PAN pede suspensão da caça à rola-comum até que a espécie se regenere

Apesar da redução do limite de rolas que cada caçador pode caçar, a população desta ave diminuiu cerca de 80% desde 1994. O PAN já tentou, sem sucesso, suspender a sua caça durante três anos para permitir a regeneração.

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Período de caça à rola sobrepõe-se ao seu período reprodutor RITA CHANTRE / PUBLICO

Só no ano passado, em apenas seis semanas, foram caçadas pelo menos 45.915 rolas comuns, de acordo com os dados do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. O limite diário de abate permitido por caçador, que para a época venatória de 2019 se mantém nas quatro peças, tem vindo a baixar nos últimos anos, fruto do reconhecimento de que esta espécie não está a conseguir regenerar-se ao ritmo do abate. Na época de 2015/16 era permitido a cada caçador caçar seis exemplares por dia, na seguinte baixou para cinco, e em 2018 o limite ficou fixado em quatro.

Essa falta de renovação levou o deputado do PAN – Pessoas-Animais-Natureza, a entregar na passada semana no Parlamento um projecto de resolução em que se recomenda ao Governo que seja instituído um regime de moratória para a caça da rola-comum “até que se garanta que a população se encontra estabilizada e que não apresente estatuto de ameaça no que diz respeito à conservação da espécie”.

Não é a primeira vez que André Silva faz esta proposta, mas agora sem impor qualquer prazo para a moratória. A anterior, de 2017, que pedia a suspensão da caça à rola-comum e também ao coelho-bravo por três anos, acabou chumbada com o voto contra do PSD, CDS, PCP e dois deputados socialistas. O PS absteve-se e ao lado do PAN votaram o Bloco, o PEV e quatro deputados do PS.

Nesta época venatória e nas próximas duas (até 2021), a caça à rola-comum será permitida entre 19 de Agosto e 31 de Setembro e num máximo de quatro espécimes por dia por caçador. Só não será possível caçar nas zonas afectadas pelos grandes incêndios de 2017.

Na União Europeia, a rola-comum está na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como espécie classificada com o estatuto “vulnerável”. Estima-se que nos últimos 20 anos a população da rola-brava ou rola-comum se tenha reduzido em 73% na Europa, chegando em Portugal mesmo a um decréscimo de 80% desde 1994 – segundo o estudo de uma tese de doutoramento em engenharia florestal e recursos naturais do ISA – Instituto Superior de Agronomia. A culpa, considera a IUCN e a Comissão Europeia, é da perda de habitat da ave (redução das zonas rurais e florestais), do uso indiscriminado de fitofarmacêuticos e da caça excessiva.

No caso português, a mesma tese de doutoramento especifica que o período de caça à rola se sobrepõe ao seu período reprodutor. Resultado: cerca de um terço das aves caçadas “são abatidas quando se encontram a nidificar, pondo em risco a sobrevivência da espécie”, argumenta o PAN.

André Silva salienta que a Comissão Europeia desenvolveu um plano de acção para a conservação da rola-comum em que recomenda às autoridades nacionais que implementem um regime de moratória temporário até que termine o desenvolvimento do modelo de gestão cinegética que permita a renovação da população da ave. Ou seja, nem a Comissão Europeia considera que a redução do limite de capturas seja suficiente para promover o aumento do número de rolas.

Em meados de Agosto, quando se inicia a chamada época de caça às espécies migradoras, além da rola podem começar a caçar-se também o pato-real, o galeirão, a galinha d’água, o pombo-da-rocha, o pombo-torcaz e o pombo-bravo, a pega-rabuda e a gralha preta. Segundo o ICNF, a ave mais caçada em Portugal na época 2017/18 foi o tordo (1,085 milhões de exemplares), seguida pelo pombo (150 mil), e a perdiz-vermelha (123 mil). Entre outras espécies, foram caçados 130 mil coelhos-bravos, 25.704 lebres e 23.208 javalis.

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