O povinho que vote
Os britânicos respondem muito mal ao paternalismo e à condescendência. Odeiam ser patronized. Um segundo referendo é inevitavelmente patronizing.
Com que então Jeremy Corbyn, depois de ter falado tanto na necessidade de respeitar o resultado do primeiro referendo - até porque sempre foi contra a entrada do Reino Unido na União Europeia - diz agora que é preciso um segundo referendo.
Mesmo quando já não podíamos ouvir falar do "Brexit" eis que surge a garantia que, graças a este segundo fôlego, não se vai falar de outra coisa.
Sou contra um segundo referendo - céus, até fui contra o primeiro. Eu gostava do Reino Unido na União Europeia e gostava da União Europeia com o Reino Unido porque gosto muito do Reino Unido e gosto muito da União Europeia.
Mas houve o referendo e a maioria quis sair da União Europeia. Eu cá queria que a maioria quisesse ficar - mas uma coisa é a minha vontade e outra a vontade do eleitorado britânico.
Há muitos remainers que querem o segundo referendo, não necessariamente porque pensam que desta vez vão ganhar. Tony Blair, por exemplo, prometeu deixar de protestar caso o eleitorado reitere o desejo de sair. Nesse caso, disse, ajudará a planear o "Brexit".
O meu temor é outro. É que o segundo referendo funcione como uma provocação ao eleitorado, do género "Olha, meu filho, portaste-te mal mas eu vou dar-te uma segunda oportunidade, que é para te portares como eu gosto, como estou farto de te ensinar".
Os britânicos respondem muito mal ao paternalismo e à condescendência. Odeiam ser patronized. Um segundo referendo é inevitavelmente patronizing, como é o soubriquet que lhe arranjaram: o People's Vote, com maiúsculas e tudo.