Com a ajuda de morcegos, descobriu-se uma nova borboleta nocturna
Além de Portugal, a nova espécie de borboleta também habita no Sul de França.
O que é que um morcego tem a ver com uma borboleta? Esse mamífero pode dar-nos pistas para desvendarmos novas espécies. Foi isso que aconteceu com cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio), da Universidade do Porto, que descobriram uma nova espécie de borboleta nocturna em Portugal com a ajuda de duas espécies de morcegos-de-ferradura. O anúncio foi feito na última edição da revista científica Zootaxa.
Para esta investigação, começou por analisar-se a dieta de morcegos do Norte de Portugal com o objectivo de “identificar as diferentes espécies de insectos das quais os morcegos se alimentavam” e poder contribuir para o “combate às pragas agrícolas”, explica-se num comunicado do Cibio-InBio sobre o trabalho.
“Para isso, os investigadores analisaram o conteúdo das fezes dos morcegos recorrendo a uma técnica conhecida por código de barras de ADN [pequenos segmentos genéticos que permitem distinguir as espécies]”, adianta-se no comunicado.
Através desta técnica, a equipa descobriu um novo segmento de ADN que viria a ser uma pista determinante. Vanessa Mata, investigadora do Cibio-InBio, refere no comunicado que esse segmento de ADN analisado “era semelhante ao de uma borboleta, contudo, distinto das espécies já conhecidas”.
Depois dessa constatação, a equipa regressou ao sítio onde já tinha recolhido as fezes de morcegos das espécies Rhinolophus ferrumequinum e Rhinolophus euryale e encontrou “algumas borboletas com anatomia claramente diferente das espécies já conhecidas e cujo ADN era perfeitamente compatível com o novo código de barras encontrado nas fezes dos morcegos”, lê-se no comunicado.
Estava assim descoberta uma nova espécie de borboleta. Como as duas espécies de morcegos-de-ferradura que contribuíram para a descoberta desta espécie pertencem ao género Rhinolophus, a nova espécie de borboleta foi nomeada de Ypsolopha rhinolophi. Após uma investigação junto dos exemplares de borboletas presentes em diferentes museus de história natural, verificou-se que a nova espécie também habita no Sul de França.
“Espera-se que esta colecção de referência do Cibio-InBio seja uma ferramenta fundamental para a monitorização da biodiversidade a longo prazo e em larga escala na Península Ibérica e, seguramente, na identificação de mais espécies por enquanto desconhecidas da ciência”, frisa-se no comunicado.