Quantos animais marinhos se podem salvar numa ida às compras? A ideia já ganhou um concurso
A maratona Innovathon — Ocean Edition decorreu entre sexta-feira e sábado em plena praia de Carcavelos e juntou um grupo de 120 jovens em busca de uma solução para a sustentabilidade dos oceanos (que pudesse ser aplicada na vida real).
O ambiente é de celebração quando terminam as 24 horas do Innovathon, uma maratona onde 120 jovens competiram entre sexta-feira e sábado pela melhor ideia para salvar os oceanos. Há muitas: algumas centram-se em aplicações que motivam os cidadãos a recolherem lixo, outras na questão do transporte marítimo, que, por ser o mais usado nas rotas comerciais, é responsável por uma grande parte das emissões de CO2. Há até quem sugira modelos de embarcações de transporte mais sustentáveis. Mas a vencedora acabaria por ser uma aplicação que ajuda as pessoas a perceber “quantos quilos de plástico poupam” ou “quantos animais marinhos conseguem salvar” através de uma escolha consciente nos supermercados.
A ideia valeu o primeiro lugar aos Inovatecos, uma equipa de cinco jovens do Instituto Superior Técnico (Lisboa) com idades entre os 19 e 20 anos. Com a ajuda da aplicação, o objectivo é resolver o problema do plástico que vai para os oceanos através da consciencialização dos consumidores. E alertar os cidadãos para os produtos que escolhem no momento em que vão às compras.
“Quando compramos numa grande superfície vamos ter uma factura, que vai estar associada a uma aplicação. A partir daí ganhamos ‘oceanos’, que é a nossa moeda virtual. Por exemplo, posso comprar três escovas de bambu e ganhar sete ‘oceanos’ na aplicação”, explica Gil Coelho, o elemento mais entusiasta do grupo. Esses ‘oceanos’ podem ser trocados por crédito nos cartões dos supermercados aderentes, ou até mesmo por doações à instituição preferida do utilizador.
“É algo mais simples, directo, e no qual qualquer pessoa consegue perceber o impacto das suas acções”, explica Gil Coelho durante o picth final de apresentação.
Eólicas e aquacultura: é possível?
Apesar do primeiro lugar, estes jovens Inovatecos não escondem que os seus mentores – que, ao longo das 24 horas, ajudaram os jovens a guiar as suas ideias nas mais diferentes áreas – foram “cruciais”: “Eles têm várias competências que nós não temos. O nosso instinto, como engenheiros, é o de correr para a tecnologia, e tivemos de andar aqui algumas horas a debater ideias”, confessa Gil Coelho.
A presidente do júri, Helena Silva, explicou que numa maratona de 24 horas é natural que os concorrentes fiquem mais confusos: “Há sempre uma altura em que é o caos. Os mentores servem para isso mesmo, para procurar focar numa boa solução”, afirma.
O apoio dos mentores também foi mencionado pelos Ocean Keapers, um dos grupos que entrou no pódio. Constituído por cinco jovens de biologia marinha, a questão da aquacultura acabou por dividir o grupo, que tinha ideias muito diferentes sobre como resolver o assunto. Acima de tudo, todos eram contra a ideia. “O nosso maior problema foi o facto de, eticamente, sermos contra a aquacultura que é praticada pelas empresas, mas que é mais rentável. Tivemos 11 horas deste desafio a batalhar nisso”, revela Maria Costa, uma das participantes.
Foi através da ajuda de três mentores que redireccionaram a ideia – criar uma aplicação que aproxime os cidadãos comuns do conhecimento científico marinho (através de linguagem mais simples), mas também uma plataforma que sirva de comunicação entre os cientistas.
Esta plataforma para cientistas teria por base a tecnologia de tagging, que faz a monitorização das rotas de migração de determinados indivíduos (animais) de uma certa espécie. Decidiram focar-se nas espécies com mais interesse para o ecoturismo, como os golfinhos e as baleias.
Se este grupo não conseguiu contornar a questão da aquacultura, o grupo dos Stormbreakers conseguiu apresentar uma solução, que também conseguiu um lugar no pódio. A sua ideia é a de juntar a aquacultura a empresas eólicas, que têm infra-estruturas em alto mar.
“O oceano é muito mais agressivo em alto mar, são precisas estruturas mais fortes, que são caras. Queremos aproveitar as estruturas já existentes das eólicas e usar a sua energia para automatizar os sistemas de aquacultura. Aqui, até a empresa eólica fica a ganhar – vende a energia para a empresa de aquacultura e aluga a infra-estrutura”, explica o engenheiro informático Pedro Oliveira.
Novos desafios
Os três grupos com as melhores soluções ficaram qualificados para a competição internacional do Innovathon, que acontecerá em Lisboa no próximo ano. No entanto, o que mais entusiasma as equipas é a possibilidade de verem as suas ideias tornadas realidade através de uma parceria com a Centre of Engineering and Product Development (CEiiA), que nos próximos 12 meses trabalhará em conjunto com os jovens para implementar os seus projectos.
“Estamos prontos e muito animados. Não imaginava que chegássemos a este ponto antes de vir para cá. É muito bom existir gente qualificada e que entende do assunto a ajudar-nos a levar isto para a frente”, conta Pedro Oliveira.
O grupo com o primeiro lugar tem ainda a oportunidade de participar numa maratona tecnológica em Oslo (Noruega) no final deste ano. “É um novo desafio. Já temos um grande apreço pelo CEiiA, que faz um trabalho muito interessante e importante cá em Portugal. É um grande privilégio poder desenvolver trabalho com eles”, conclui Gil Coelho.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva