Solskjaer, um herdeiro directo na linhagem de Alex Ferguson
Convencido pelo que tem feito nos últimos meses, o Manchester United promoveu o interino norueguês a definitivo e deu-lhe um contrato de três anos.
Alex Ferguson parecia adivinhar que Ole Gunnar Solskjaer iria dar treinador. “No banco, durante os jogos, ou nos treinos, ele estava sempre a tirar notas. Quando entrava no jogo, já tinha analisado os seus adversários […]. O jogo aparecia-lhe à frente como um diagrama e ele sabia onde estar e quando estar”, contava Ferguson na autobiografia sobre o avançado norueguês que lhe daria, enquanto treinador do Manchester United, o triunfo na final da Liga dos Campeões de 1999. O maior elogio que se pode fazer a Solskjaer neste seu regresso como treinador a Old Trafford é que soube exactamente o que tinha de fazer. E foi por isso que o Manchester United o promoveu de interino a definitivo, dando-lhe um contrato de três temporadas com a missão de devolver os “red devils” ao topo.
O que o United tinha classificado de “exaustivo processo de recrutamento” após o despedimento de José Mourinho acabou por conduzir a Solskjaer, depois de se ter falado de Mauricio Pochettino, Zinedine Zidane, Diego Simeone, Antonio Conte, Carlo Ancelotti ou Massimiliano Allegri. E tem tudo a ver com os resultados que o norueguês conseguiu desde Dezembro até agora - 14 vitórias, dois empates e três derrotas – e que provam que havia uma equipa de futebol no meio dos escombros do pós-Mourinho.
Aquilo que parecia ser mais uma época perdida, é agora uma época que ainda pode ser de conquistas. Já é demasiado tarde para se falar em candidatura ao título e a Taça de Inglaterra está fora de hipótese, mas o United pode ainda chegar aos três primeiros lugares da Premier League e está nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, onde terá o Barcelona pela frente. “As pessoas falam do emprego de sonho. No meu caso este é, literalmente, o meu. Sempre me vi como um possível treinador do Manchester United. Talvez fosse um sonho ingénuo, mas era o meu maior objectivo e agora sinto-me honrado e um privilegiado”, comentou o norueguês na conferência de imprensa em que foi anunciado o seu vínculo prolongado aos “red devils”.
Os números de Solskjaer desde que regressou ao United, no Natal do ano passado, estão directamente relacionados com o rendimento que conseguiu extrair de jogadores como Paul Pogba, Romelu Lukaku ou Marcus Rashford, secundarizados nos meses finais de Mourinho em Old Trafford. O norueguês não se podia dar ao luxo de ignorar os dois jogadores mais caros da história do clube (Pogba e Lukaku) e o mais promissor formando da academia do United (Rashford). E a recuperação destes três terá sido, talvez, o seu maior triunfo. Pogba, então, tem estado irreconhecível, para melhor: em 17 jogos com Solskjaer, já leva nove golos e sete assistências.
O grande salto
Ser treinador do Manchester United é um enorme salto na carreira deste norueguês de 46 anos. Começou nas reservas do Manchester United e de lá saltou para o Molde, clube que representou como jogador, e onde foi duas vezes campeão da Noruega. Esse êxito levou-o a uma primeira experiência (fracassada) na Premier League com o Cardiff, regressando época e meia depois ao Molde, onde o United o foi buscar para fazer o que restava da época.
Não era “o escolhido”, como foi David Moyes, nem tinha o currículo de Van Gaal e Mourinho, mas tinha o DNA do United pelos 11 anos que passara ao lado de Ferguson em que conquistou 16 títulos, incluindo sete de campeão da Premier League e a tal Liga dos Campeões de 1999 que saiu directamente do seu pé direito na área do Bayern Munique, após canto de Beckham. Será, no fundo, o que o United espera dele como treinador: que lance uma nova época de domínio do United num futebol inglês cada vez mais congestionado no topo.
Ninguém espera que Solskjaer ganhe este ano a Liga dos Campeões, mas quem está à frente do United espera que nos próximos três anos seja possível reproduzir aquilo que aconteceu em Paris, com a reviravolta impossível frente ao PSG na segunda mão dos oitatvos-de-final da Liga dos Campeões. Só que o crédito dessa vitória, no Parque dos Príncipes, vai acabar no final desta época. A cobrança e a expectativa vão aumentar muito a partir da próxima e o norueguês, habituado a ganhar nos seus tempos de jogador, sabe bem qual é a fasquia: “Tenho a consciência de que o United precisa de ganhar títulos e ter sucesso, mas não posso prometer nada de um dia para o outro. É preciso ir melhorando passo a passo e não vou fazer mudanças radicais.”