Depois do primeiro filho, há pais que enfrentam até seis anos de privação do sono

Num estudo agora publicado na revista Sleep descobriu-se que depois do nascimento do primeiro filho, os pais podem demorar até seis anos a recuperar a qualidade e as horas de sono que dormiam antes do parto.

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Para quem acaba de ter o primeiro filho, a privação do sono começa nos primeiros três meses após o parto, mas o problema não termina por aí. Um estudo de uma equipa internacional coordenada pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, publicado esta terça-feira pela revista científica Sleep, descobriu que os factores que impedem os novos pais de obter uma noite completa de sono podem durar até seis anos após o nascimento da criança. 

O estudo agora publicado teve como objectivo examinar as mudanças na qualidade do sono entre mães e pais, bem como analisar a duração do sono entre a pré-gravidez, gravidez e o período pós-parto e até um limite de seis anos após o nascimento.

Para a análise, contribuíram um total de 2541 mulheres e 2118 homens cujo primeiro, segundo ou terceiro filho tinha nascido há pouco tempo. Durante o período de observação, entre 2008 e 2015, os participantes (todos da Alemanha) foram questionados anualmente durante entrevistas presenciais sobre a qualidade do seu sono.

A equipa da Universidade de Warwick quis também determinar se e em que altura é que a satisfação e a duração do sono das mães e dos pais melhoraram. Depois disso, os investigadores examinaram a influência de algumas variáveis, fossem estas ​​sociodemográficas (a idade materna e paterna, a paridade, a renda familiar ou a posse de casa própria), relacionadas com as práticas de amamentação da criança ou mesmo factores ​​psicossociais (dupla parentalidade ou monoparentalidade).

O estudo concluiu que a satisfação e a duração do sono diminuíram acentuadamente com o nascimento e atingiram o seu mínimo durante os primeiros três meses após o parto. As mulheres foram as mais afectadas, mas em ambos os constituintes do casal verificou-se que tanto a satisfação como a duração do sono não se recuperaram totalmente, mesmo quando os seus filhos atingem a idade pré-escolar. 

Embora a duração do sono materno aumente ligeiramente durante a gravidez, nos primeiros três meses pós-parto as mães perdem, em média, uma hora de sono por noite. Embora esse tempo seja recuperado em parte (em média 40 minutos a mais) após um ano, a qualidade e duração do sono nunca voltam a ser as mesmas. Já os pais perderam apenas 13 minutos de sono por noite.

As mães que amamentam dormem menos? 

A amamentação foi também associada a uma ligeira diminuição na satisfação do sono materno: as mães que escolhem amamentar o seu filho reportam que isso influencia o seu sono, ao contrário daquelas que escolhem não o fazer. Os efeitos nas noites de sono são também mais evidentes nos pais pela primeira vez, em comparação com os pais mais experientes.

Depois do segundo e terceiro filhos, as mães dormem melhor, mas em termos de duração do ciclo de sono continuam a dormir o mesmo, independentemente de ser o primeiro, segundo ou terceiro filho. “O mais intrigante é que o nosso estudo é o primeiro a mostrar que a satisfação e a duração do sono das mães nunca mais são os mesmos e não voltam aos níveis da pré-gravidez”, pode ler-se no estudo agora publicado.

Por outro lado, as mudanças nos padrões do sono do pai são menos pronunciadas e atingem apenas cerca de um terço dos efeitos observados nas mães. Os investigadores acreditam que estes resultados podem estar associados ao facto de as mães, mesmo as que trabalham fora de casa, ainda terem mais responsabilidades na tarefas doméstica e na educação dos seus filhos do que a figura paterna.

“É possível que o aumento da agitação e do choro das crianças durante os seus primeiros três meses, juntamente com a dependência de alimentação durante a noite e cuidados frequentes durante esse período, sejam motivos importantes para o distúrbio do sono dos pais”, aponta o estudo. No caso da mãe, outras causas possíveis podem envolver dor física relacionada com o pós-parto. 

Os autores dos estudo afirmam que embora os distúrbios do sono tenham sido associados a desfechos difíceis no parto e ao prejuízo da saúde mental dos pais, estas alterações e seus efeitos continuam pouco documentados. “Identificar as tendências e os factores que levam às alterações do sono podem dar-nos a possibilidade de realizar intervenções que previnam ou melhorem os efeitos da gravidez e do parto no sono parental”, conclui o estudo. 

As noites mal dormidas já foram associadas várias vezes a consequências adversas para o ser humano como o risco de obesidade ou a uma maior probabilidade de vir a ter uma doença coronária. Recentemente, um grupo de investigadores portugueses encontrou uma ligação entre a apneia obstrutiva do sono e oito marcadores de envelhecimento celular, que, por sua vez, aumentam o risco de desenvolver várias doenças.

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