EUA ameaçam Europa com mais taxas alfandegárias
Casa Branca vira guerra comercial para a Europa e penaliza importações de aviões, vinhos, azeite e queijos europeus, em retaliação contra o que diz serem ajudas ilegais da UE à Airbus.
Desde aviões e helicópteros até queijos, azeite ou vinhos, são 11 mil milhões de dólares de importações provenientes da União Europeia (UE) que os Estados Unidos ameaçaram esta segunda-feira à noite penalizar com taxas alfandegárias mais elevadas, numa retaliação ao que Washington diz serem os apoios públicos ilegais dados pela Europa à construtora aeronáutica Airbus.
Na véspera de um encontro de alto nível em Bruxelas entre a União Europeia e a China em que o comércio internacional será o tema em destaque e com os mercados ainda à espera que EUA e China cheguem a um acordo que reduza o risco de uma guerra comercial, Donald Trump fez questão de baralhar as contas dos analistas, virando as atenções para uma nova frente de batalha. A administração norte-americana, através do seu representante para o comércio internacional, Robert Lighthizer, anunciou que irá dar início a um processo na Organização Mundial do Comércio contra a União Europeia de retaliação contra as ajudas públicas dadas à Airbus e que causaram “efeitos adversos aos Estados Unidos”. Foi desde logo identificada uma série de produtos, que constituem 11 mil milhões de dólares das importações norte-americanas provenientes da UE. Na lista estão bens relacionados com a indústria aeroespacial, como aviões, helicópteros e as suas componentes, mas também diversos produtos alimentares, incluindo vários tipos de vinhos, azeites e queijos.
As discussões entre os EUA e a UE no que diz respeito às ajudas à indústria aeroespacial duram já há 14 anos. Os EUA queixam-se dos subsídios concedidos pelos países europeus à Airbus e a UE responde com as suas próprias queixas relativamente a ajudas recebidas pela Boeing por via de benefícios fiscais nos EUA. Ambas as partes abriram processos na OMC, tendo-se vindo a assistir a longas e complexas discussões, sem que se tenha chegado a conclusões definitivas. Agora, anunciou Robert Lighthizer, “chegou o tempo da acção”.
O representante da Casa Branca para as negociações comerciais internacionais garantiu contudo que o objectivo dos EUA é “chegar a um acordo com a UE”, acabando “com todos os subsídios inconsistentes com as regras da OMC”. “Quando a UE acabar com estes subsídios, as taxas alfandegárias adicionais impostas podem ser levantadas”, afirmou.
Neste momento, a rivalidade Boeing-Airbus, que tem dominado este sector ao longo das últimas décadas, tem sido abalada pelas dificuldades vividas pela empresa norte-americana na sequência dos acidentes com o seu modelo Boeing 737 Max.
Este anúncio da Casa Branca vem também tornar ainda mais complexo o cenário a que se assiste neste momento nas negociações do comércio internacional. Para os EUA, a principal frente nesta guerra tem sido a China, onde depois de ambas as partes terem agravado as taxas alfandegárias de importações no valor de cerca de 300 mil milhões de euros, se procura agora chegar a um acordo, com os EUA a quererem que a China compre mais produtos norte-americanos e altere as suas práticas relativamente a subsídios estatais, protecção de propriedade intelectual e política cambial, por exemplo.
Esperava-se que, nesta fase, Washington optasse por ver a UE como um parceiro neste combate com a China, já que do lado europeu as críticas à política comercial chinesa são muito semelhantes e estarão em destaque na cimeira UE-China que se realiza esta terça-feira em Bruxelas.
As tácticas negociais de Trump, no entanto, são difíceis de antecipar e os EUA aparentemente optaram por virar as suas atenções precisamente para a Europa, que o presidente norte-americano já tinha no passado acusado de ter práticas comerciais injustas.
E, para além da ameaça de aumentos de taxas agora anunciada, mais poderá estar para vir. Donald Trump está neste momento a decidir, com base num relatório preparado pela sua administração, se irá impor taxas alfandegárias mais elevadas às importações de produtos da indústria automóvel, algo que afectaria de forma muito significativa a economia europeia, especialmente a alemã.