Tratam o bordado como a tradição que é, mas sem nunca o levarem a sério. Catarina Capelo e Rute Ferreira, designers de 27 e 25 anos, usam a criatividade para mudar o que as pessoas pensam dos desenhos feitos com agulhas.
As “duas bordadeiras ‘tugas’ com humor certeiro”, como se apresentam, trabalham juntas, em Lisboa, na área do design de comunicação e em conversa descobriram que partilhavam o mesmo passatempo: “Um dia estávamos a falar de hobbies e a Rute disse-me que gostava de bordar”, conta Catarina, que na altura até pensou que a amiga “fazia aquelas coisas meio foleiras da avozinha”. Confessou-lhe que também fazia ponto de cruz, “daqueles bordadinhos para quartos de miúdos”, Rute achou piada e lançou uma ideia: “E se fizéssemos alguma coisa mais original?”. Foi assim que nasceu o projecto d’enfiada.
O nome vem da forma como as ideias para os bordados aparecem, explica Catarina, ao telefone com o P3: “Gostamos sempre de mandar muitas piadas e estamos sempre atentas a conversas no trabalho, na rua... Surgem ‘d’enfiada'”. Fazem bordados em meias, molduras, bastidores e t-shirts. Em breve, vão “começar a ter peças novas, mas muito dentro desta linha”.
Não aceitam fazer coisas maçadoras. Começaram por fazer bordados com frases e expressões engraçadas, mas agora procuram ter conteúdo próprio. Original, sempre sem perder o humor: “Por exemplo, quem vê um coração e lê ‘Ainda bem que vieste’ acha que é uma coisa fofinha, mas é uma frase que eu uso muito no sentido ‘Olha, se foi para isto, ainda bem que vieste’, naquele tom irónico”, explica Catarina.
Para além dessa expressão, a frase “Ainda agora cheguei e já me arrependi” ou formatos como “Home is where...” são os que têm mais sucesso. Os trabalhos por encomenda personalizados também são muito requisitados, até porque Catarina e Rute tentam sempre “marcar pela diferença” para que o resultado final não seja “o que qualquer outra marca ou pessoa pudesse fazer”.
A jovem dá um exemplo: “Uma vez tivemos um pedido para uma peça de uma rapariga que estava grávida e [a peça] era para o filho que ia nascer. Queria bordar o nome do bebé.” Um pedido que não se enquadra naquilo que fazem — seria preciso dar um toque de originalidade. “Eu pensei que o bebé vai chorar, vai fazer cocó... E que tal um aro ou uma moldura que diga 'home is where the poop is' ou 'the fart is'?”. A mãe gostou da ideia.
O projecto ainda não fez um ano — começou em Setembro de 2018 — e ainda é uma ocupação em part-time das fundadoras. “As poucas horas em que não estamos a dormir são para pensar no projecto, bordar, ir a feiras e falar com as pessoas”, conta Catarina. Ainda não têm loja física e, fora as feiras e os mercados, o projecto funciona sobretudo através das redes sociais, com peças disponíveis entre os cinco e os 20 euros. O preço das encomendas personalizadas depende do tamanho do bordado.
Para o futuro, as criadoras têm planos para “tornar a marca maior e fazer algumas coisas um bocadinho diferentes”, ideias que ainda estão “em construção”. O feedback tem sido bom e acreditam que a d’enfiada vai sair “dos suportes tradicionais e escalar para uma coisa maior”. Sempre com uma certeza: “Não contem com o mesmo de sempre.”