Bruxelas está preparada para saída desordenada do Reino Unido

Essa perspectiva é “cada vez mais provável”, diz a Comissão Europeia. Em caso de ausência de acordo, o Reino Unido tornar-se-á um país terceiro, sem qualquer regime transitório.

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Reuters

A Comissão Europeia concluiu esta segunda-feira os preparativos para um cenário de saída desordenada do Reino Unido da União Europeia (UE), visto que, segundo Bruxelas, essa perspectiva é “cada vez mais provável”.

“Visto que é cada vez mais provável que o Reino Unido saia da União Europeia sem um acordo em 12 de Abril, a Comissão Europeia concluiu esta segunda-feira os seus preparativos para esse cenário”, anunciou o executivo comunitário, em comunicado.

Paralelamente, a Comissão continua a acompanhar os preparativos a nível das administrações e insta todos os cidadãos e empresas da UE a informarem-se sobre as consequências de um eventual cenário de ausência de acordo e a concluírem os seus preparativos para esta eventualidade.

“Embora o cenário de ausência de acordo não seja desejável, a UE está preparada para lhe fazer face”, ressalva a nota.

O Conselho Europeu concordou na quinta-feira com uma extensão do Artigo 50.º até 22 de Maio, desde que o acordo de saída seja aprovado pela Câmara dos Comuns até sexta-feira.

Se tal não acontecer, a UE a 27 estipulou uma prorrogação até 12 de Abril e disse que esperava que o Reino Unido indicasse um caminho a seguir antes dessa data para a consideração dos líderes europeus.

“Embora a UE continue a esperar que tal não aconteça, se o Acordo de Saída não for ratificado até sexta-feira, 29 de Março, o cenário de ausência de acordo poderá concretizar-se em 12 de Abril. A UE preparou-se para este cenário e manteve-se unida durante todos os seus preparativos. É crucial que todos estejam cientes e preparados para as consequências práticas que a ausência de acordo implica”, insiste Bruxelas.

Em caso de ausência de acordo, o Reino Unido tornar-se-á um país terceiro, sem qualquer regime transitório, lembra o executivo comunitário, indicando que todo “o direito primário e secundário da UE deixará de ser aplicável ao Reino Unido a partir desse momento” e que o período de transição previsto no Acordo de Saída não terá lugar, “o que implicará perturbações significativas para os cidadãos e para as empresas”.

Num tal cenário, as relações do Reino Unido com a UE serão regidas pelo direito internacional público geral, incluindo as regras da Organização Mundial do Comércio, e a UE será obrigada a aplicar de imediato as suas regras e tarifas nas fronteiras com o Reino Unido, “incluindo verificações e controlos aduaneiros, sanitários e fitossanitários e a verificação da conformidade com as normas da UE”.

“Não obstante os consideráveis preparativos das autoridades aduaneiras dos Estados-Membros, estes controlos poderão causar atrasos significativos na fronteira”, alerta.

Bruxelas recorda ainda que as entidades do Reino Unido deixarão também de ser elegíveis para receber subvenções da UE e participar nos procedimentos de adjudicação de contratos da UE segundo os termos actuais e que, do mesmo modo, os cidadãos do Reino Unido deixarão de ser cidadãos do bloco comunitário e serão objecto de controlos adicionais aquando da passagem das fronteiras para a UE.

“Como referido, os Estados-Membros efectuaram preparativos consideráveis a nível dos portos e aeroportos para assegurar que esses controlos são efectuados de forma tão eficiente quanto possível. Ainda assim, poderão verificar-se atrasos”, assume Bruxelas.

Até à data, a Comissão Europeia apresentou 19 propostas legislativas, das quais 17 foram adoptadas ou acordadas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, e publicou 90 notas sectoriais específicas sobre os preparativos para o “Brexit”, que fornecem orientações pormenorizadas para os diferentes sectores afectados pela saída do Reino Unido da UE.