Maguy Marin, a grande sabotadora
Criadora essencial da dança contemporânea, a coreógrafa francesa regressa a Almada com Ligne de Crête, peça dura e sufocante, em que humanos quase autómatos limitam cada vez mais o seu espaço de acção.
Uma série de secretárias envidraçadas, cubículos quase sem espaço — apenas o suficiente para que homens e mulheres se sentem e cumpram com o seu dever funcional. Os gestos são feitos de automatismos, extirpados de qualquer emoção. E ao longo de toda a duração de Ligne de Crête, coreografia de Maguy Marin que foi “espectáculo-choque” da última edição da Bienal da Dança de Lyon, os intérpretes andam num corrupio, entrando e saindo de palco, voltando sempre com mais objectos que depositam num espaço cada vez mais saturado e claustrofóbico. Trazem detergentes, embalagens de papel higiénico, garrafas de sumo, mochilas, bonecas, quadros, fraldas, tudo aquilo que possa ser adquirido com um cartão bancário. Os percursos, individuais, pouco se cruzam, mal se dão conta de haver outros em seu redor e cumprem-se sem interrupções, num crescendo de angústia e mal-estar, sem qualquer vislumbre de saída.
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