Obras na EN 125 não acabaram com os “buracos negros” e há falta de manutenção
A prometida réplica da “fonte de Boliqueime” – um dos ícones do “cavaquismo” na região- desapareceu do mapa de investimentos da empresa Infraestruturas de Portugal, e a variante norte à cidade de Loulé ficou a 1,7 quilómetros do ponto de conclusão previsto.
Num dos troços mais movimentados da Estrada Nacional 125 - entre Boliqueime e Vale da Venda, em Almancil -, a via, mesmo depois das obras de requalificação, continua a ser alvo de criticas. Falta de iluminação, bermas degradas e deficiente sinalização são alguns dos problemas apontados pelos autarcas, que acusam a concessionária Rotas do Algarve Litoral (RAL) de não cumprir com as suas obrigações. A assembleia Municipal de Loulé reúne-se esta sexta-feira em sessão extraordinária para debater um relatório das lacunas apresentado por cinco presidentes de junta de freguesia, todos eleitos pelo Partido Socialista.
Na freguesia de Almancil, reportou a autarquia, é “notória a falta de sinalização (horizontal e vertical), de abrigos para contentores de resíduos domésticos e bermas por desmatar e limpar”. O presidente da Assembleia Municipal, Adriano Pimpão, promoveu uma visita guiada aos “pontos negros” da via, acompanhado de uma delegação de representantes de todos os grupos da assembleia e de membros do executivo. No final, o autarca (ex-reitor da Universidade do Algarve), concluiu: “A história recente da EN 125 é um caso paradigmático, que demonstra o falhanço do modelo de gestão das infra-estruturas rodoviárias”.
Para Adriano Pimpão, o Estado, “através dos sucessivos governos, criou uma teia de concessões e subconcessões de tal forma que não se sabe quem é o responsável pela gestão e manutenção [da via]”, escreve no relatório a que o PÚBLICO teve acesso. O nó de Vale da Venda, prossegue, está sem iluminação e a zona do Troto encontra-se “com um piso em mau estado e outras anomalias, fruto das incongruências de gestão do concessionário e do subconcessionário”.
No que diz respeito à freguesia de Boliqueime, a via recebeu obras de requalificação, mas a prometida “replica da fonte” da localidade (símbolo do poder do “cavaquismo” na região) não foi ainda construída. A situação de indefinição na gestão e na falta de politicas de descentralização, diz o ex-reitor, “tem servido como álibi para a desculpa do não cumprimento das obrigações que cabem por lei às várias entidades oficiais com intervenção nesta via e áreas limítrofes”. A fonte, construída em 1967 - e que também foi conhecida por “Poço de Boliqueime”, no passado - desapareceu.
Mais recentemente, há cerca de três anos, quando as obras de requalificação da EN 125 foram retomadas, foi tudo arrasado para se construir no local uma rotunda. “Alegadamente a câmara teria, informalmente, comunicado à empresa concessionária que a obra não estava classificada – pelo menos foi essa a justificação que me foi dada”, declarou ao PÚBLICO Adriano Pimpão, lembrando que num espaço de seis quilómetros foram construídas cinco rotundas, mas continua a não existir a prometida réplica da fonte.
A norte da cidade de Loulé, a variante por onde circulam os camiões que transportam o lixo do litoral para o aterro sanitário da serra do Caldeirão, ficou a 1, 7 quilómetros de completar a ligação de Boliqueime a São Brás de Alportel e Tavira. E, mais perto do mar, na EN 396, a estrada que faz a ligação a Quarteira/ Vilamoura, é outro exemplo dos poderes, locais e central, de costas voltadas. Buracos no pavimento, e lombas causadas pelas raízes dos pinheiros estão na origem de constantes acidentes.
Há cerca de dois anos, quando foi inaugurada a Avenida Atlântico à entrada de Quarteira, a câmara apresentou um “estudo prévio” para dar continuidade à obra que se propunha fazer, desde que fosse feita a passagem da infra-estrutura para a responsabilidade autárquica. Ainda não aconteceu. “Não fazem, nem deixam fazer”, remata o presidente da junta de freguesia de Almancil, Joaquim Pinto, referindo-se à empresa Infra-estruturas de Portugal (IP).
O projecto de requalificação da EN 125 arrasta-se desde 2009, e já sofreu várias versões. De início, a via conhecida por “estrada da morte”, por causa do elevado número de sinistralidade, tinha uma variante em Albufeira, com ligação directa à A22. A obra ficou na fase da terraplanagem. Em Luz de Tavira, a prevista variante caiu do plano de investimentos. Resta a promessa de construção da variante à cidade de Olhão, com estudo de impacto ambiental aprovado.
Na zona de barlavento, o investimento limitou-se a um milhão de euros, para reparação de um vão da ponte sofre a ribeira do Almargem, que corria risco de derrocada e a repavimentação ligeira até Vila Real de Santo António. “Não estou satisfeito”, diz o presidente da Associação de Municípios de Algarve – Amal, Jorge Botelho, quando interpelado a comentar o que se está a passar no plano de obras públicas na região.