Financiamento de Vale do Lobo pela CGD não foi operação inédita, admitiu testemunha

Juiz de instrução quis perceber como funcionava concessão de crédito em 2006 e chamou director do departamento de risco da Caixa da altura.

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VASCO CELIO

A forma de financiamento do empreendimento turístico de Vale do Lobo pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) em 2006, com o banco público a entrar no negócio através da aquisição de 25% do capital do resort, não foi um negócio inédito na vida da instituição. Quem o disse esta quinta-feira foi aquele que era director do departamento de risco de crédito da Caixa à data do negócio, Vasco d'Orey.

O bancário foi chamado a depor no âmbito da Operação Marquês pelo juiz de instrução criminal Ivo Rosa, que o quis ouvir sobre a controversa operação, por causa da qual o ex-administrador da CGD Armando Vara é suspeito de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Para o Ministério Público, o antigo governante recebeu um milhão de euros como contrapartida de ter franqueado os cofres da Caixa aos promotores de Vale do Lobo - Diogo Gaspar Ferreira, Rui Horta e Costa e um grupo liderado por Helder Bataglia, todos também arguidos na Operação Marquês.

Além dos 28 milhões de euros que aplicou na sociedade accionista de Vale do Lobo, a Wolfpart, o banco público financiou outros accionistas que compraram também participações na mesma sociedade – primeiro com 197 milhões e depois com mais dois milhões. Vasco d’Orey negou a intervenção directa de Armando Vara na decisão do departamento de risco – que em relação ao primeiro crédito emitiu um parecer condicionado, não tendo, porém, sido consultado em relação aos dois milhões adicionais. No entender do bancário, esse aumento do financiamento devia igualmente ter sido submetido à avaliação do seu departamento, muito embora não se recorde se as normas em vigor a isso obrigavam. De mais a mais, admitiu, a autorização inicial já previa a possibilidade de a CGD emprestar mais dois milhões. Por outro lado, nem sempre o conselho alargado de crédito do banco seguia os pareceres emitidos pelos especialistas de risco.

Questionado pelo advogado de Diogo Gaspar Ferreira sobre outras sociedades de que o banco também se tornou accionista, como a dos sumos Compal, negócio que foi fechado mais ou menos na mesma época, Vasco d’Orey confirmou que os contornos da operação Vale de Lobo não foram, de facto, inéditos. No final de 2017 a Caixa vendeu os créditos que detinha sobre a sociedade em causa, por 222,9 milhões de euros, mas ficou com unidades de participação do fundo comprador. A operação é considerada ruinosa.

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