Um “leilão silencioso” e mais de 80 artistas para apoiar Moçambique
Artistas aderiram a iniciativa do espaço cultural Mira e doaram obras para serem leiloadas. No domingo, há arte, música e petiscos em Campanhã, no Porto. Fundos revertem para a AMI e a Cruz Vermelha
Teriam passado uns cinco dias da tragédia provocada pelo ciclone Idai quando o sentimento de “impotência” começou a assolar Manuela Matos Monteiro e João Lafuente. Em conversas com amigos e frequentadores do Mira, espaço cultural que abriram em Campanhã há cinco anos, foram partilhando angústias e trocando ideias: como poderiam, à distância, ajudar Moçambique? O plano de uma “acção colectiva” não demorou a surgir e a resposta dos artistas convocados foi para Manuela Matos Monteiro comovente: “A alegria com que disseram sim ao desafio foi impressionante.”
Em pouco tempo, juntaram-se obras de mais de 80 artistas de todo o país e organizaram um evento no Mira Fórum (número 155 da Rua de Miraflor). Este domingo, dia 14, um “leilão silencioso” vai angariar fundos para apoiar os moçambicanos atingidos pelo ciclone. Valter Hugo Mãe (no seu registo de artista plástico), Sebastião Resende, João Gesta, Teresa Dias Coelho, Alfredo Cunha, Violeta Santos Moura ou Regina Guimarães (a obra foi feita de propósito para a iniciativa) são apenas alguns dos artistas que contribuíram para a causa.
A partir das 15 horas, haverá um convívio musical – com actuações de Ana Deus, José Valente, Jorge Queijo e o brasileiro Luca Argel – e ainda espaço de vinhos e petiscos. Todo o dinheiro angariado (a entrada tem um valor simbólico: cada um paga o que quiser) durante a tarde será doado à AMI e à Cruz Vermelha.
Cada uma das obras plásticas tem uma ficha onde se indica o valor de mercado e o valor da doação: os interessados devem deixar, por escrito, quanto estão dispostos a dar. No final, serão anunciados os “vencedores” desse “leilão silencioso”, podendo as obras não compradas ser posteriormente licitadas online, numa página do Facebook criada para isso.
“A calamidade provocada pela passagem do ciclone Idai em Moçambique tem consequências dramáticas na vida de milhares de moçambicanos”, lê-se na descrição do evento. Mas “as consequências mais mortíferas estão para vir”, com a previsível chegada da cólera e da malária. E, por isso, todo o apoio é preciso. Ainda que não seja em números que Manuela Matos Monteiro se baseie para fazer um balanço: “Esperamos ter muita gente no Mira. Mas a solidariedade mostrada pelos artistas já nos fez sentir que valeu a pena ter esta iniciativa.”