Pousadela, uma villa incrustada na natureza

Inspira-se, expira-se, olha-se em redor, volta-se a inspirar e a expirar – e depois deixa-se o Gerês fazer o seu trabalho. Num resort que convida à contemplação, rendemo-nos às evidências e saímos lá para fora. Mesmo à noite, numa varanda com vista para o silêncio.

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Nelson Garrido
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Chegamos numa tarde de Março a cheirar totalmente a Primavera. E a vista que temos para a serra Amarela e a do Gerês não podia ser melhor. Ou se calhar até podia.

Estacionamos o carro em frente à nossa casinha de pedra e olhamos em redor. Daquele miradouro ali em baixo o postal deve ser ainda mais perfeito. Descemos, sempre com os olhos postos no que temos à volta. Não é à toa que o slogan do Pousadela Village é among nature”. Estamos no meio da natureza, rodeados dela por todos os lados, e assim vai ser durante o fim-de-semana completo. Ainda ontem, diz-nos Carlos Brito, gerente deste resort que fica a minutos do único parque nacional do país, os garranos desceram a serra e passearam-se aqui mesmo. Se tivéssemos dúvidas, Carlos tem vídeos para mostrar no telemóvel. Será que teremos a mesma sorte?

Por agora, a sorte deixa-nos o miradouro livre: ninguém resiste às selfies e há pouco era um grupo de mulheres que captava o momento em todos os ângulos possíveis. Agora, com o spot só para nós, sentamo-nos para apreciar melhor a paisagem. Lá ao fundo, a água da albufeira da Caniçada corre serena, em volta os montes pintam-se de verde. Não ouvimos um carro e as vozes que enchiam o ar de conversas calaram-se. Sabe bem ouvir o silêncio.

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Deixamo-nos ficar por aqui uns bons minutos, mas Carlos está à nossa espera para nos mostrar os cantos à casa. Estamos a subir a ladeira íngreme enquanto ele nos conta que, antes do Pousadela Village, nada aqui existia. “Está a ver aquelas pedras?”. São enormes, empoleiram-se na paisagem num equilíbrio que nos parece precário. “Isto era assim.” No âmbito do projecto Pousadela, que pertence a dois sócios de Vieira do Minho, ergueram-se então 11 casas revestidas a granito e varandinhas de madeira, mais o edifício principal, onde estão a recepção, o spa, o bar e o restaurante Cávado. O resort abriu portas em Julho do ano passado, já com a operação Verão em velocidade de cruzeiro. Ainda assim, garante Carlos, a ocupação foi excelente, ao género “se mais casas houvesse, mais preenchidas seriam”.

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Cada uma das 11 casas recebeu o nome de lugares da freguesia de Louredo e homenageia uma arte ou ofício da vida portuguesa. Há a Casa da Formiga (linho), a Casa de Celo (pastorícia), a Casa do Covelo (azeite), a Casa do Cubo (moinhos). A que nos calhou em sorte, a Casa Fornelos, é dedicada à pesca e os detalhes notam-se na rede pendurada na parede, nos peixes de porcelana que decoram a casa de banho ou no tom azul-água do sofá. Tem dois quartos, sala e cozinha totalmente equipada, ideal para quem optar por estadias mais longas, mas o grande chamariz é mesmo a varanda de madeira com vista desafogada. Durante a tarde, ainda aproveitamos o sol que mais parece de Verão, mas a noite pôs-se bem fria e aconselha agasalhos – o que não impede uma conversa fora de portas, acompanhada de um copo de espumante já depois do jantar.

Nesta noite de sábado, no restaurante Cávado optamos por bacalhau à chefe e cabrito assado. Bom este último, mas o bacalhau, uma enorme posta suficiente para três pessoas, convence mais. Apresenta-se frito, acolitado por batatas igualmente fritas. De manhã, nesta mesma mesa, tomaremos o pequeno-almoço: esprememos as laranjas para o nosso próprio sumo, dispensamos os ovos mexidos mas não resistimos ao bolo. Vale que nos espera uma caminhada de uma hora.

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Miguel Faria, da Equidesafios, uma das empresas parceiras do Pousadela Village, apanha-nos pela manhã, que acordou radiosa. Vai levar-nos num passeio pela serra, mas antes paramos no Campo do Gerês (concelho de Terras de Bouro), onde está instalada uma das portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Vale a pena visitar, no primeiro andar, o Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, que retrata a vida naquela aldeia comunitária que acabou submersa pela construção da barragem, no final dos anos 1960. Igualmente imperdível é o Museu da Geira, inaugurado em 2013, e que aborda as técnicas de construção das vias romanas. A Via Nova, que se popularizou como geira romana, ligava Braga a Astorga, em Espanha, atravessando a montanha. O núcleo museológico permite saber mais sobre esta importante via, o que é útil sobretudo para quem quiser percorrer a pé parte deste caminho.

Pela parte que nos toca, estamos disponíveis para voltar e cumprir esta rota, mas, por agora, acompanhamos Miguel pelo trilho da águia do sarilhão. Não o fazemos na íntegra: não temos tempo para mais, pelo que andamos pouco mais de uma hora, dentro da paisagem, até chegarmos à margem da barragem de Vilarinho da Furna. Lá ao fundo, aponta Miguel, ziguezagueia um traçado da geira.

De volta ao jipe e à Pousadela, mas antes subimos à Portela do Homem: o dia de Primavera convida a piqueniques e até a mergulhos na cascata, mas isso é só para os bravos. Nós, os fracos, ficamo-nos pela promessa: para a próxima caminharemos pela geira e cairemos na água. Mas só se conseguirmos ver garranos.

A Fugas esteve alojada a convite do Pousadela Village

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