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O Rolling Stone dos vinhos do Alentejo brilhou no Rio

Prova vertical do Pêra-Manca no evento Vinhos de Portugal demonstrou aos enófilos brasileiros que não há duas colheitas iguais, ainda que a identidade e a excelência seja a mesma.

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Pedro Baptista, enólogo do Pêra-Manca, a conversar. À esquerda, o crítico de vinhos brasileiro, Jorge Lucki Eduardo Uzal

A sala de provas estava cheia, os bilhetes, vendidos com antecedência, tinham esgotado em menos de uma hora. Percebe-se porquê: uma prova vertical de Pêra-Manca, com as quatro últimas safras deste vinho ícone do Alentejo, é algo bastante raro. A presença do enólogo-chefe da Fundação Eugénio de Almeida, Pedro Baptista, e de um dos maiores críticos de vinho brasileiros, Jorge Lucki, era a pedra de toque que completava o evento. Com as suas explicações, as notas de aroma e sabor de cada gole ganham nome, sentido e história.

Primeiro a história. É preciso recuar meio milénio para encontrar a origem do nome Pêra-Manca. No tempo das explorações marítimas portuguesas, ali na zona do Convento do Espinheiro, em Évora, existiam vinhas com muitas pedras graníticas soltas, que oscilavam debaixo dos pés. As pedras oscilantes deram o nome ao vinho que ali se fazia: Pedra-Manca depressa virou Pêra-Manca. Em inglês, Rolling Stone.

Conta-se que Pedro Álvares Cabral levava pipas deste vinho, ainda sem este nome, quando desembarcou pela primeira vez no Brasil. Mas foi preciso passarem quase 500 anos até se tornar o vinho-ícone que é hoje. Em 1987, mais de um século depois do primeiro vinho que recebeu o nome Pêra-Manca e seis décadas depois de se deixar de fabricar, a Fundação Eugénio de Almeida recebeu a marca do herdeiro da Casa José Soares, com o compromisso de que só o melhor vinho da fundação receberia o vetusto nome.

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Renata Monti

O primeiro Pêra-Manca tal como o conhecemos, mas feito com as mesmas castas de antanho, saiu da colheita de 1990. “Para criar um ícone, não basta fazer um vinho de qualidade. O segredo é a qualidade consistente e a identidade”, explica Jorge Lucki às duas dezenas de pessoas que conseguiram participar na prova. A identidade vem da maturidade das vinhas e do cuidado directo, bago a bago, do enólogo Pedro Baptista.

“O meu trabalho é muito fácil porque as uvas fazem tudo”, diz com humildade o enólogo. Parece fácil, mas não é, como acaba por revelar. As vinhas foram cuidadosamente estudadas durante 15 anos, as castas são as tradicionais do Alentejo, Aragonez e Trincadeira, mas depois tudo conta: os solos, o clima, a vindima no momento exacto, a selecção uva a uva com a ajuda de inteligência artificial, a fermentação espontânea, o contacto com a pele das uvas, as diferentes fases de estágio, duas em carvalho francês e outra em garrafa.

E depois a decisão final, que faz com que só os vinhos com muita identidade assumam o rótulo-estrela. Se não atingirem aquele patamar, serão engarrafados como Cartuxa Reserva (75 mil garrafas) ou Cartuxa Colheita (500 mil garrafas). O Rolling Stone dos vinhos fica-se pelas 20 ou 30 mil.

Não há dois Pêra-Manca iguais, como pudemos comprovar. O tinto 2014, que só chegou ao mercado há dois meses, tem a Trincadeira como casta principal, uma safra invertida, pois costuma ser o Aragonez a dominar. “Foi um ano que nos pregou um susto”, conta Pedro Baptista. “A Primavera e o Verão tinham sido amenos, mas a partir de 10 de Setembro veio a previsão de chuva para não mais parar. O que nos ajudou foi o estado de maturação da uva e a capacidade de antecipar a vindima.” As notas de fruta e especiarias dominam na degustação.

Em 2013, o ano foi seco e permitiu uma boa concentração. No tinto desse ano, também com predominância de Trincadeira, sobressaem as notas aromáticas de alcaçuz. A colheita de 2012 não alcançou o patamar necessário para receber o rótulo, depois de a Primavera fantástica de 2011 ter permitido um Pêra-Manca com acidez marcada, frescor de fruto e notas de manjericão.

O ano anterior tinha sido chuvoso e deu muito trabalho para tentar domar uma vinha que não queria parar de crescer. “Tivemos de retirar mais de metade da uva que a cepa tinha para garantir a qualidade dos vinhos”, conta Pedro Baptista. Apesar disso, o Pêra-Manca 2010 tem um bom equilíbrio entre a concentração e o frescor.

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Luís Sottomayor, enólogo do Barca Velha (Sogrape e Casa Ferreirinha) durante a prova do vinho Eduardo Uzal

Luís Sottomayor, produtor do Barca Velha, o vinho-ícone do Douro, veio assistir e participar. Provou, tomou notas e no final aplaudiu. Quem disse que a concorrência é feroz?

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