Protestos contra Ortega fazem um ano e Governo proíbe marcha para os assinalar

Há um ano o regime reprimiu violentamente os protestos que exigiam a saída do Presidente do poder e eleições antecipadas.

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Apesar da proibição há protestos contra Ortega nas ruas OSWALDO RIVAS/Reuters

O Governo da Nicarágua proibiu a realização de uma manifestação que, nesta quarta-feira, pretendia assinalar um ano de protestos contra o regime do Presidente Daniel Ortega. Os protestos foram reprimidos e o país mergulhou numa grave crise política.

A coligação Unidade Nacional Azul e Branco (UNAB), que inclui 70 movimentos de oposição, pediu autorização para realizar a marcha, um ano após o início das primeiras manifestações, no dia 18 de Abril de 2018.

A polícia emitiu um comunicado a explicar que “não permitia a mobilização pública” organizada por “um grupo de pessoas” já “envolvidas em graves perturbações da ordem pública”.

A UNAB respondeu pedindo à população para desafiar a ordem da polícia e distribuiu cartazes onde se lê “A marcha está a decorrer”.

“Desde Abril do ano passado que o regime de Daniel Ortega mantém o país num Estado de Exceção e de ruptura da ordem constitucional”, considera a coligação de oposição.

“Tudo o que lhes resta é o monopólio da força, assim como o nepotismo e a corrupção”, disse Manuel Orozco, do think-tank Inter-American Dialogue, citado pelo Chanel News Asia.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a chilena Michelle Bachelet, pediu às autoridades para evitarem o uso excessivo da força. E lembrou, através de um comunicado, que “mais de 300 pessoas foram mortas, duas mil feridas, 62 mil pessoas saíram do país e várias centenas foram privadas de liberdade” durante a repressão em 2018.

Esta proibição “viola o exercício dos direitos constitucionais e o acordo” alcançado durante as conversações com o Governo, denunciou a advogada Azahalea Solis, que integra o movimento de oposição Aliança Cívica pela Justiça e Democracia da Nicarágua, que junta o sector privado, a sociedade civil, estudantes e camponeses.

A Nicarágua está imersa numa crise desde que, a 18 de Abril de 2018, uma controversa reforma da segurança social desencadeou uma onda de contestação popular a exigir a demissão de Daniel Ortega após quase 12 anos consecutivos no poder. Em Janeiro de 2014 a Assembleia Nacional aprovou uma alteração à Constituição que acabou com o limite de mandatos presidenciais, permitindo a Ortega candidatar-se a um terceiro mandato consecutivo.

O Governo só reconheceu a existência de 199 mortos e denunciou uma tentativa de golpe de Estado.