Morreu Keith Flint, punk, incendiário, vocalista dos The Prodigy

O músico de 49 anos suicidou-se, confirmou a banda inglesa com a qual se tornou num dos rostos da cena musical dos anos 1990.

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Keith Flint no palco do Nos Alive, em 2015 LUSA/JOSé SENA GOULAO
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Keith Flint no Gurten Festival, perto de Berna, Suíça, em 2005 REUTERS/Stefan Wermuth
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Keith Flint na gala dos MTV Europe Music Awards, em 1996 Reuters/Greg Bos,Reuters/Greg Bos
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Os The Prodigy no Isle of Wight Festival, em Newport, Inglaterra, 2006 Reuters/Alessia Pierdomenico
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Os The Prodigy no Isle of Wight Festival, em Newport, Inglaterra, 2006 Reuters/Alessia Pierdomenico

Keith Flint, vocalista dos The Prodigy, banda inglesa que injectou violência punk na música electrónica dançável e gerou êxitos como Firestarter e Breathe, morreu aos 49 anos. "Um front man espantoso, um verdadeiro original", como resumem os Chemical Brothers,​ Flint foi um dos rostos mais carismáticos da cena musical dos anos 1990 no Reino Unido e no mundo. A causa da sua morte, confirmou o teclista e fundador dos Prodigy Liam Howlett, foi suicídio.

"É com o mais profundo choque e a maior tristeza que confirmamos a morte do nosso irmão e melhor amigo Keith Flint. Um verdadeiro pioneiro, inovador e uma lenda. Vamos sentir a sua falta para sempre", lê-se numa mensagem na conta oficial dos The Prodigy no Twitter.

Flint foi encontrado morto em casa, em Dunmow, Essex, Inglaterra. “Nem acredito que estou a dizer isto, mas o nosso irmão Keith matou-se este fim-de-semana. Estou chocado, zangado como a merda, confuso e destroçado”, escreveu Liam Howlett no Instagram.

A polícia de Essex foi chamada à casa do músico às 8h40 desta segunda-feira e declarou no local a morte de Keith Flint – que um porta-voz indicou não estar a ser tratada como "suspeita".

Os Prodigy apareceram na cena rave underground no início dos anos 1990. Gradualmente, introduziram nessa corrente de raiz electrónica elementos do rock e do punk, o que lhes permitiu conquistar outros públicos e vender mais de 20 milhões de discos. Keith Flint começou como bailarino do grupo, mas acabaria por assumir o microfone – e logo com megasucessos como Firestarter. “Passei seis anos a expressar-me com o meu corpo, a gritar com o meu corpo”, disse à Rolling Stone em 1997 sobre os primeiros anos na banda como dançarino e agitador. “Queria que toda a gente soubesse que aquela era ‘a minha música’”, explicava sobre o seu entusiasmo ao dançar com os Prodigy. Depois, usava de facto as cordas vocais, o que considerava “só uma extensão disso”, da dança.

Com Flint e o rapper Maxim Reality como homens do leme ao comando das vozes, os Prodigy levaram a música de dança revoltada às tabelas de vendas, construindo um carisma que devia tanto aos temas abrasivos que editaram como à imagem herdeira do punk dos anos 1970/80 tal como reinventado pela geração de 90 – os piercings, as cristas, a atitude anti-sistema. Ao longo da sua carreira, tocaram géneros e subgéneros musicais como o big beat ou a rave, tendo produzido sete álbuns entre 1992 e 2018 – foi o seu terceiro longa-duração que encheu as pistas de dança e deu aos Prodigy reconhecimento mundial.

Se com o segundo registo, Music for the Jilted Generation (1994), já se tinham destacado com o single Voodoo people, seria com o seu sucessor, The Fat Of The Land (1997), que viriam a lançar alguns dos temas mais fortes da carreira dos Prodigy: Firestarter, que se tornou numa espécie de sinónimo da essência e da atitude do grupo, Breathe, – ambas com voz de Keith Flint – e depois a mais polémica Smack my bitch up, cujo vídeo foi criticado pela representação de violência sobre as mulheres, bem como pelo consumo de drogas e sexo explícito. 

O single Baby's Got a Temper, lançado em 2002 mas nunca editado no âmbito de um álbum, voltaria a tornar os Prodigy polémicos por ser um elogio do fármaco Rohypnol (nome comercial da substância activa flunitrazepam), um sedativo associado ao seu uso como uma “droga de violação”.

"Com a sua estética punk, de cabelo espetado, e olhar intenso, Flint tornou-se uma das figuras musicais mais icónicas do Reino Unido nos anos 1990", escreve agora o Guardian no seu obituário. “Éramos perigosos e excitantes! Mas agora não há ninguém que queira ser perigoso", recordava Flint em 2015 ao mesmo diário britânico, contrastando a atitude dos Prodigy com o panorama da música popular que observava duas décadas depois. 

"Um mestre de cerimónias monstruoso"

Nascido em Setembro de 1969, Keith Flint cresceu na zona leste de Londres. A sua ligação aos Prodigy começou antes de a própria banda aparecer, quando abordou o DJ e teclista Liam Howlett para lhe falar da sua música. Anos mais tarde, os Prodigy nasciam e a energia de Flint era trazida para o palco para dançar. Era também um apaixonado por motos e motociclismo e era mesmo proprietário de uma equipa e competia profissionalmente. Foi casado com a DJ Mayumi Kai e divorciou-se. Teve alguns projectos a solo, mas é como rosto dos Prodigy que é recordado.

As reacções à sua morte fluem desde a manhã nas redes sociais. "Tocámos muitas vezes com os Prodigy ao longo dos anos e sempre foram amigáveis e deram-nos o seu apoio. Ele era um front man espantoso, um verdadeiro original", escreveram Tom Rowlands e Ed Simons, ou seja os Chemical Brothers, no Twitter. O baixista dos Suede, Matt Osman, recorda como as duas bandas britânicas actuaram simultaneamente em vários festivais nos anos 1990. “Sempre adorei o momento em que aquele tipo calmo e falador nos bastidores saía para o palco e se transformavam numa espécie de mestre de cerimónias monstruoso. Se tocávamos num festival com os Prodigy, foda-se, tínhamos de estar ao mais alto nível.” 

Os Prodigy estrearam-se em Portugal em 1996, no festival Super Bock Super Rock, e actuaram no ano seguinte no festival Imperial ao Vivo, na Alfândega do Porto. Repetiriam a presença em festivais portugueses em 2005 novamente no Super Rock, no ano seguinte no Festival Sudoeste, em 2007 na edição portuguesa do festival Creamfields e em 2008 no Marés Vivas.

Subiram ao palco do festival de Paredes de Coura já em 2010 e mais recentemente, deram um concerto no Nos Alive, no Passeio Marítimo de Algés, aparição que Mário Lopes descrevia assim no PÚBLICO: "Olhamos para o palco e pouco conseguimos distinguir entre as 'flashadas' de luz. Olhamos para os ecrãs e também nada se distingue: a imagem vem num preto e branco em que surgem recortadas silhuetas vagas. Não vemos, mas ouvimos. O som frenético e diabólico de uma rave em roda livre, de um concerto punk apocalíptico, de um concerto rock (estão lá baixo, guitarra e bateria) que é também electrónica de sintetizadores sinistros e ritmos quebrados."​ 

Regressaram a Portugal no ano passado para actuar no North Music Festival, na Alfândega do Porto, tendo lançado em Novembro de 2018 No Tourists, o sétimo álbum de estúdio da sua carreira.

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