unido “tem de sair da UE” e que irá ultrapassar o impasse, admitindo alguma “turbulência económica” em caso de saída sem acordo, mas defendendo que o país deve “colocar a democracia em primeiro lugar”.
O candidato Rory Stewart, por sua vez, sublinhou a obrigatoriedade da aprovação de um acordo no Parlamento, recordando a aprovação de moções pela Câmara dos Comuns contra um “Brexit” sem acordo, e afirmou que nunca aceitaria uma saída desordenada da União Europeia. Ao que Jeremy Hunt respondeu que Stewart estava a abrir a porta à desistência do “Brexit” na sua totalidade.
Já Boris Johnson disse que a preparação para uma saída sem acordo é um acto “responsável”.
Pouca ambição no clima
Para além do “Brexit”, também as alterações climáticas dominaram parte do debate conservador de terça-feira, com uma espectadora de 15 anos a questionar os candidatos sobre se o Reino Unido conseguiria atingir a neutralidade carbónica até 2025.
‘Não’ ou ‘nim’ foram as respostas ouvidas: Jeremy Hunt atirou a meta para 2050 (tal como Stewart), sublinhando o carácter intergeracional do desafio; Boris Johnson disse apenas que o tema estaria “no centro” do seu programa político; Javid disse que os britânicos “não estão nem perto” do objectivo; Michael Gove, actual ministro do Ambiente, também não se comprometeu com uma meta, dizendo antes que a redução do consumo de plástico deve ser uma prioridade, tal como purificar o ar “que está a adoecer os pulmões dos nossos jovens”.
Erin, a espectadora de 15 anos, não ficou convencida. “Para ser honesta, nenhum de vós me impressionou da forma que eu esperava”, disse, acusando os cinco candidatos de estarem indisponíveis para tomar medidas “drásticas e críticas” na defesa do ambiente.
Johnson destacado, Raab eliminado
Na segunda votação da corrida à liderança tory, esta terça-feira, Johnson voltou a vencer destacado (recolhendo o apoio de 126 dos 313 deputados), e Dominic Raab foi eliminado, reduzindo o número de candidatos a cinco. Segue-se o “moderado” Jeremy Hunt, que juntou mais três votos aos 43 que trazia da primeira volta, mas que ainda está muito longe do antigo presidente da câmara de Londres.
Já os ministros Michael Gove, Rory Stewart e Sajid Javid reuniram 41, 37 e 33 votos respectivamente, com este último a conseguir o apoio de apenas um décimo dos deputados, o limiar mínimo para a manutenção na corrida, que Raab não alcançou. Esta quarta-feira realiza-se uma nova votação.