Directores temem mais o desânimo dos professores do que uma nova greve
Conselhos de turma passaram a reger-se pelo Código do Procedimento Administrativo, o que esvaziou os efeitos de uma greve às avaliações. Dirigentes preocupados com o desgaste emocional que mais de um ano de discussão tem provocado entre os docentes.
O “chumbo” da contagem integral do tempo de serviço dos professores, na votação final desta sexta-feira, é um dado praticamente adquirido. E nas escolas já se antecipam os efeitos da decisão. Uma eventual nova greve às avaliações, no final do ano lectivo, é menos temida pelos directores do que os efeitos do desgaste emocional que mais de um ano de discussão em torno das carreiras dos docentes tem provocado na classe.
Dulce Chagas, directora do Agrupamento de Escolas de Alvalade, em Lisboa, sintetiza essa ideia. “Mais do que uma eventual greve” que possa vir a ser convocada pelos sindicatos, o que a preocupa “é a falta de motivação” dos professores. “Precisamos de pessoas mobilizadas para lançar o próximo ano lectivo e os professores estão a ficar muito fartos disto tudo”, expõe. Enquanto decorrem as aulas, todos “estão preocupados em fazer um bom trabalho”. “Os problemas virão depois.”
Ainda antes de o diploma sobre a contagem do tempo de serviço ter voltado ao Parlamento, os sindicatos já tinham ameaçado fazer greve às avaliações, a partir de 6 de Junho – se assim for, têm até 22 de Maio para fazer o pré-aviso. As estruturas sindicais vão reunir na próxima semana para avaliar uma reacção à votação desta sexta-feira.
No ano passado, os sindicatos convocaram greves às reuniões de avaliação, que acabariam por ser contornadas, mais de um mês depois do seu início, pelo estabelecimento de serviços mínimos – que o Tribunal da Relação de Lisboa acabaria por considerar ilegais, meses depois.
Depois da greve, em Agosto, o Ministério da Educação publicou uma portaria através da qual passou a sujeitar as reuniões de avaliação ao Código do Procedimento Administrativo. Deste modo, os conselhos de turma passam a poder realizar-se com um terço dos seus elementos. Até então tinham de estar todos presentes.
Por causa dessas mudanças, “um tipo de greve como a do ano passado não terá efeitos”, lembra o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira. “Não me parece que o final deste ano possa ser como o do ano passado”, em que as escolas “estiveram perto do caos”, defende, no mesmo sentido, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas. Este dirigente acredita que os sindicatos possam, por isso, apostar as suas energias em discutir a questão com o próximo Governo.
Quem dirige as escolas faz um retrato de uma classe desgastada. Os professores estão “estourados e desanimados”, classifica Rosário Queirós, do Agrupamento de Escolas Clara de Resende, no Porto. A crise política da última semana não ajudou o estado de espírito. Os docentes sentem que “foram usados”, considera João Jaime, director da Escola Secundária de Camões, em Lisboa. “Foram uma arma de arremesso entre os partidos”, concorda Manuel Pereira. Mas, por muito que ao longo de uma semana “toda a gente tenha falado dos professores”, “ninguém falou com os professores”, lamenta.
Os directores contactados pelo PÚBLICO são, porém, unânimes em afirmar que o desânimo não atinge os alunos. “Na sala dos professores fala-se disto. Na sala de aulas não”, garante Rosário Queirós. “No momento em que se tem os alunos à frente, esquecem-se todos os outros problemas”, justifica Dulce Chagas.