Uma doação para Arte Antiga enquanto Pimentel é ainda o director do museu

O príncipe Aga Khan esteve esta sexta-feira no MNAA para oficializar a doação de duas pinturas portuguesas do século XVII. O seu irmão, Amyn, fez questão de agradecer a Pimentel, que está de saída, os dez anos de trabalho à frente do museu.

Aga Khan IV (ao centro) entre o irmão, Amyn, e a ministra. Mais à direita o seu filho Hussain e, junto a ele, de pé, o director de Arte Antiga
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Aga Khan IV (ao centro) entre o irmão, Amyn, e a ministra. Mais à direita o seu filho Hussain e, junto a ele, de pé, o director de Arte Antiga Rui Gaudêncio
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Rui Gaudêncio
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O príncipe Aga Khan com a directora-geral do Património, Paula Silva Rui Gaudêncio
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O príncipe Aga Khan com a ministra da Cultura Rui Gaudêncio
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Virgem com o Menino e a Visão da Cruz (1695), de Bento Coelho da Silveira Rui Gaudêncio
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Repouso no Regresso do Egipto (1695), de Bento Coelho da Silveira Rui Gaudêncio

Foi à frente da pintura Adoração dos Magos (Roma, 1828), do português Domingos Sequeira, que o príncipe Aga Khan IV mais se demorou, ouvindo as explicações do director do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) sobre a “luz intensa” que irradia da obra. Estava escondida por camadas de verniz e foi preciso restaurá-la para que sobre o Menino Jesus ela voltasse a brilhar. Mas, primeiro, houve que comprá-la, algo que só foi possível depois de chegar a bom porto uma campanha pública de angariação de fundos em que participaram milhares de portugueses, empresas e instituições.

Estávamos em Abril de 2016 e a Fundação Aga Khan contribuía pela primeira vez para que uma obra entrasse nas colecções de Arte Antiga. Esta sexta-feira, e na presença do príncipe e líder espiritual dos milhões de ismaelitas espalhados pelo mundo, voltou a fazê-lo e em dose dupla, com a doação de duas pinturas de Bento Coelho da Silveira (1617-1708), pintor régio de D. Pedro II, que não estava ainda representado na colecção do museu. Desta vez, a contribuição para o enriquecimento do acervo do museu é feita em nome do Imamat Ismaili, que inaugurará em Lisboa a sua sede mundial.

Repouso no Regresso do Egipto e Virgem com o Menino e a Visão da Cruz, ambas de 1695, são duas telas de grandes dimensões do pintor português que mais produziu para espaços religiosos na segunda metade do século XVII e vêm precisamente do recheio do Palacete Mendonça, que servirá de casa a esta organização que representa a comunidade ismaelita e cujas obras de renovação mereceram já contestação. Uma terceira obra, a Apresentação da Virgem no Templo, ficará posteriormente no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

António Filipe Pimentel, historiador que está a dois meses de deixar o cargo de director do MNAA, que ocupou nos últimos dez anos, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, agradeceram a doação e insistiram na manutenção de laços duradouros entre o país e esta minoria muçulmana xiita. Aga Khan IV não discursou, deixando ao seu irmão, o príncipe Amyn, a tarefa de falar em nome dos doadores. Amyn, mecenas cultural há muito ligado ao património, começou por agradecer a Pimentel, “um amigo”, e à sua equipa o “excelente trabalho” realizado na última década e, falando da campanha que envolveu a Adoração dos Magos, terminou dizendo que começa a notar-se em Portugal um apoio dos cidadãos à cultura.

Pelo meio, e num momento em que o director do MNAA está quase de saída, depois de passar meses a contestar publicamente a proposta da nova lei para a autonomia dos museus que Graça Fonseca acaba de dar por concluída, o príncipe Amyn disse ainda: “Quisemos que esta doação fosse feita com este director presente.”

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