Eléctricas prolongam funcionamento da central de Almaraz até 2028, Zero protesta
O acordo entre a Iberdrola, a Endesa e a Naturgy prevê um investimento de 400 a 600 milhões de euros. Associação ambientalista portuguesa avisa que a eventual extensão da actividade da central nuclear pode ter consequências graves para Portugal.
O Governo português deve, desde já, protestar contra a possibilidade de a central nuclear de Almaraz prolongar a sua actividade por mais quatro anos, defende o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, que avisa que a extensão da licença de exploração - esta sexta-feira decidida pelas empresas proprietárias da central - aumenta o risco de ocorrer um acidente grave. Almaraz situa-se a cerca de 100 km de Portugal, numa das margens do rio Tejo.
As empresas eléctricas espanholas que são proprietárias da central nuclear de Almaraz chegaram a acordo para pedir a renovação da licença de exploração de forma a prolongar a vida útil de dois reactores da central até 2027 (reactor I) e 2028 (reactor II), segundo noticiou esta sexta-feira o jornal espanhol El País. Francisco Ferreira diz que as proprietárias da central nuclear vão ter que apresentar esta proposta ao Governo espanhol, que “ainda não decidiu sobre esta matéria”, mas considera que estender a data de encerramento quatro anos além do previsto será “dramático” e pede ao Governo português que tome uma atitude. “Está tudo obsoleto”, frisa.
O entendimento esta sexta-feira obtido veio pôr fim ao conflito entre as empresas parceiras que se arrastava há vários meses. O compromisso entre a Iberdrola (que controla 53%), a Endesa (36%) e a Naturgy (11%) para explorar a fábrica deverá obrigar a um investimento para a manutenção que oscila entre 400 a 600 milhões de euros. O acordo respeita o protocolo assinado com a Enresa, empresa responsável pela gestão dos resíduos radioactivos, que conta encerrar todas as centrais nucleares espanholas entre 2025 e 2035.
“A Central Nuclear de Almaraz é actualmente a mais antiga a funcionar em Espanha, a pouco mais de 100 quilómetros da fronteira com Portugal, tendo o seu período de vida útil de 30 anos (que terminava em 2011) sido prolongado”, recorda a Zero em comunicado. Sublinhando que a produção de electricidade a partir de centrais nucleares “é considerada insustentável pelos riscos que acarreta”, a associação nota que “os danos associados a uma fuga radioactiva, seja para a atmosfera, seja para as águas do Tejo, podem ser muito significativos” e lembra que Almaraz já tem sofrido “vários incidentes de segurança”, ainda que sem gravidade.
A Zero acentua ainda que o Governo espanhol aprovou recentemente o calendário de encerramento de todas as centrais espanholas até 2035, devendo a de Almaraz ser encerrada em 2024 (em 2013 o reactor I e em 2024 o reactor II), “data para além do desejado e justificado pelas associações ambientalistas”. Pede assim ao Governo português que manifeste “a sua discordância”.
Porém, apesar de o executivo já ter manifestado o seu desagrado com a produção de electricidade através da energia nuclear, Lisboa defende que Madrid é soberana para decidir a forma de produzir energia eléctrica no seu país.