Número de vítimas no Sri Lanka continua a subir: 290 mortos e 500 feridos

Os fiéis preparavam-se para celebrar a Páscoa e os turistas começavam o pequeno-almoço — a vaga terrorista foi muito bem planeada e executada. Não foi reivindicada; seis pessoas foram detidas.

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Igreja atingida pelo ataque em Negombo,Igreja atingida pelo ataque em Negombo Reuters,Reuters
2019 bombardeios de Páscoa do Sri Lanka
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Batticaloa DINUKA LIYANAWATTE/Reuters
,Explosão
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Batticaloa DINUKA LIYANAWATTE/Reuters
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Shangri-La Hotel, em Colombo M.A. PUSHPA KUMARA/EPA
Sri Lanka
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Batticaloa LIYANAWATTE
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O que se sabe sobre os atentados:

  • O primeiro alerta foi dado às 8h45 (3h15 em Portugal continental);
  • Foram oito as explosões dos atentados, que ainda não foram reivindicados;
  • Três igrejas foram atacadas quando se preparavam para a celebração da Páscoa;
  • Os primeiros ataques tiveram lugar na Igreja de Santo António, na capital, Colombo, e na Igreja de S. Sebastião, na cidade de Negombo, nos arredores da capital. Pouco depois dos atentados nas igrejas, ambas católicas, as autoridades receberam o alerta de mais explosões em três hotéis (Shangri-La Colombo, Kingsbury Hotel e Cinnamon Grand Colombo) e numa igreja evangélica em Batticaloa, na Província Oriental. Horas depois, duas explosões atingiram um hotel junto do jardim zoológico de Dehiwala e uma zona residencial na área de Dematagoda;
  • 290 pessoas morreram e 500 ficaram feridas nos ataques deste domingo;
  • Já foram detidos 24 suspeitos; durante a noite de domingo foi detonado um engenho explosivo improvisado encontrado perto do aeroporto principal de Colombo;
  • As vítimas são de pelo menos 36 nacionalidades, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros cingalês. Há um português entre os mortos. O Governo português disponibilizou apoio à mulher da vítima portuguesa.
  • De acordo com o mais recente relatório de perícia forense, os atentados foram realizados por sete bombistas suicidas

Milhares de pessoas de Colombo, a capital do Sri Lanka, ofereceram-se para dar sangue este domingo. Usman Ali foi ao Centro de Dadores de Sangue para ajudar as vítimas do mais sangrento ataque desde o fim da guerra civil, há dez anos. Numa série de atentados concertados a três igrejas cristãs e quatro hotéis muito frequentados por turistas, morreram 207 pessoas, uma delas portuguesa, e mais de 400 ficaram feridas.

“Todos temos apenas um objectivo: ajudar as vítimas, tenham elas a religião ou a cor que tiverem”, disse Ali, que contou à BBC que lhe registaram o nome, contacto e grupo sanguíneo e mandaram-no embora — todos queriam ajudar e a oferta de sangue já excedia a necessidade.

“Eu só queria saber de onde veio este ataque. Que deus nos ajude”, disse o dador de sangue. 

A vaga terrorista não foi reivindicada. O Governo foi cauteloso e não fez acusações, divulgou apenas dados objectivos, por exemplo, que seis ou sete dos engenhos foram activados por bombistas suicidas. E ficou claro para todos que os ataques foram muito bem coordenados e igualmente bem executados, a partir das 8h30 da manhã (hora local), quando começavam as missas de Páscoa nas igrejas cristãs e quando nos hotéis já muitos hóspedes tomavam o pequeno-almoço. Foram ataques planeados para infligirem o máximo dano e criarem insegurança e medo — os analistas procuravam um padrão para arriscar atribuir uma autoria.

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Há dez dias, a polícia tinha entrado em alerta de terrorismo, após ter obtido a informação de que poderia estar a ser preparado um ataque “com características jihadistas” contra “importantes igrejas”, escreveu o jornal indiano Times of India. Foi apertada a vigilância ao Thowheed Jamaat, uma organização extremista islâmica fundada em 2004 em Tamil Nadu, na Índia. 

Este domingo, e sem dar quaisquer dados extras, a polícia anunciou ter detido seis pessoas.

“Pensava que a violência tinha ficado no nosso passado”, disse, também à BBC, Julian Emmanuel, um britânico de 48 anos que passou a juventude no Sri Lanka e voltou agora ao país de férias, com a mulher e os filhos.

A violência tem sido esporádica no Sri Lanka desde o fim da guerra civil, em 2009, quando os Tigre Tamil, que durante 26 anos lutaram pela independência, foram derrotados. Os relatos de conflitos entre cingaleses e população tamil (originária do Sul da Índia) datam de antes da colonização britânica, mas o conflito adensou-se neste período. Após a independência, em 1948, houve revoltas e, em 1983, eclodiu a guerra civil que matou entre 70 e 80 mil pessoas.

Nos últimos anos ocorreram atentados motivados pela religião neste país de maioria budista, com grupos radicais de nacionalistas cingaleses a atacarem mesquitas e lojas de muçulmanos. Em 2018, a violência contra a comunidade muçulmana na Província Central obrigou o Governo a declarar o estado de emergência.

A maioria cingalesa do Sri Lanka é budista (72% da população), os hindus formam 12,6% da população (os tamil são hindus) e 9,7% são muçulmanos (maioritariamente sunitas). 

Os cristãos são 7,4%, dividindo-se em católicos (6,1%) e evangélicos (1,3). Formam 1,5 milhões numa população de 21,44 milhões de pessoas, segundo o censo mais recente citado por jornais da Índia.

Duas igrejas católicas em Colombo foram os primeiros alvos: a de Santo António e a de S. Sebastião, onde morreram pelo menos 25 e 50 pessoas, respectivamente, segundo os dados da Igreja Católica local. 

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A Igreja de S. Sebastião publicou na sua página numa rede social imagens da destruição — que mostram sangue nos bancos e no chão — e um pedido de ajuda: “Houve um ataque à bomba na nossa Igreja, por favor venham ajudar-nos, se tiverem membros da vossa família aqui.”

Pouco depois, deram-se as explosões nos hotéis de Colombo Tropical Inn, Shangri-La, Kingsbury e Cinnamon Grand e numa igreja evangélica em Batticaloa, na outro lado do país, na Província Oriental (Colombo fica na Ocidental). Na igreja evangélica, morreram mais de 25 pessoas, segundo a Reuters e a AFP.

Segundo o Times of India, o terrorista que atacou o Cinnamon Grand Hotel estava registado como hóspede e foi visto a esperar pacientemente na fila para o buffet do pequeno-almoço, de prato na mão, antes de detonar os explosivos. O jornal diz que fez o check-in com o nome de Mohamed Azzam Mohamed. O jornal do Sri Lanka em língua inglesa Daily Mirror diz que o atentado no Shangri-La “está relacionado” com duas pessoas que deram entrada como hóspedes no sábado.

A polícia, por seu lado, só confirmou que encontrou uma carrinha usada nos ataques.

Entre os mortos há cidadãos de 36 nacionalidades, revelou também o Governo de Colombo. O português que morreu, Rui Lucas, estava alojado no Kingsbury (a sua mulher sobreviveu). O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, disse à Lusa que outros portugueses no país — residentes e turistas — estavam a salvo “destes acontecimentos tão horríveis e lamentáveis”.

Os ataques foram condenados em todo o mundo — Vladimir Putin, Rússia, Donald Trump, Estados Unidos, Emmanuel Macron, França,Theresa May, Reino Unido, Marcelo Rebelo de Sousa. “Não há lugar para este tipo de barbárie na nossa região”, disse o primeiro-ministro da vizinha Índia, Narendra Modi. “Quero expressar o meu afecto à comunidade cristã e a todas as vítimas desta violência cruel”, disse o Papa ao celebrar a missa da Páscoa na Praça de S. Pedro. 

O Conselho Muçulmano do Sri Lanka condenou o ataque aos “locais de culto dos irmãos e irmãs cristãos no seu dia sagrado da Páscoa”. Quanto ao Governo cingalês, pediu calma à população e declarou um recolher obrigatório, entre as 18h e as seis da manhã, por tempo indeterminado

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