Derrota de Rahul Gandhi no estado do clã mostra a fragilidade do Partido do Congresso
“O Congresso devia ver-se livre da dinastia”, disse o conhecido historiador e colunista Ramachandra Guha.
Honesto, inteligente e aberto a novas ideias é como o Partido do Congresso descreve o seu presidente, Rahul Gandhi. Mas a sua prestação nas eleições na Índia foi tão má que nem conseguiu eleger-se deputado pelo estado que é o feudo tradicional da sua família, o Uttar Pradesh.
O Bharatiya Janata Party (BJP), partido do primeiro-ministro Narendra Modi, ganhou as eleições e a contagem dos votos dizem que vai conseguir mais de 300 lugares no Parlamento, para apenas 49 do Congresso.
Actuais e antigos dirigentes do partido dos Gandhi dizem que este resultado se deve a uma campanha sem brilho e à falta de renovação da equipa dirigente.
“Se querem mudar alguma coisa, mudem a liderança”, disse uma fonte do Congresso do estado ocidental do Rajastão, referindo-se à velha guarda à volta dos Gandhi. “Temos que dar oportunidade aos mais jovens.”
Esta fonte é uma das cinco actuais e três antigos líderes que disseram à Reuters que Rahul Gandhi cometeu um erro ao não afastar os velhos dirigentes responsáveis pelo desaire eleitoral de 2014 e abrir espaço para uma renovação. Todos pediram para ficar anónimos.
O gabinete de Gandhi não respondeu aos pedidos para uma entrevista.
Ainda assim, Gandhi, de 48 anos, continua sólido no partido que governou a Índia durante quase toda a sua História desde a independência do Reino Unido, em 1948, e a sua liderança não deve ser desafiada no imediato.
Mas a queda contínua do Congresso fez surgir perguntas sobre o futuro e o papel da dinastia.
Os indianos mais jovens têm dificuldade em aceitar que Gandhi tenha sido nomeado presidente do partido apenas devido à sua linhagem, por ser filho e neto de primeiros-ministros, disse o conhecido historiador e colunista Ramachandra Guha. “O Congresso devia ver-se livre da dinastia”, escreveu no Twitter.
Em Maio de 2014, depois do mais desastroso resultado eleitoral do partido, que conseguiu eleger apenas 44 deputados, Gandhi disse aos jornalistas: “Temos muito em que pensar e, como vice-presidente, considero-me responsável”.
Cinco anos depois, o seu partido foi sovado pelo partido de Modi e Rahul Gandhi perdeu em Amethi, no Uttar Pradesh (acabou eleito deputado por outro estado, no Sul da Índia).
Fracas colheitas e falta de emprego
O Congresso não foi capaz de contrariar a campanha de Modi assente na segurança nacional, depois de um confronto com o rival Paquistão em Caxemira.
No final do ano passado, a esperança do Congresso fazer de facto frente a Modi aumentou, depois de ter ganho três estados em eleições locais devido sobretudo às preocupações dos eleitores com as fracas colheitas e a falta de empregos.
Mas o Congresso falhou a comunicação com os eleitores em áreas consideradas essenciais, e este ano fez uma campanha que passou ao lado até de muitos funcionários do partido. E não conseguiu fazer alianças pré-eleitorais em estados-chave, disseram as fontes que falaram com a Reuters.
Campanha com atraso
A campanha foi substancialmente atrasada devido a desentendimentos entre Anand Sharma, 66 anos, um dos líderes do Congresso no parlamento, e dois outros altos responsáveis do partido, disseram duas fontes.
Sharma negou as acusações e disse que montar a campanha foi um processo complexo. “Não houve atraso algum na campanha do Congresso”, respondeu.
A campanha foi lançada a 7 de Abril, quatro dias apenas antes do início da primeira ronda de votações numa votação que durou 39 dias.
O apelido certo e o mentor certo
No Rajastão, onde o partido ganhou no ano passado, a escolha de Ashok Gehlot, de 68 anos, como ministro-chefe do estado, em vez de Sachin Pilot, de 41 anos, foi prejudicial pois fez o Congresso perder o apoio de uma casta crucial na política local. Resultado, o BJP elegeu os 25 deputados em disputa para o Parlamento nacional.
Gandhi está rodeado de “bajuladores”, disse um antigo dirigente do Congresso que se juntou a uma formação rival já este ano. “Não importa se tens mérito ou talento”, acrescentou. “O que importa é se tens o apelido certo e o mentor certo.” A linhagem de Gandhi tem sido explorada por Modi, um antigo vendedor de chá.
No Uttar Pradesh, o estado que mais deputados elege na Índia, o Congresso apresentou este ano um trunfo, Priyanka Gandhi Vadra, a carismática irmã de Rahul. Mas a jogada não teve qualquer resultado.