Palcos da semana
Os próximos dias trazem músicos solitários e óperas sobre solidão. Mas também contactos: com um mestre da dança, a lusofonia e o desconforto.
Música
Umas ao molhe
O festival Um ao Molhe torna a espalhar pelo país uma série de espectáculos que tomam o pulso às one man bands a funcionar em Portugal. Ou, no caso do primeiro concerto, one woman bands, cortesia do Dia Internacional da Mulher. O momento é para ouvir o Colo de voz, ruídos, textos e imagens de Ana Deus, a ghost-folk de Calcutá (Teresa Castro) e o exotismo experimental de Surma (Débora Umbelino). Entre rock, electrónicas, improvisações e cantautorias, o festival só terminará a 13 de Abril, em Évora, depois de passar por 14 outros locais. Além das três, andarão na estrada os músicos solitários Luca Argel, O Manipulador, Jacketx, Nils Meisel, Flor, Gobi Bear, Mr. Gallini, Acid Acid, Joana Guerra, Francisco Oliveira, Helena Silva, Sal Grosso, Daily Misconceptions e Meta.
Ópera
No castelo e na voz, a solidão
Duas óperas para uma noite. Olga Roriz na encenação. A solidão como tema. Primeiro, O Castelo do Barba-Azul, com música de Béla Bartók, libreto de Béla Balázs e base no conto de Charles Perrault; depois, A Voz Humana, em que a música de Francis Poulenc se conjuga com o texto de Jean Cocteau numa tragédia lírica. Com Joana Carneiro na direcção musical e a Orquestra Sinfónica Portuguesa na interpretação, contam com um elenco vocal composto pelo baixo-barítono húngaro Marcell Bakonyi, a meio-soprano escocesa Allison Cook e a soprano franco-canadiana Alexandra Deshorties. E contam ainda com vídeo do artista João Pedro Fonseca (que, juntamente com Roriz e Cristina Piedade, também trata da concepção cenográfica) e figurinos do estilista Nuno Gama.
Ciclo
Contacto com Paxton
A 9 de Março, a Culturgest abre um ciclo dedicado a um dos mais influentes coreógrafos e bailarinos contemporâneos: Steve Paxton. Para começar, inaugura Esboços de Técnicas Interiores, uma exposição comissariada por Romain Bigé e João Fiadeiro, estudiosos da sua obra, que "desafia os visitantes a vaguearem pelo estúdio de dança, não apenas para ver dança mas principalmente para observar o movimento com os olhos de um bailarino". No mesmo dia, recebe o esloveno Jurij Konjar e sua reinterpretação de três peças históricas de Paxton: Flat, Satisfyin' Lover e Goldberg Variations. No dia seguinte, é o próprio Paxton quem se apresenta em conferência, numa oportunidade rara para escutar o vanguardista (e já octogenário) criador e investigador norte-americano que revolucionou a dança com técnicas como a de contacto-improvisação. Quatro conversas, três workshops, visitas guiadas e uma performance de Tiago Cadete completam o programa do ciclo, que se estende até 25 de Junho.
Teatro
Desconforto ao poder
O dramaturgo suíço Milo Rau regressa com mais uma peça-choque para romper tabus e causar desconforto – ele que esteve por cá, em 2017, com Five Easy Pieces, a história do pedófilo e assassino belga Marc Dutroux contada por crianças (e que tratou também acontecimentos como o julgamento de Nicolae Ceausescu, o genocídio no Ruanda, a I Guerra Mundial, a crise dos refugiados...). Lança-se agora a conceitos como voyeurismo, poder, sexo, violência, dignidade, normalidade. Baseou-se na obra do Marquês de Sade, inspirou-se na versão cinematográfica de Pasolini e desenvolveu a peça Os 120 Dias de Sodoma com a Theater Hora, companhia suíça de actores com Trissomia 21.
Festival
Ao mar da lusofonia
Nasce em Loulé Tanto Mar, um festival de artes performativas que pretende posicionar a cidade algarvia como "futuro centro das artes performativas dos países falantes de português". A associação Folha de Medronho, que o co-produz com a autarquia, abre o palco desta "edição zero" com um espectáculo conjunto com o Grupo do Teatro do Oprimido da Guiné-Bissau: uma adaptação teatral de Kangalutas, o novo romance de Abdulai Sila. Entram também em cena 2 Estranhos, da companhia cabo-verdiana CriArTeatro, com texto e encenação de Adilson Spínola. Evocando os Mortos - Poéticas da Experiência chega do Brasil pelas mãos de Tânia Farias e a Tribo de Atuadores Ói Nois Aqui Traveiz. Aos três espectáculos, o Tanto Mar junta conversas, animação-surpresa de rua, oficinas, exposição/venda de artesanato dos países participantes e uma jam session.