Muito antes das companhias de aviação low cost terem surgido e revolucionado o mundo das viagens, viajar de avião era um luxo – que se materializava também na própria viagem. Aliás, experiência: viajar era uma experiência exótica e luxuosa nos anos de 1950 e 1960, a chamada “idade de ouro da aviação comercial”. Não em vão, a personagem de Leonardo Di Caprio, em “Apanha-me se Puderes” (Frank Abagnale, inspirado numa pessoa real, aliás), tinha a figura do piloto de avião como uma das fraudes mais bem-sucedidas. E também tinha o antigo terminal da TWA (histórica companhia de aviação já encerrada), no aeroporto nova-iorquino JFK, como a sua passerelle preferida. Este, abandonado em 2001, prepara-se para renascer: o que foi o epicentro do apogeu dourado da aviação comercial, cenário de filmes “época”, será, a partir de 15 de Maio, o único hotel dentro do aeroporto principal de Nova Iorque, o TWA Hotel.
Pelo que se anuncia, é um dos acontecimentos hoteleiros do ano na Big Apple e nos EUA e revoluciona o que se espera de um hotel de aeroporto (e não só porque este é no próprio aeroporto): esqueça-se a impessoalidade das cadeias de hotéis, onde apenas se busca um pouco de descanso entre um voo e outro, porque no TWA Hotel é mesmo a experiência que conta e esta significa um regresso à década de 1960.
Mais exactamente a 1962, data em que o edifício do arquitecto Eero Saarinen foi inaugurado, exemplo perfeito do estilo arquitectónico norte-americano chamado “Idade do Espaço” – em 2001 o terminal fechou por não poder acolher aviões de grande porte e a companhia, em funcionamento desde 1925, também encerrou portas. O edifício tem direito a registo municipal e nacional como monumento histórico.
O antigo terminal é, digamos, o coração do hotel, a sua área social, onde os espaços, sob as linhas curvas dos tectos de betão e as paredes de vidro, foram preservados na decoração original, incluindo o vermelho “inventado” para a companhia que se exibe ainda no lounge “afundado” no chão. Os 512 quartos alinham-se num edifício novo adjacente e apresentam-se com visual retro – desde as paredes com painéis de madeira, às cadeiras Womb desenhadas por Eero Saarinen, dos telefones com disco de marcação a bares de Martini personalizados e a toucadores ao estilo Hollywood (espelho delineado por lâmpadas redondas amarelas). Mas não faltam todas as comodidades modernas, sendo a mais evidente as paredes de vidro totalmente insonorizado que têm vista para as pistas – vêem-se os aviões, mas não se ouvem.
Da piscina, no topo do hotel, também se tem vista para a pista. Uma “piscina infinita" com a mais bela vista do mundo para os amantes de aviões e aeroportos. E num dos bares entra-se num antigo aparelho da companhia, Connie, um Lockheed Constellation que fazia serviço transatlântico e que para chegar aqui deu mesmo nas vistas, cruzando as ruas de Nova Iorque – o avião passou mesmo pela Times Square. Agora está transformado em cocktail lounge.
Ao todo, são oito os bares do TWA Hotel, complementados por seis restaurantes – e ainda um museu sobre a idade de ouro da aviação comercial. O preço de um quarto por noite começa em cerca de 200 euros