“A NATO é mais forte desde que sou Presidente”, diz Trump a Stoltenberg

Secretário-geral da Aliança Atlântica pretende dar mais atenção à China, como quer o Presidente dos EUA. Quarta-feira fala no Congresso e quinta a Aliança Atlântica celebra 70 anos.

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Jens Stoltenberg e Donald Trump na Casa Branca JOSHUA ROBERTS/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos garantiu ontem que a sua acção e exigências ajudaram a reforçar o papel da Aliança Atlântica. “A NATO é mais forte desde que sou Presidente”, referiu Donald Trump, na Casa Branca, onde recebeu o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg.

Stoltenberg reconheceu que o facto de os aliados estarem a reforçar os seus orçamentos de defesa, como exigido pelos EUA, está a ajudar a organização “a cumprir melhor o seu papel”. O secretário-geral da NATO elogiou o “compromisso com a NATO” de Trump e referiu que “a mensagem clara” do chefe de Estado “está a colher os seus frutos”, com um maior investimento em defesa.

Apesar de criticar a Alemanha, por estar ainda longe de contribuir com os 2% do PIB em defesa como exigido, Trump falou num “progresso tremendo” nos gastos dos 28 países. “Quando cheguei, não era tão bom e agora estão a aproximar-se”, disse o Presidente dos EUA.

Trump elogiou Stoltenberg, como um “líder fantástico”, com quem “estabeleceu uma forte relação de trabalho” em dois anos e meio e que conseguiu fazer com que a contribuição dos outros membros aumentasse mais 64 mil milhões de dólares e vá a caminho de 100 mil milhões de dólares até ao final de 2020. O Presidente admitiu até a possibilidade de mudar esse patamar dos 2% do PIB: “Se calhar, terá de aumentar”, afirmou.

A NATO chega aos 70 anos numa encruzilhada. Daí que o tom das comemorações do aniversário tenha menos pompa e circunstância que tiveram as festas dos 50 e dos 60 anos da Aliança, realizando-se sem a presença de chefes de Estado e de Governo.

“A força da NATO é a de que, apesar das nossas diferenças, sempre conseguimos unir-nos em torno dos assuntos fundamentais. Isto é, a protecção e a defesa uns dos outros”, referiu o secretário-geral antes de chegar aos EUA, onde os ministros dos Negócios Estrangeiros da organização se reúnem amanhã para assinalar os 70 anos.

Stoltenberg discursa hoje no Congresso dos EUA, numa rara sessão conjunta que é um sinal político de apoio à velha aliança transatlântica. Embora uma coisa seja o Congresso, outra bem diferente seja a Casa Branca. A hostilidade de Trump em relação à Aliança é sinal da sua desconfiança em relação ao multilateralismo, transformada na exigência de uma maior partilha do fardo financeiro.

“Isto não tem precedente. Estamos no 70.º aniversário e é a primeira vez que os aliados duvidam do compromisso do Presidente americano”, disse ao Washington Post Doug Lute, antigo embaixador dos EUA junto da organização. Stoltenberg mostrou vontade em alterar esse estado de coisas, demonstrando abertura para algumas exigências de Trump, nomeadamente no que diz respeito à monitorização das actividades da China, algo com o qual a organização não se tinha preocupado até agora.

“A ascensão da China também representa um desafio”, disse Stoltenberg no mês passado, na Conferência de Segurança de Munique. “Temos que entender melhor o tamanho e a escala de influência da China”, nomeadamente, no que diz respeito “à preocupação que muitos aliados expressaram sobre o crescente investimento da China em infra-estruturas fundamentais, como [a tecnologia] 5G”, e “o que isso significa para a nossa segurança”, referiu.

“Existe um novo entendimento de que, tal como a Rússia, a China está a procurar usar as transacções, o dinheiro, as finanças e o investimento como poder de influência na Europa”, explicou à Foreign Policy Rachel Ellehus, do Center for Strategic and International Studies.

Se China é tema novo, a Rússia é tema recorrente que voltará a estar no topo da agenda da reunião desta quinta-feira. Sete décadas depois, a organização criada para travar os avanços de Moscovo na Europa e no Atlântico prepara-se para entrar numa nova corrida armamentista.

“A Rússia continua a desafiar os nossos pedidos para voltar a cumprir o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio [INF]. E o tempo está a esgotar-se. Portanto, vamos discutir os próximos passos da NATO”, afirmou Stoltenberg sobre os objectivos da reunião em Washington. No seu discurso do mês passado, em Munique, o secretário-geral da Aliança referiu que os membros da organização irão gastar mais 100 mil milhões de dólares em defesa até ao final de 2020.

A declaração final da reunião dos ministros da Aliança Atlântica incluirá uma referência explícita ao tratado INF – que Washington denunciou no dia 1 de Fevereiro e Moscovo respondeu da mesma forma no dia a seguir – e qual será o caminho a seguir pela organização em relação ao desenvolvimento do seu arsenal nuclear.

Do que não se esperam grandes desenvolvimentos é do alargamento da NATO à Ucrânia. Stoltenberg disse na segunda-feira que a Aliança “reconhece as ambições” de Kiev, no entanto, falou na necessidade de modernização do país antes dessa entrada ser equacionada.

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