População declara guerra a dois sobreiros que "sujam" as campas no cemitério

População de Cortiçadas do Lavre/Montemor-o-Novo queixa-se que as árvores cobrem de folhas as campas do cemitério local que é para estar limpo “como uma casa alentejana”.

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Quando as folhas de dois sobreiros “sujam” as campas do cemitério de Cortiçadas do Lavre, o melhor é cortá-los, advogam os moradores, que criticam a Câmara de Montemor-o-Novo por não o ter feito quando procedeu, em 2016, a obras de ampliação do espaço.

Uma dessas moradoras explicou ao PÚBLICO que o problema está “nas raízes” das árvores que impedem os enterramentos, mas “os senhores do Ambiente não as deixam cortar”, critica, identificando-se apenas como a mulher de José António Ferreira. Diz não compreender porque deixaram os dois sobreiros na área ampliada do cemitério, frisando que a população “está muito interessada em que a câmara resolva o problema, cortando-os”.

Esta é também a reivindicação de Maria Dias Fernandes “para acabar com tanta murraça [sujidade] e tanta folha no cemitério”. O espaço “tem de estar sempre limpo e bem arrumado, como uma casa”, assinala a moradora, lembrando como “o asseio tem grande importância” para os residentes da freguesia. “Estamos no Alentejo”, sublinha.

No entanto, há quem desvalorize o transtorno que as árvores estarão a causar no cemitério, que foi construído em 1953, precisamente no interior de uma densa mancha de montado de sobro, num terreno doado pelos ascendentes da família de Paulo Jorge Assunção, que agora se insurge contra a pretensão dos moradores de Cortiçadas do Lavre que reclamam o corte dos sobreiros.

Na denúncia que apresentou à organização ambientalista Quercus, Paulo Assunção recorda que a Câmara de Montemor-o-Novo contactou a sua família para que esta vendesse uma pequena courela, necessária ao projecto de ampliação do cemitério. 

A possibilidade de, a curto prazo, o espaço poder vir a deixar de dar resposta às necessidades, impunha a sua ampliação, projecto que envolveu um investimento de cerca de 50.000 euros e permitiu que o cemitério da freguesia passasse a ter espaço disponível para mais 97 sepulturas. Por se tratar de uma obra de melhoramento necessária à população, Paulo Assunção adianta que a sua família “nem discutiu o preço do terreno”, mas propôs que se “preservasse um sobreiro muito bonito e imponente”, sugestão que o município acolheu.

O espaço foi alargado, mas, no seu interior, junto ao muro, permaneceu um sobreiro, frente a um outro que a autarquia também fez questão de manter numa courela vizinha, pertencente a um familiar de Maria Fernandes e que também foi vendida ao município. Os dois sobreiros são as únicas árvores no interior do cemitério, o que deverá ser uma raridade, ao tomarem o lugar que tradicionalmente é atribuído aos ciprestes. “O cemitério ficou original com aqueles ‘monumentos naturais’ a lembrarem a profunda ligação da memória dos mortos à terra e à tradição”, observa Paulo Assunção.

No entanto, numa visita recente ao local para fotografar o “seu” sobreiro, que pretendia candidatar ao concurso Tree of the Year de 2019, Paulo Assunção reparou que os dois exemplares estavam assinalados com uma cinta branca que prenuncia o seu abate. Rapidamente percebeu que já são “vários os interessados em concorrer ao abate dos sobreiros”, frisou, presumindo-se que o destino das árvores possa estar associado à produção de lenha ou de carvão.

“Para conseguirem convencer a presidente da câmara agitam o descontentamento da freguesia, com o pretexto de que as folhas caem nas campas, de que o espaço faz falta” para os enterramentos. Mas Paulo Assunção diz que “ainda há imenso espaço por ocupar e, no meio de um montado, há sempre folhas que o vento traz, o que nunca foi problema”.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos à Câmara de Montemor-o-Novo, mas foi comunicado que o município “não presta declarações sobre o assunto”.

Cortiçadas do Lavre tem uma cobertura florestal que supera os 86% da sua área territorial e é dominada por extensos montados de sobro. Tem quase um milhar de habitantes, maioritariamente idosa e um índice de envelhecimento dos mais elevados do Alentejo. A freguesia deve o seu nome às casas feitas de cortiça e terra construídas pelos primeiros moradores nos finais do século XVIII. Este tipo de construções usava pranchas e pedaços de cortiça, misturados com terra, na construção das paredes.

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