Activistas que interromperam António Costa admitem fazer mais acções
O grupo que interrompeu o primeiro-ministro inspirou-se no movimento Extinction Rebellion (Rebelião de Extinção), que defende acções de desobediência civil pacíficas.
Um dos coordenadores dos activistas do Extinction Rebellion Portugal admitiu esta terça-feira à Lusa que acções como a que interrompeu o discurso do primeiro-ministro, na segunda-feira, podem repetir-se “a qualquer momento”.
Em entrevista à agência Lusa, Sinan Eden explicou que o movimento internacional “é aberto e, por isso, quem se identifica com os princípios e reivindicações pode agir em nome do “Extinction Rebellion”.
Apesar de ser um dos coordenadores do movimento, Sinan Eden disse não ter “conhecimento dos próximos passos” dos activistas, alertando que “podem surgir espontaneamente a qualquer momento”.
“Uma rebelião internacional não-violenta contra os governos do mundo por causa da inacção criminal sobre a crise ecológica” é o que tem movido milhares de pessoas em todo o mundo, com destaque para o Reino Unido e a França. Portugal também aderiu ao movimento e participou na “Semana Internacional de Rebelião”.
O plano inicial era serem “sete dias, sete acções, sete temas”, mas a “Semana Internacional de Rebelião em Portugal” prolongou-se no tempo e nas iniciativas, contou Sinan Eden. O protesto com mais impacto mediático acabou por ser o de segunda-feira, um dia depois de terminada a “semana internacional”, que deveria ter ocorrido entre 15 e 21 de Abril.
Na segunda-feira à noite, o discurso de António Costa no jantar de aniversário do PS foi interrompido por um grupo de manifestantes que “bombardearam o primeiro-ministro com aviões de papel” para criticar a construção do aeroporto no Montijo.
O novo aeroporto já tinha sido motivo de uma outra acção na madrugada da passada quarta-feira, esta incluída na “semana internacional": Um cartaz do candidato do PS para as eleições europeias, Pedro Marques, foi vandalizado.
Houve um “embate frontal entre um avião de papel das forças da Rebelião de Extinção e um símbolo do Partido Socialista, que repousava num cartaz de propaganda eleitoral em plena Praça de Espanha”, contam os manifestantes na página.
“Partido Socialista — “Mais aviões, mais poluição e mortes certas” foi assim a quinta acção do movimento, que se focou no candidato Pedro Marques, “por ter assinado o novo contrato para o aeroporto do Montijo”, explicou Sinan Eden, um turco que, em 2011, veio para Portugal fazer um doutoramento em Matemática no Instituto Superior Técnico e acabou por ficar.
Até ao momento, realizaram-se dez acções directas não violentas que abordaram a energia, transportes, alimentação, decisões políticas, moda, plástico e resíduos, e greenwashing (apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações através de técnicas de marketing).
A “semana internacional” começou com duas acções: De manhã, um grupo de activistas montou uma rede de plástico à porta da Nestlé acusando a empresa da excessiva produção, uso e distribuição de plástico e à tarde outro grupo denunciou a cimeira European Climate Summit, que uniu empresas petrolíferas e o Governo português, segundo um relato do coordenador.
Também invadiram uma estação de televisão para “denunciar o silêncio cúmplice” da comunicação social: “O maior crime é a inacção por parte dos Governos e empresas”, alertou o Sinan Eden.
“A indústria da moda mata” foi outra das acções dos activistas que quiseram “celebrar o casamento entre a poluição e fast-fashion” para lembrar que esta é a segunda maior indústria poluente do mundo.
No 50.º aniversário da refinaria da Galp em Matosinhos, manifestantes mascarados de energias renováveis apareceram na festa e pediram a “reforma antecipada da refinaria”, contou Sinan.
Uma concentração pacífica e performativa no Porto, com os activistas a “morrer” em frente a um centro comercial para sensibilizar as pessoas para a necessidade da declaração de emergência climática e alertar para o consumo excessivo foi outra das iniciativas. A equipa coordenadora está agora a “fazer uma reflexão interna” mas admite que podem surgir protestos a qualquer momento e em qualquer lugar.
Sinan Eden acredita que o “movimento pela justiça climática está a crescer: O Extintion Rebellion está a crescer, a greve climática estudantil está a crescer”.