Sánchez quer um pacto parlamentar com o Podemos, não uma coligação de governo

O mal-estar é notório no partido de Pablo Iglesias, que teme a movimentação do centro-direita para impedir a chegada do Podemos aos ministérios.

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O encontro entre Iglesias e Sánchez está marcado para a tarde de terça-feira Reuters

O PSOE de Pedro Sánchez, que venceu sem maioria as eleições legislativas espanholas de 28 de Abril, quer avançar sozinho para a formação de um governo minoritário. E pretende oferecer ao Unidas Podemos um pacto de apoio ao programa do executivo e não uma coligação e ministérios, ao contrário do que pretende Pablo Iglesias.

A opção de Sánchez pode comprometer a investidura. E vão ser cruciais as conversações entre os dois dirigentes no início da semana que vem, já perturbadas com o anúncio de que o chefe do PSOE vai receber os dirigentes de todos os partidos por ordem de representação parlamentar. Isso atira para o último lugar, na tarde de terça-feira, o encontro com Iglesias e o seu Podemos, cujos deputados são essenciais para viabilizar um novo governo socialista e que esperava fazer parte da equipa ministerial. 

O El País diz que Sánchez (que elegeu 123 deputados, a maioria absoluta faz-se com 176) está decidido a governar sem coligações e que não quer sair dessa linha. Pretende propor também pactos ao Partido Nacionalista Basco (que elegeu seis deputados). 

“A nossa intenção é ter um governo como o actual, sozinhos, mas com vontade de chegar a acordos com outros partidos, se bem que preferimos fazê-lo com Unidas Podemos, com quem já há uma experiência de entendimento”, disse na quarta-feira o número três do PSOE, José Luis Ábalos, no comício do 1.º de Maio.

Estas palavras não agradaram a Pablo Iglesias – sobretudo quando perguntaram a Ábalos se o Podemos é essencial na formação de um novo governo socialista, como o partido de Iglesias tem defendido, e aquele respondeu que “essa é uma interpretação subjectiva”.

Na quarta-feira, o anúncio dos encontros de Sánchez com todos os partidos apanhou o Podemos de surpresa, apesar de Sánchez ter dito, durante a campanha, que pretendia falar com todos, caso vencesse as eleições. Iglesias comentou que é preciso saber o que vai Pedro Sánchez dizer, ou propor, aos partidos com quem vai falar primeiro, a partir de segunda-feira. O Partido Popular (direita) de Pablo Casado é o primeiro, assinalando que para Sánchez é ele o líder da oposição. Segue-se o Cidadãos (centro-direita) de Albert Rivera, que quase duplicou o número de deputados (57) e que começou a posicionar-se como o verdadeiro líder da oposição perante a derrocada do PP de Casado (passou de 137 para 66 deputados). O Vox (extrema-direita), que elegeu 24 deputados, não foi convocado. 

O mal-estar com este arranque de negociações para a formação do Governo é visível nos dirigentes do Podemos, dizem os jornais espanhóis. Temem que Sánchez, já relutante, seja pressionado pelos partidos que vai ouvir primeiro a excluí-lo do Governo – uma repetição do cenário de 2016. Nesse ano, e em posição de maior força, Iglesias (perdeu agora 29 lugares no Parlamento) exigiu ministérios e a vice-presidência e Sánchez avançou sozinho.

Casado e Rivera ainda não se pronunciaram. Mas a ex-dirigente popular Esperanza Aguirre já apelou ao PP e ao Cidadãos para facilitarem a governação solitária dos socialistas para evitar a entrada da “extrema-esquerda no Governo”, disse, citada pelo El Español. “O objectivo é que Sánchez não tenha de fazer nenhum pacto com o Podemos. Sánchez conseguiu governar com 84 deputados e pode voltar a fazê-lo com 123. Há que facilitar, de uma forma ou de outra”, disse Aguirre.

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