Má alimentação mata mais pessoas por ano do que fumar
Morrem 11 milhões de pessoas em todo o mundo por doenças crónicas relacionadas com a má alimentação, como as doenças cardiovasculares e a diabetes.
Seguir uma (má) dieta — isto é, uma dieta rica em sal e pobre em frutos secos e sementes — está a matar mais do que o tabaco ou a hipertensão. Onze milhões de pessoas morrem a cada ano em todo o mundo, vítimas de doenças crónicas como a diabetes tipo 2, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira na revista científica Lancet. A (má) alimentação é responsável por uma em cada cinco mortes evitáveis no mundo, um valor que corresponde a 22% das mortes de adultos em 2017. As doenças cardiovasculares foram a principal causa, seguidas do cancro e da diabetes tipo 2. Em comparação, o tabaco matou oito milhões de pessoas em todo o mundo e a pressão alta matou 10.4 milhões.
Este é o maior estudo aos efeitos da alimentação alguma vez feito e foi conduzido pelo Institute of Health Metrics and Evaluation, em Seattle, nos Estados Unidos. As conclusões fazem parte do relatório Global Burden of Disease (ou “O peso global da doença”, em português) e contou com financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates.
“As nossas conclusões mostram que uma má dieta é responsável por mais mortes do que qualquer outro risco em termos globais, incluindo o tabaco, sublinhando a necessidade urgente de melhorar as dietas de todas as nações”, escreveram os investigadores.
As dietas ricas em sal — que aumenta a tensão arterial e eleva o risco de ataques cardíacos e AVC — são das mais perigosas e causaram três milhões de mortes em 2017, seguidas das que contêm poucos cereais integrais (que provocam outros três milhões de mortes) e pouca fruta (dois milhões de mortes). Uma dieta pobre em frutos secos, sementes, vegetais, ómega 3 do marisco e peixe e fibra também é um factor de risco.
Quem se saiu melhor?
O estudo analisou 195 países, comparando os dados de 1990 com os de 2017. Os países com menos mortes devido a problemas causados pela má alimentação por cada 100 mil habitantes foram Israel (com 89 mortes por cada 100 mil), França, Espanha, Japão e Andorra.
Em Portugal, 119 pessoas em cada 100 mil morreram devido a problemas causados por uma dieta deficiente. Menos do que no Reino Unido, com 127 mortos registados em cada 100 mil, e do que nos Estados Unidos, 171 em cada 100 mil.
No extremo oposto, o Uzbequistão surge como o país onde mais pessoas morreram por problemas relacionados com a dieta (892 pessoas por cada 100 mil), seguido do Afeganistão, das Ilhas Marshall e da Papua Nova Guiné.
Os países que seguem a dieta mediterrânica, e por isso consomem mais fruta, vegetais, frutos secos e legumes, estão entre os países com as dietas mais saudáveis neste estudo — como Israel, Espanha ou o Líbano. O contrário acontece nos países da Sudeste Asiático e Ásia Central.
Mas há uma ressalva a fazer: “Nem todos os países [que seguem a dieta mediterrânica] têm um nível ideal de consumo de comida saudável”, explica Ashkan Afshin, o principal autor do estudo, ao jornal The Guardian. “Até em países que têm uma dieta mediterrânica, o consumo de outros factores nutricionais ainda não é o adequado.”
A carne vermelha processada e o excesso de açúcar “podem ser perigosos como mostramos antes, mas são desafios menores do que a falta de cereais integrais, fruta, frutos secos, sementes e vegetais”, disse Christopher Murray, director do Institute for Health Metrics and Evaluation à BBC.
Um dos elementos em falta na maioria das dietas de todo o mundo são sementes e frutos secos. De acordo com a professora Nita Forouhi, da Universidade de Cambridge, isso deve-se ao facto de serem vistos como algo “que faz engordar, apesar de terem gorduras boas”. Em declarações à BBC, a professora diz ainda que a maioria das pessoas não vê esses alimentos como “comida comum” e que outro grande problema — transversal a outros produtos saudáveis — é o “custo”.