À beira Tejo há contentores que contam a história do plástico nos oceanos
A exposição Ocean Plastics Lab chegou a Lisboa e alerta-nos sobre os problemas do plástico. É possível visitá-la gratuitamente em frente ao Pavilhão do Conhecimento.
Numa mesa entre contentores, mesmo em frente ao Pavilhão do Conhecimento (em Lisboa), Henrique Antunes tem uma missão: transformar um frasco de champô que trouxe de casa num porta-lápis em forma de tubarão. Entusiasmado, o aluno de 12 anos do Centro de Educação e Desenvolvimento Nossa Senhora da Conceição da Casa Pia manuseia tesouras, cola e papel. “Queria fazer barbatanas”, diz a uma monitora. Esta actividade faz parte da exposição itinerante Ocean Plastics Lab, que Henrique Antunes veio visitar com os colegas de turma.
Depois de terem passado por Turim, Paris, Bruxelas, Washington D.C., Otava e Berlim, chegou a vez dos quatro contentores da Ocean Plastics Lab se instalarem em Lisboa. “Queremos aumentar a consciencialização sobre o problema do plástico e mostrar às pessoas que são parte e solução do problema.” É desta forma que Julia Schnetzer, coordenadora científica da exposição, resume os objectivos da Ocean Plastics Lab enquanto nos faz uma visita guiada.
A ideia que originou esta exposição surgiu na reunião dos sete maiores países industrializados (G7) em 2015, em Schloss Elmau, na Alemanha. Na altura, queria desenvolver-se uma campanha internacional sobre os plásticos nos oceanos. A Ocean Plastics Lab veio então a ser criada pelo Ministério Federal da Alemanha para a Educação e Investigação em colaboração com o Consórcio de Investigação Marítima Alemã e o apoio da Comissão Europeia e de outros parceiros internacionais.
Aberta desde terça-feira em Lisboa, será inaugurada esta quinta-feira à tarde – no Dia Marítimo Europeu e no Dia Nacional dos Cientistas – numa cerimónia que terá a presença de Wilfried Kraus, director da Cooperação Europeia em Educação e Investigação do Ministério Federal alemão para a Educação e Investigação, e Sigi Gruber, directora da Unidade de Recursos Marinhos, da Direcção-Geral de Investigação e Inovação da Comissão Europeia.
Até 26 de Maio, é possível visitá-la gratuitamente e marcar visitas-guiadas para escolas. “Esta exposição reúne o que se sabe cientificamente sobre o plástico, como o seu tempo de degradação e os microplásticos”, indica Ana Noronha, directora-executiva da agência Ciência Viva, que acolheu esta exposição.
Instalados à beira Tejo, os quatro contentores da exposição exploram diferentes aspectos da história dos plásticos nos oceanos. “É como se fossem contentores de navios”, refere Julia Schnetzer. Falando em contentores, todos os anos são depositados nos oceanos entre 4800 e 12.700 milhões de quilos de plástico, o que equivale a 35 contentores de plástico a cada hora.
Logo no primeiro contentor há uma instalação com garrafas ou redes de pesca. Todo este plástico foi recolhido na ilha havaiana de Kahoolawe. “Fiquei impressionado com o lixo que encontraram, principalmente com a gaivota [barco a pedais]”, diz Henrique Antunes. Nesse contentor há dados alarmantes, como: todas as espécies de tartarugas ingerem ou ficaram presas em plástico e apenas 9% de todos os plásticos produzidos são reciclados.
No segundo contentor – designado Ver o Lixo –, mostram-se métodos usados pelos cientistas para estudar a poluição dos plásticos. Há entrevistas a investigadores e uma explicação sobre as cinco grandes correntes oceânicas (os giros). Henrique Antunes ficou mesmo surpreendido com os giros: “Já sabia que existiam, não sabia era que tinham tantos plásticos.”
Já no terceiro contentor – Detectar Impactos –, descreve-se o que acontece ao plástico quando chega aos oceanos. Julia Schnetzer pede para observarmos um tubo com pequenos plásticos azuis (de um saco) e rosas (de uma embalagem de iogurte). Os plásticos azuis flutuam, mas os rosas vão para o fundo do tubo. “Serve para mostrar que nem todos os plásticos flutuam e que muitos vão parar ao fundo do mar.” Por fim, no quarto contentor – Construir Co-Soluções – mostra-se como cidadãos, empresas e governos podem reduzir o consumo de plástico. Há um painel com projectos que tentam resolver este problema e um jogo para resgatar plástico do oceano.
Uma peça de teatro
Ao lado de Henrique Antunes, está Luciano Ghiuta, de 12 anos, a fazer uma carteira com uma embalagem de leite. “Já que a utilizei para beber leite agora aproveito-a para fazer uma bolsa.” Também ele não ficou indiferente à exposição: “Achei muito preocupante a quantidade de lixo que existe nos oceanos. Nunca pensei que houvesse tanto.”
Já Daniela Santos está a fazer um porta-lápis com penas de muitas cores. “Vou chamar-lhe porta-lápis penudo!” Durante a exposição, a aluna de 11 anos nem queria acreditar quando lhe disseram que as garrafas de plástico não ficam todas à superfície. E tem tentado ajudar a resolver o problema: nos piqueniques com a sua mãe já não leva sacos de plástico. “Levo sempre sacos reutilizáveis.”
Apesar de terem saído preocupados, os três alunos sabiam ao que vinham. “Na escola temos um projecto que se chama ‘Mar de Encontros’”, avisa Henrique Antunes. Nesse projecto, aprendem mais sobre a poluição de plástico nos oceanos. Por exemplo, limparam uma praia e utilizaram o lixo marinho para fazer um globo terrestre. Esta quarta-feira estreiam uma peça de teatro no Museu dos Coches, em Lisboa. Chama-se também “Mar de Encontros” e simula uma reportagem sobre uma epidemia de plástico na sua escola. Os alunos representarão outra vez a peça a 22 de Maio, desta vez no Centro de Educação e Desenvolvimento Nossa Senhora da Conceição da Casa Pia, integrado no programa Escola Azul, do Ministério do Mar.
Entretanto, Henrique Antunes termina o tubarão. Está satisfeito e não tem dúvidas: “Vou usá-lo para meter a minha escova de dentes e material escolar.” Assim, está a reutilizar plástico que podia ter tido um destino infeliz nos oceanos.