Uma sondagem não é mais do que um retrato da realidade
Tudo aponta para que o PS seja o mais votado no próximo domingo.
Procuro aqui apresentar uma leitura técnica dos resultados desta sondagem, pois não me compete fazer qualquer leitura política. É meu objetivo contribuir para um enquadramento geral de como deverão ser lidos estes resultados, apontando as pistas e linhas de interpretação que me parecem mais adequadas.
Nenhuma sondagem deverá ser encarada como uma previsão ou aposta de resultados eleitorais. Uma sondagem não é mais do que um retrato da realidade, podendo estar mais ou menos desfocado, com mais ou menos ruído na imagem que transmite. Por todas as sondagens estarem sujeitas a erro, uma leitura do conjunto das sondagens tende a apresentar um retrato mais preciso do que a análise individual de cada uma. Em princípio, é nos valores médios de todas elas que encontraremos o retrato mais fiel da realidade. É por isso que em alguns países temos sites que se dedicam a fazer um apanhado das sondagens e a divulgar resultados do conjunto dos estudos eleitorais, privilegiando essa leitura global e menos casuística dos dados.
Em Portugal tivemos online um projeto desses, entretanto suspenso, mas cujos resultados ainda podem ser consultados no seu site. Para os mais interessados sobre esta temática recomento a leitura do livro do Pedro Magalhães Sondagens, Eleições e Opinião Pública, publicado em 2011, ou o artigo que publiquei em 2016 no Boletim da Sociedade Portuguesa de Estatística, no qual são analisadas as sondagens para as eleições de 2015. São dois trabalhos feitos a pensar no grande público com interesse por esta temática e não apenas no restrito nicho composto por técnicos e especialistas em estudos de opinião.
As sondagens até agora conhecidas indicam PS como partido mais votado, PSD em segundo lugar, e CDU, BE e CDS-PP muito próximos. Indicam também PAN e Aliança como os partidos que mais se destacam entre os partidos “pequenos”. A sondagem que hoje o PÚBLICO divulga distingue-se da maior parte das restantes por apresentar um intervalo maior entre PS e PSD, por apontar o BE ligeiramente à frente de CDS e da CDU e por reforçar as possibilidades de PAN e/ou Aliança elegerem um eurodeputado cada.
Mas o grau de confiança com que podemos dizer que este retrato, ou conjunto de retratos, será um bom indicador dos resultados de domingo é sempre mais reduzido nas Europeias do que nas restantes eleições. A típica baixa participação nestas eleições, uma maior percentagem de eleitores só decidir o seu sentido de voto durante a campanha eleitoral e, nesta eleição em particular, o surgimento de outros partidos a conquistarem partes relevantes do eleitorado questionam alguns dos pressupostos estatísticos nos quais assenta a base de extrapolação das sondagens e contribuem para que o desajustamento entre as sondagens e os resultados eleitorais seja maior nas eleições Europeias do que em Legislativas ou Presidenciais. Aliás, o mesmo se verifica também em alguns contextos locais muito específicos nas eleições autárquicas.
Ainda assim, tendo em conta as sondagens conhecidas, tudo aponta para que o PS seja o mais votado no próximo domingo. Quanto a novos partidos no Parlamento Europeu, salvaguardando que poderão sempre existir surpresas — os votos que contam são os das eleições —, as indicações que temos são que PAN e Aliança são os que estão, neste momento, mais perto de poder eleger.